Segunda-feira, 14 de setembro de 2015 Colômbia acusa militares venezuelanos de terem sobrevoado seu espaço aéreo sem permissão Em e...
Segunda-feira, 14 de setembro de 2015
Colômbia acusa militares venezuelanos de terem sobrevoado seu espaço aéreo sem permissão
Em entrevista à rádio colombiana ‘RCN’ no último fim de semana, o diretor da ONG Human Rights Watch (HRW) para as Américas, José Miguel Vivanco, acusou o governo venezuelano de, supostamente, arquitetar a crise na fronteira com a Colômbia para criar distração popular e justificar atitudes nacionalistas. “(...) É evidente que se trata de uma crise manufaturada, pré-fabricada, em Caracas (...)”, afirmou.
A tese de distração se deve ao fato de que a Venezuela realizará eleições parlamentares no próximo dia 6 de dezembro, e impede que seja acompanhada por observadores internacionais, tanto da Organização dos Estados Americanos (OEA) quanto da União Europeia, por exemplo, sob a desculpa de que é ‘soberana’.
Existem outros aspectos a serem analisados, tais como:
1) a sentença judicial de mais de 13 anos de prisão ao opositor político Leopoldo López, ex-prefeito de Chacao, na semana passada, criticada por autoridades estadunidenses e da União Europeia. “Se a sentença for condenatória, a senhora terá mais medo de pronunciá-la do que eu de escutá-la, porque sabe que sou inocente”, manifestou López momentos antes de ouvir a pena à juíza Susana Barreiros. Ele foi processado por supostos terrorismo, dano ao patrimônio público, entre outros delitos, por conta de um protesto antigoverno no qual participou, em fevereiro de 2014, e que resultou em 43 mortos e mais de 1.400 feridos. O governo chileno apelou para que a justiça bolivariana garantisse ao réu o direito à defesa, mas foi criticado pela ministra de Relações Exteriores da Venezuela, Delcy Rodríguez, por ‘intrometer-se nos assuntos internos’ de seu país.
2) ofuscar a grave crise que o país vive com vieses político, moral e econômico. Neste último, por exemplo, com a escassez de 75% de alimentos, de papel higiênico e de medicamentos, ademais a inflação anual em mais de 60%.
3) a recente publicação da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que determinou que o sinal do canal venezuelano ‘RCTV’ fosse restabelecido. A emissora não teve sua concessão renovada em maio 2007 ainda durante o governo de Hugo Chávez. Além disso, teve seus bens e equipamentos tomados pelo governo. A ‘RCTV’ fazia oposição direta ao chavismo. Pela tangente, a televisora tentou a sobrevivência como canal internacional, mas foi impedida também pelo ente regulador das comunicações, que alegou que ela produzia mais de 63% de programação nacional e, portanto, era considerada nacional. A corte só pôde julgar o caso, porque entendeu que o incidente ocorreu antes de a Venezuela denunciá-la, isto é, antes de anunciar sua retirada à entidade. Na época, a corte tinha jurisdição sobre a nação sul-americana. É mais que provável que o governo não acate a medida. Da mesma forma como descumpriu determinação das Nações Unidas para que libertasse Leopoldo López há um ano por sua prisão conter irregularidades jurídicas.
4) o fato de que integrantes chavistas são investigados nos Estados Unidos por supostos nexos com carteis de drogas, como o presidente da Assembleia Nacional, deputado Diosdado Cabello, o número dois do chavismo.
Entenda a crise
Desde o mês passado, milhares de colombianos já foram deportados pelas autoridades bolivarianas. Caracas justificou a medida por conta de um ataque a três policiais e um civil, no qual o governo atribuiu à suposta presença de paramilitares colombianos em solo venezuelano. O incidente gerou um atrito diplomático entre as duas nações, que convocaram seus embaixadores para consultas.
Aviões militares
Para completar, o Ministério da Defesa da Colômbia informou que, na tarde do último sábado (12/9), duas aeronaves militares da Venezuela sobrevoaram seu espaço aéreo sem permissão. “(...) O sistema de defesa aérea da Força Aérea Colombiana pode detectar a entrada em território colombiano de duas aeronaves militares venezuelanas na zona da Alta Guajira. Inicialmente, as duas aeronaves militares venezuelanas adentraram 2,9 quilômetros do espaço aéreo colombiano, sobrevoando a zona de Majayura; perdendo-se rapidamente em direção para os Castilletes (...)”, disse trecho do comunicado.
