Terça-feira, 23 de dezembro de 2025 Cossette Alejandra López e Ana Paola Hall, integrantes do CNE, temem ser presas em suposto conluio de um...
Terça-feira, 23 de dezembro de 2025
Cossette Alejandra López e Ana Paola Hall, integrantes do CNE, temem ser presas em suposto conluio de um dos colegas, vinculado ao partido governista, com o Ministério Público
Imagem: Redes Sociais - Divulgação / Qualidade da foto melhorada com inteligência artificial
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| À esquerda: Cossette Alejandra; à direita: Ana Paola |
Acusações de perseguição
As crises política e institucional em Honduras chegaram a um nível em que duas conselheiras do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) tiveram de se esconder, temendo pela própria segurança, em meio à demora na contagem de votos da eleição presidencial. Ana Paola Hall García (à direita na foto) – presidenta do órgão – e Cossette Alejandra López Osorio (à esquerda na foto) estão em lugar desconhecido. De acordo com o portal local El Heraldo, estariam abrigadas em alguma embaixada, sem mencionar de qual país, para evitar uma eventual prisão, conforme especulações de veículos noticiosos locais.
O órgão eleitoral é controlado por três conselheiros, cada qual representando um dos principais partidos políticos hondurenhos. Em Honduras, são as raposas que tomam conta do galinheiro. A desconfiança de Cossette Alejandra e Ana Paola se deve ao fato de o conselheiro Marlon David Ochoa Martínez (foto 2) – vinculado ao partido governista Liberdade e Refundação (Libre, em espanhol) – insistir num encontro presencial entre eles. Para ambas, ele estaria, supostamente, mancomunado com o governo e o Ministério Público para instaurar uma crise e invalidar o pleito ocorrido no último dia 30 de novembro.
“Não é uma casualidade. Este personagem (Marlon Ochoa) acha que pode nos submeter a seus caprichos mediante ameaças, intimidação e o respaldo de quem o acompanha nesta perigosa deriva. Sua intenção é clara. Sua coordenação com o Ministério Público numa perseguição política é cada vez mais clara, assim como seu objetivo de nos privar ilicitamente de nossa liberdade e, com isso, tirar de Honduras a sua democracia”, acusou a conselheira Cossette Alejandra.
Por conta da repercussão na imprensa local acerca de um possível mandado de prisão contra as duas conselheiras, o Ministério Público divulgou um comunicado à sociedade, nessa segunda-feira (22/12), para esclarecer que ‘não há nenhum requerimento especial, ordens de captura nem operação de detenção em flagrante’ contra as duas dirigentes. Ademais, o ente fiscalizador instou um ‘chamamento à responsabilidade para não difundir informação falsa ou não verificada’, por gerar ‘incerteza, confusão e desinformação’.
Também nessa segunda-feira (22), a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou ter apresentado ante a Corte Suprema de Justiça um pedido de habeas corpus em favor das duas conselheiras eleitorais, para que se apresentassem, para que ‘se verifique de maneira imediata e direta a situação pessoal’ de ambas, em meio à suspeita de que estivessem sequestradas, ‘a fim de garantir a proteção efetiva de seus direitos fundamentais à liberdade, integridade e vida’.
“A Procuradoria-Geral da República considera que a incerteza objetiva existente sobre o paradeiro e as condições em que exercem suas funções de conselheiras do CNE transcende o âmbito individual e poderia afetar a instabilidade institucional e política do país, a paz social, a segurança da nação, a confiança dos cidadãos no processo eleitoral e na democracia hondurenha. Por isso, o habeas corpus foi proposta como uma medida estritamente jurídica, preventiva e garantista em resguardo à ordem constitucional”, justificou a PGR.
Em recente publicação nas redes sociais, a conselheira Cossette Alejandra alegou que o habeas corpus impetrado pela PGR ‘carece absolutamente de senso jurídico’ e disse que ela e sua chefe seriam vítimas de perseguição.
“O habeas corpus não é um instrumento para apreender pessoas, nem para intimidar, nem para simular preocupação pela integridade de alguém. É uma garantia constitucional destinada exclusivamente a obrigar à autoridade a apresentar uma pessoa que se encontre detida (legal ou ilegalmente e sob custódia do Estado, para verificar a legalidade de sua privação de liberdade e sua integridade”, escreveu Cossette Alejandra.
“Para nos perseguir, se validaram de um terço do CNE, do Ministério Público, dos tribunais que não atendem nossas petições oportunamente, de membros da milícia, de secretários de Estado, e agora se soma a Procuradoria-Geral da República, fazendo um papel lamentável e evidenciando uma ignorância jurídica”, continuou a conselheira eleitoral.
Em entrevista por videoconferência ao canal de TV HCH, a presidenta do CNE, Ana Paola Hall, disse não ter sido sequestrada e destacou que o pedido de habeas corpus apresentado pela PGR partiu ‘das mesmas autoridades nacionais que geraram intimidação contra nós’.
