Sexta-feira, 13 de janeiro de 2017 Imagem: Wikipédia / Reprodução / Creative Commons Este é o Zé Povinho, personagem da literatura...
Sexta-feira, 13 de janeiro de 2017
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Este é o Zé Povinho, personagem da literatura portuguesa com alma de brasileiro. É um eterno conformista ante as injustiças, a corrupção e os problemas sociais |
Os anos se passaram, menos a certeza de impunidade entre os prejudicados. A grande maioria dos empregados não conseguiu receber até hoje os pagamentos e o 13º salário. Esse, por exemplo, é o caso da professora Vera Lúcia Câmara, de 62 anos. Ela trabalhou por mais de 20 anos no Colégio de Aplicação da UniverCidade, o Colégio Cidade, até o descredenciamento, mas saiu de lá com uma mão na frente e outra atrás. Até hoje não recebeu baixa em sua carteira de trabalho.
“O que [nós, professores] conseguimos ganhar foram ‘centavos’ do processo que eles (os gestores da UniverCidade) pagaram em atraso o 13º salário de 2011. Recebemos a correção num processo coletivo. Outro dia, 36 professores, que não haviam recebido nenhuma parcela do 13º salário de 2007, conseguiram a primeira parcela. Agora falta a segunda parcela para todos”, contou Vera Câmara ao OPINÓLOGO.
“Só recebi até agora os juros de R$ 96 do 13º salário de 2011 e a primeira parcela do 13º salário de 2007”, acrescentou a docente.
Salários pendentes de 2013, o 13º salário do mesmo ano, ademais o salário de janeiro de 2014, nunca foram pagos. E não há previsão.
“Aquele aumento de 2003 que eles (os gestores da UniverCidade) não pagaram, e conseguimos ganhar na Justiça, até agora nada!!!”, frisou a docente, em referência ao acordo coletivo daquele ano, quando então teriam começado os problemas na IES.
“Será que um dia iremos receber??? Se o governo descredenciou, ele teria que ter dado garantias aos professores e funcionários. As universidades que ficaram com os alunos não ficaram nem com um décimo dos professores da Assespa. E os do Colégio Cidade não tiveram garantia alguma de emprego”, criticou Vera Lúcia, numa clara referência aos editais do MEC para a transferência assistida dos alunos e que estabelecia a contratação de docentes.
A Assespa (Associação Educacional São Paulo Apóstolo) é a antiga mantenedora da UniverCidade, do empresário Ronald Levinsohn, antes de a mantença ter sido transferida para o nebuloso grupo Galileo Educacional em 2011.
A professora de Direito Regina Cavalcanti ingressou na UniverCidade em 2001, onde permaneceu até o descredenciamento. A baixa em sua carteira foi dada pela Justiça do Trabalho. Na teoria ela ganhou a causa contra a IES, mas na prática nunca logrou receber a grana devida.
“É uma vergonha que o nosso dinheiro esteja no pacote do Petros e do Postalis, e o Ronald Levinsohn saia impune!!! Ele continua na mesma vidinha. Ninguém recebeu. Eu não recebi até hoje a segunda parcela 13º salário de 2007. Eu tive ganho de causa e não consigo nada. O pior de tudo é a inércia dos professores, como sempre”, expressou Regina Cavalcanti a este jornalista.
Além de levar um calote, vários docentes e funcionários administrativos não conseguiram recolocação no mercado de trabalho. Um dos possíveis fatores é a idade, que se torna um grande empecilho.
Para diversos alunos, a vida acadêmica pós-descredenciamento também não foi nada fácil. Que o diga a ex-estudante do 10º período de Direito da Gama Filho Julie Ana Fernandes. Moradora de Japeri, município da Baixada Fluminense situado a 70 km da capital carioca, ela não conseguiu se transferir para a Estácio, por falta de documentação que comprovasse sua situação acadêmica. Com isso, perdeu a bolsa de estudos que recebeu do Programa Universidade para Todos (ProUni), e acabou recorrendo à Universidade Santa Úrsula (USU), mas soube que teria de voltar para o 7º período. Até hoje não terminou o curso.
“Quando eu estava seguindo para o 10º e último período, a faculdade foi descredenciada. Minhas notas do 9º período não foram lançadas e o site saiu do ar. O chão abriu e o céu caiu. Não consegui até hoje minha documentação original que entreguei a Gama Filho. Não consegui ingressar na Estácio, em razão do prazo para apresentar a documentação. Fui acolhida na Universidade Santa Úrsula, que prontamente recebeu muitos alunos. Porém, não poderiam conceder bolsas integrais. Meu currículo foi adaptado e teria que voltar para o 7º período. Fiquei profundamente frustrada. E agora, com a matrícula trancada na USU, me vejo com poucas esperanças de concluir a tão sonhada graduação e seguir uma carreira na área jurídica”, relatou Julie Ana.