Contudo, a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, rechaçou a acusação e falou que o governo colombiano, supostamente, tenta ‘abortar’ o diálogo para que os dois países consigam superar a atual crise diplomática. “Não existe evidência alguma de suposta violação do espaço aéreo do país vizinho”, disse.
“Vemos com preocupação a sistemática tendência do governo colombiano para inventar incidentes que não existem a fim de afetar as relações”, continuou a ministra de Relações Exteriores.
O que se nota é uma suposta tentativa das autoridades bolivarianas de acirrar a crise e inverter o jogo, ao culpar as colombianas por quaisquer dificuldades de conversação, no pior estilo do ‘morde e assopra’.
Há de convir que faltam à chanceler Delcy Rodríguez a diplomacia e o decoro que o cargo exige. Em uma linguagem sintética: ela não tem perfil diplomático. Leva para o campo das relações internacionais sua militância política carregada de ataques verbais e insinuações a quem quer que esteja em seu caminho. Lá, isso talvez seja uma das exigências curriculares. Segue um recente exemplo:
Imagem: Twitter / Reprodução
Canciller Holguín pierde su tiempo en Ginebra llevando falsedades sobre la frontera con Venezuela -al mejor estilo de un reality show.
— Delcy Rodríguez (@DrodriguezVen) 7 setembro 2015
“A chanceler [da Colômbia, María Ángela] Holguín perde seu tempo em Genebra, levando falsidades sobre a fronteira com a Venezuela – ao melhor estilo de um ‘reality show’”, postou Rodríguez nas redes sociais. De modo descarado, chamou a colega de mentirosa e de falsa. A postagem se referia ao fato de Bogotá denunciar, neste mês, no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, na Suíça, a maneira como os colombianos que vivem no país vizinho estariam sendo tratados.
Em agosto último, Rodríguez e Holguín se reuniram para discutir uma solução para a crise. Tendo em vista que apesar disso, Caracas não mudou sua postura, Bogotá, então, decidiu pela convocação do embaixador. Em protesto, o governo bolivariano respondeu da mesma forma. Vale salientar que o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, foi pressionado por parlamentares a dar uma resposta à altura a Nicolás Maduro. Na ocasião, a ministra venezuelana atribuiu à ‘soberba’ das autoridades colombianas o não avanço das negociações.
Desde então, o mandatário bolivariano tem feito inúmeros ataques a seu colega colombiano, Juan Manuel Santos, ao afirmar a existência de um suposto complô na nação vizinha para desprestigiar a imagem de seu governo. Santos aguentou o quanto pôde sem se pronunciar. Depois de abrir a boca e dizer meia dúzia de verdades em coletiva de imprensa, foi convidado por Maduro a dialogar. O líder bogotano falou que de sua parte não havia nenhuma intenção de prejudicá-lo e que a Venezuela estaria se ‘autodestruindo’, sem a necessidade de outros em fazê-lo, em alusão à crise econômica, de democracia e de identidade que o chavismo enfrenta.
A internacionalização da crise
A Colômbia tentou discutir a crise na OEA, mas não obteve os 18 votos favoráveis por parte dos países-membros. O Brasil, por exemplo, ficou em cima do muro e se absteve. A deportação – considerada uma violação de direitos humanos – foi denunciada à Corte Penal Internacional de Haia, na Holanda pela Justiça colombiana.
O mesmo Brasil que se silenciou na OEA é o mesmo que depois disso, e na semana passada, enviou seu ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, a Bogotá e a Caracas para monitorar de perto a crise. Ele foi acompanhado de seu homólogo argentino, Héctor Timerman. Na Colômbia foram recebidos pela ministra Holguín, enquanto que na Venezuela, pelo vice-presidente Jorge Arreaza.
Recentemente, os chanceleres da Colômbia, Venezuela e do Equador se reuniram em Quito, no Equador, para discutir a problemática.
Também na semana passada, Rodríguez se encontrou com o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, para contá-lo ‘a verdade’ sobre a crise humanitária na fronteira com a massiva deportação. “A única situação humanitária que se derivou aqui é o êxodo massivo de colombianos e colombianas que fogem da violência, que fogem da miséria e vêm ao nosso país em busca de melhores horizontes. As cifras que recebe a nossa Venezuela nem o continente europeu aguentaria. Isso vem de anos a entrada de 130 mil irmãos colombianos à Venezuela”, relatou.
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