Crises gestadas antes, durante e depois das eleições
Essas crises política e institucional não foram gestadas agora após o pleito. Parte de supostas e contínuas tentativas de sabotagem para atrasar e deslegitimar o processo eleitoral. Em março passado, a Unidade Especial contra Delitos Eleitorais – vinculada ao Ministério Público – precisou enviar pela segunda vez um ofício para convocar os três conselheiros eleitorais, para que prestassem depoimento na condição de testemunhas ante uma denúncia de suspeita de irregularidade para as eleições de 2025, publicou o portal Paradigma.
Imagem: Redes Sociais - Divulgação / Qualidade da foto melhorada com inteligência artificial
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| Marlon Ochoa é membro do órgão eleitoral hondurenho e filiado ao partido do governo |
Em meados deste ano, o conselheiro Marlon Ochoa (foto 2) não compareceu a reuniões convocadas pelo CNE, algo que foi visto como tentativa de sabotagem. Isso resultou no atraso do processo licitatório para contratar uma empresa especializada em tecnologia e sistema eleitoral.
No último dia 19 de novembro, a conselheira Cossette Alejandra concedeu uma polêmica entrevista à imprensa local, afirmando que as Forças Armadas teriam, supostamente, procurado a empresa responsável por instalar GPS nas urnas eleitorais, para saber onde estavam armazenadas. Devido a essa acusação, a instituição militar decidiu processá-la por suposta calúnia.
A apuração dos votos foi interrompida por vários dias, devido a suposta falha no sistema, que só havia computado 36% das atas eleitorais. Parte do processo precisou ser refeito, e até o momento, já foram analisadas 99,82% da documentação. Para minimizar a desconfiança da população e aplacar os ânimos dos candidatos, foram instaladas câmeras para transmitir em tempo real a apuração no CNE.
Mais de 2,7 mil atas eleitorais precisaram ser recontadas por apresentar inconsistências. Isso corresponde a 15%. Para ser mais específico, mais de 500 mil votos no centro dessa disputa. Até semana passada, a diferença entre o primeiro e segundo colocados era de pouco mais de 40 mil votos. Já na tarde desta terça-feira (23), cerca de 28 mil.
Em primeiro lugar, está o candidato Nasry Tito Asfura, do Partido Nacional, com 40,30%; em segundo, Salvador Nasralla, do Partido Liberal, com 39,52%; na terceira posição, Rixi Moncada, do Partido Libre, com 19,19%. Outros dois concorrentes não lograram 1% dos votos cada.
Vale destacar que, no decorrer de todo esse ano, a democracia popular sofreu tentativas de ataque de dentro para fora, não o oposto. Inclusive, recentemente, a imprensa hondurenha noticiou que papéis foram lançados do alto do prédio do CNE, afirmando que as duas conselheiras citadas estariam, supostamente, tentando prejudicar o certame.
Na noite do último domingo (21), a contagem dos votos foi interrompida. Delegados eleitorais vinculados ao partido governista Liberdade e Refundação (Libre, em espanhol) disseram ter sido ofendidos por membros das Forças Armadas, durante a troca de turno para o escrutínio especial nas instalações do Centro Logístico Eleitoral (CLE).
Ontem (22), três fiscais eleitorais do conservador Partido Nacional – provável vencedor da disputa pelo comando do país – ficaram feridos após serem atacados por militantes do Libre, que é de esquerda, enquanto estavam num ônibus. Os agressores lançaram pedras e explosivos.
O grande derrotado desse pleito presidencial é o Partido Libre, que ficou em terceiro lugar e amarga um descontentamento popular. Os primeiro e segundo lugares ficaram com o Partido Nacional e o Partido Liberal, respectivamente, ambos de direita.
Interferência indireta dos Estados Unidos
As táticas do Libre para não validar o resultado do processo eleitoral incluem alegações de ‘fraude’, o próprio governo convocando protestos e recentes discursos da presidenta de Honduras, Xiomara Castro, do Libre. Ela falou que não reconheceria o pleito, alegando suposta intromissão estrangeira. Na mesma linha seguiu o conselheiro eleitoral Marlon Ochoa, ligado à legenda, ao dizer que ninguém o forçaria a legitimar supostas irregularidades.
Em meio a uma série de interferências e ameaças vindas dos Estados Unidos, o Departamento de Assuntos do Hemisfério Ocidental – vinculado ao Departamento de Estado norte-americano – publicou nas redes sociais que ‘é profundamente preocupante ver certos partidos e candidatos continuarem a perturbar o processo eleitoral em Honduras’.
“(…) Qualquer pessoa que obstruir o tentar atrasar o trabalho do CNE enfrentará as consequências. O povo hondurenho já esperou tempo suficiente. Merece um processo transparente, célere e confiável”, ameaçou o escritório estadunidense.
No último fim de semana, o governo norte-americano revogou vistos de autoridades hondurenhas, mediante acusação de suposta interferência no pleito, entre eles o juiz eleitoral Mario Morazán; e o presidente do Congresso Nacional, Luis Redondo. Já o conselheiro Marlon Ochoa teve o pedido de visto negado.
Às vésperas das eleições, em novembro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou suspender ajuda financeira ao país centro-americano, caso o candidato conservador Nasry Tito Asfura não fosse eleito. Além disso, concedeu indulto ao ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, que cumpria pena por narcotráfico e lavagem de dinheiro em prisão norte-americana.



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