Quinta-feira, 18 de dezembro de 2025 Pleito ocorreu no dia 30 de novembro, e quase três semanas depois, o país ainda faz a contagem dos voto...
Quinta-feira, 18 de dezembro de 2025
Pleito ocorreu no dia 30 de novembro, e quase três semanas depois, o país ainda faz a contagem dos votos
Imagem: Governo de Honduras - Redes Sociais / Qualidade da foto melhorada com inteligência artificial
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| Manifestação liderada pelo partido governista Libre contra a demora na contagem de votos |
Fiasco! Essa é a melhor definição para a eleição presidencial de 2025 em Honduras. O pleito ocorreu no último dia 30 de novembro, e 18 dias depois, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ainda faz a contagem dos votos. O processo eleitoral é marcado por atrasos burocráticos ou supostamente intencionais, tensão entre candidatos, desconfiança por parte da população e interferência estrangeira indireta.
Candidatos e votos
Com 99,80% das urnas apuradas, o candidato conservador Nasry Tito Asfura, de 67 anos, do Partido Nacional de Honduras (PNH), recebeu até o momento 1.305.033 votos – o equivalente a 40,54% –, liderando a corrida eleitoral.
O centro-direitista Salvador Nasralla, de 72 anos, do Partido Liberal de Honduras (PLH), recebeu 1.261.849 votos e está na segunda posição, com 39,19%.
Em termos percentuais, a diferença entre ambos os candidatos é de 1,35%. Numericamente, a distância é de 43.184 votos.
Já a candidata governista e de esquerda Rixi Moncada, de 60 anos, do Partido Liberdade e Refundação (Libre, em espanhol), logrou 621.145 votos – 19,29% – e ficou em terceiro lugar.
Imagem: Redes Sociais - Divulgação / Qualidade da foto melhorada com inteligência artificial
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| Fiscais eleitorais fazem escrutínio especial para concluir a contagem dos votos |
O candidato de centro-esquerda Jorge Nelson Ávila Gutiérrez, de 73 anos, do Partido Inovação e Unidade Social Democrata (Pinu-SD), obteve 25.507 votos – 0,79%.
E o centrista Mario Rivera Callejas, de 62 anos, da Democracia Cristã, recebeu 5.537 votos – 0,17% –, de acordo com dados divulgados pelo CNE.
A previsão é de que a contagem das atas (foto 2) seja concluída até o próximo domingo (21), quando completará três semanas.
Atrasos e protestos
Por vários dias, a apuração dos votos ficou suspensa devido a supostas falhas no sistema, que só havia computado 36% das atas eleitorais, o que alimenta ainda mais o descrédito quanto à integridade do pleito. Além disso, não havia representantes de alguns partidos nas mesas de verificação.
Diferente do Brasil, onde a Justiça Eleitoral é gerida por juízes eleitorais sem vínculo partidário, em Honduras o Conselho Nacional Eleitoral é controlado por três integrantes, cada um ligado a uma das três principais legendas políticas do país. Um dos motivos que pode ter contribuído para atrasar a verificação dos votos é o fato de que o conselheiro Marlon Ochoa, do Partido Libre, ter boicotado reuniões do organismo, desse modo dificultando o início do processo licitatório para contratar empresa de tecnologia em sistema eleitoral.
Na semana passada, o CNE deu continuidade à contagem para revisar mais de 2,7 mil atas eleitorais com inconsistências, o que corresponde a 15%. São cerca de meio milhão de votos no centro da disputa. Para contornar a crise e reafirmar a confiança no pleito, foram colocadas câmeras de monitoramento em tempo real, para permitir que os cidadãos acompanhem o escrutínio especial.
Nos últimos dias, a nação centro-americana registrou protestos (fotos 1 e 3) por parte de eleitores do Libre, com estradas bloqueadas e pneus queimados. Eles buscam uma brecha para não reconhecer os resultados.
Imagem: Governo de Honduras - Redes Sociais / Qualidade da foto melhorada com inteligência artificial
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| Protesto fomentado pela presidenta de Honduras em frente à sede do governo |
Na última segunda-feira (15/12), a Organização dos Estados Americanos (OEA) disse que o processo eleitoral ‘se desenvolveu com normalidade e com alta participação cidadã, salvo incidentes isolados’.
“Observamos atrasos importantes no processamento dos resultados, mas não indícios que nos façam duvidar da validade dos mesmos”, expressou o chefe da missão de observadores da OEA, o ex-chanceler paraguaio Eladio Loizaga.
Apesar do aval da OEA à legitimidade da votação, a situação continua tensa. Ainda segundo o representante dessa missão, ‘as autoridades eleitorais hondurenhas colocaram de maneira reiterada interesses partidários acima do sucesso do processo eleitoral’ e reforçou que a demora na contagem dos votos ‘não se justifica’.
Interferência indireta
Recentemente, a presidenta de Honduras, Xiomara Castro, do Libre, havia alegado suposta fraude eleitoral e ameaçado não reconhecer o resultado, inclusive convocando a população a protestar nas ruas.
Os pretextos que os governistas usam para desacreditar o certame são o fato de o presidente norte-americano, Donald Trump, ter respaldado Nasry Tito Asfura, que lidera a votação. Alguns dias antes do pleito, publicou numa rede social que o candidato ‘defende a democracia e luta contra [Nicolás] Maduro’, o ditador venezuelano. Ademais, ameaçou suspender ajuda financeira ao país centro-americano se o aliado não vencesse nas urnas.
Em mais uma investida para influenciar o eleitorado, o mandatário estadunidense concedeu indulto ao ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, que cumpria pena de 45 anos de prisão nos Estados Unidos por delitos de narcotráfico e lavagem de dinheiro.
Para além de Honduras, intromissões diretas e/ou indiretas podem se tornar o modus operandi do ‘trumpismo’ no processo eleitoral em outros países do continente nos próximos anos, o que acende um alerta em questões de democracia e soberania mundo afora.
Mudança de ares políticos na América Latina
Caso se concretize a vitória de Nasry Tito Asfura, isso reafirma a mudança no mapa geopolítico e ideológico da América Latina, com lideranças de direita [re]conquistando espaços ocupados pela esquerda por longos períodos. Os mais recentes êxitos ocorreram na Bolívia, com Rodrigo Paz, e no Chile, com José Antonio Kast.
Ademais, não seria a primeira vez que Honduras passa por instabilidade política. Em 2009, o então presidente Manuel Zelaya foi deposto do cargo num suposto golpe de Estado ou contragolpe, quando tentava convocar um referendo para que a população votasse se era contra ou a favor da reeleição. A iniciativa foi vista com desconfiança por seus críticos, por conta da proximidade que tinha com o então ditador venezuelano, Hugo Chávez.
Meses depois, ainda em 2009, Zelaya regressou escondido a Honduras e buscou asilo na Embaixada do Brasil, na capital Tegucigalpa. Dois anos após, ele reconquistou os direitos políticos e foi firmado um acordo de não persecução por crime político.
Em 2022, a ex-primeira-dama Xiomara Castro se utilizou do patrimônio político do esposo, Manuel Zelaya, e foi eleita a primeira mulher a comandar Honduras.
O próximo governante hondurenho tomará posse no próximo dia 27 de janeiro para um mandato de quatro anos. Ele não só herdará o cargo, como também a desconfiança decorrente do fiasco eleitoral.




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