Somente a UniverCidade cumpriu determinações do MEC, da Justiça e do Procon fluminense de entregar a documentação dos discentes. E isso durou até o início do ano passado. Já a Gama Filho, teoricamente gerida pelo mesmo grupo empresarial, virou as costas para eles.
O ex-aluno Rafael Flores estava no 9º período de Engenharia Mecânica da UGF, quando a IES foi descredenciada. Para conseguir se formar em 2015 pela Estácio, teve de estudar por mais dois períodos. Na época do descredenciamento, em 2014, os docentes da Gama Filho estavam em greve, decorrente de constantes atrasos salariais, e nem todas as notas foram lançadas no sistema. Na antiga instituição, faltavam apenas sete matérias para concluir a graduação, enquanto que na nova, 17.
“Diferente do que foi acordado, acrescentaram matérias na minha grade, prolongando minha formatura em um ano. Conversei pessoalmente com o coordenador do curso por várias vezes. Esperava por horas, às vezes até perdia o horário das aulas para conseguir falar com ele. Eu mandava e-mails, telefonava, a fim de buscar o cumprimento do que foi determinado pelo MEC. Mas, o próprio coordenador me disse: ‘você vai ter que fazer todas as matérias, pois é assim que fazemos aqui, e com vocês [ex-estudantes da Gama Filho] não será diferente’”, contou Rafael Flores, ao referir-se a uma das exigências dos editais de transferência assistida, que estabelecia que os discentes se formassem no mesmo tempo que se formariam nas antigas IES.
Para o ex-aluno de Odontologia da UGF Higor Tito, a vida acadêmica na Universidade Veiga de Almeida (UVA) não foi nada fácil. Após um suposto erro em sua grade, foi informado de que teria de cursar mais um semestre. Ele teve de recorrer à Justiça, porque sua banca de monografia foi destituída de última hora, em 2013, o que à época lhe pareceu uma represália por ele ter registrado boletim de ocorrência numa delegacia sobre uma suposta perseguição a ele. O caso foi narrado em primeira mão por OPINÓLOGO. Felizmente, ele conseguiu se formar e tem um futuro promissor.
Para o ex-aluno de Odontologia da UGF Higor Tito, a vida acadêmica na Universidade Veiga de Almeida (UVA) não foi nada fácil. Após um suposto erro em sua grade, foi informado de que teria de cursar mais um semestre. Ele teve de recorrer à Justiça, porque sua banca de monografia foi destituída de última hora, em 2013, o que à época lhe pareceu uma represália por ele ter registrado boletim de ocorrência numa delegacia sobre uma suposta perseguição a ele. O caso foi narrado em primeira mão por OPINÓLOGO. Felizmente, ele conseguiu se formar e tem um futuro promissor.
OPINÓLOGO entrou em contato com o Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região (Sinpro-Rio) para comentar o assunto, e foi orientado a conversar com o advogado Márcio Cordeiro. Ele explicou que os pagamentos que têm ocorrido, ainda de forma parcial ou com valores menores, são decorrentes de ações individuais e/ou coletivas de penhora movidas contra os antigos gestores da UniverCidade e da UGF, entre eles o ex-diretor operacional Wanderley Cantieri, em seu imóvel na Barra da Tijuca, de alguns membros da família Gama Filho, do empresário Ronald Levinsohn, em seus bens, incluindo sua mansão na Gávea, além de suas filhas.
O pagamento da primeira parcela do 13º salário de 2007 a 36 docentes da UniverCidade, no final de 2016, conforme descrito pela professora Vera Câmara, se deveu a uma ação de penhora contra Levinsohn que foi ingressada pelo sindicato.
Sabe-se que a atual gestão do grupo Galileo Educacional, gestor das extintas IES, cujo acionista majoritário é o empresário e pastor Adenor dos Santos, tenta judicialmente que a cifra de R$ 1,35 bilhão seja repassada para o grupo, alegando que seria utilizada para quitar o passivo trabalhista. A grana foi bloqueada na operação Recomeço, em junho do ano passado, para indenizar os fundos de pensão Postalis (dos Correios) e Petros (da Petrobras), que se deram mal ao adquirir debêntures emitidas pela mantenedora entre 2010 e 2011 e que tiveram como garantia as mensalidades do curso de Medicina da Gama Filho.
A propósito: durante a operação Recomeço, este jornalista informou que o empresário Ronald Levinsohn tinha sido preso, conforme dito pelo Ministério Público Federal (MPF) em sua página. É a reportagem mais lida e mais comemorada pelo corpo acadêmico durante os 7 anos de existência do blog. No entanto, o jornalismo independente de OPINÓLOGO foi informado de que ele realmente recebeu uma ordem de prisão, mas para evitá-la pagou fiança. O valor estipulado para que pudesse responder em liberdade às acusações era de R$ 8,8 milhões, dinheiro que daria para quitar parte dos pagamentos e/ou indenizações a seus ex-empregados.
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