Segunda-feira, 13 de outubro de 2025 A ex-deputada venezuelana, principal opositora de Nicolás Maduro, venceu a premiação em 2025 e o dedico...
Segunda-feira, 13 de outubro de 2025
A ex-deputada venezuelana, principal opositora de Nicolás Maduro, venceu a premiação em 2025 e o dedicou a Donald Trump
Imagem: Divulgação - Redes Sociais
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| María Corina Machado discursando em 2024 após as eleições |
Ainda está dando o que falar o Nobel da Paz 2025 concedido à ex-deputada venezuelana María Corina Machado, na última sexta-feira (10/10). O prêmio já entrou para a história como um dos mais polêmicos por incomodar atores de diferentes espectros políticos e ideologias, tanto da esquerda quanto da direita.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, demorou para digerir o reconhecimento dado a sua principal opositora política, tendo só se manifestado publicamente nesse domingo (12). Sem citá-la nominalmente, se referiu a ela como “bruxa demoníaca”.
Já o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por exemplo, um dos principais aliados de Nicolás Maduro, disse que a premiação perdeu credibilidade e completou que Donald Trump “fez muito pela paz”.
A Casa Branca acusou o Comitê Norueguês do Nobel de colocar “a política acima da paz”, em crítica por não ter laureado o mandatário norte-americano. Poucas horas após, parece ter mudado de opinião, depois que María Corina Machado, em postagem nas redes sociais, dedicou o prêmio ao povo venezuelano e a Donald Trump e lhe telefonou para falar que aceitava o prêmio em honra a ele, o que serviu para massagear seu ego. Em coletiva de imprensa, o líder republicano disse que recebeu com carinho a dedicatória.
No México, por exemplo, a presidenta Claudia Sheinbaum, questionada sobre a homenageada numa conferência de imprensa, simplesmente respondeu “sem comentários”. No Brasil, o silêncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi ensurdecedor, nenhuma palavra para não contrariar seu homólogo venezuelano.
Já o líder colombiano, Gustavo Petro, viciado em polemizar, publicou uma carta nas redes sociais, indagando a ex-parlamentar venezuelana sobre uma carta na qual teria, supostamente, pedido apoio do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, contra o governo de Maduro.
Breve análise
O Nobel da Paz está em vigor desde 1901 e em diversas ocasiões esteve atrelado a questões políticas, de democracia, de direitos humanos e de justiça social, na resolução de conflitos bélicos internos e/ou regionais, no enfrentamento a regimes ditatoriais etc.
Em 1991, por exemplo, a premiação foi para a ativista Aung San Suu Kyi por sua luta sem violência em prol da democracia na antiga Birmânia, atual Myanmar. Já em 1993, para o defensor dos direitos humanos Nelson Mandela – que futuramente governaria a África do Sul – por sua luta pacífica pela democracia e contra o regime do Apartheid. Em 2016, foi para o ex-presidente da Colômbia Juan Manuel Santos por seus esforços para tentar colocar fim aos conflitos armados com narcoguerrilhas que já duram mais de meio século.
Independentemente do posicionamento ideológico de María Corina Machado, sua indicação é legítima. Assim como em outros casos ao longo da história, sua luta pacífica é contra o sistema, contra um regime ditatorial. A premiação é referente a realizações no ano anterior. Em 2024, liderou um movimento político que logrou reunir cerca de 80% das atas eleitorais do pleito e reafirmar indícios de fraude nas eleições que consagraram Nicolás Maduro novamente vencedor. O governo não conseguiu desmentir a oposição e se utilizou do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) para impor a validade dos resultados.
Assim como um Nobel agrega valor ao seu laureado, em qualquer categoria, o vencedor também dá credibilidade à premiação, que visa reconhecer iniciativas notáveis em torno de um mundo melhor.
A tentativa de demonização contra a nova ganhadora, a depender de quem a faça, em vez de diminuí-la, reafirma por que ela merece ter ganhado o Nobel. A paz também é um movimento político.
Considerada uma figura controversa, as principais críticas de políticos de esquerda mundo afora contra María Corina Machado são por ela ter apoiado um golpe de Estado contra o então presidente Hugo Chávez em 2002 e por ter instado em determinadas ocasiões intervenção estrangeira na Venezuela para tentar derrubar o regime de Nicolás Maduro.
Ao menos no Brasil, o pedido de intervenção estrangeira de María Corina Machado é equivocadamente comparado ao do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos desde março deste ano e que induziu o governo norte-americano a aplicar sanções contra autoridades brasileiras. O intuito era pressionar pela não persecução penal contra o pai dele, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ), condenado a 27 anos de prisão por delitos relativos a intento de golpe de Estado.
María Corina Machado vive na clandestinidade sob risco de ser presa a qualquer momento. A esquerda, ao não reconhecer que ela é uma perseguida política, sua condição de mulher e seus esforços contra um regime ditatorial e em favor da democracia na Venezuela há mais de duas décadas, reafirma estereótipos acerca de uma ditadura relativa e tenta se colocar como guardiã da democracia em detrimento de correntes de direita.
Considerada em seu país uma “traidora da pátria”, a ex-deputada teve o mandato cassado e perdeu os direitos políticos por 15 anos por ter participado de uma reunião na Organização dos Estados Americanos (OEA) na condição de embaixadora suplente do Panamá, em 2014. Na época, ela denunciou a diplomatas estrangeiros casos de violações de direitos humanos cometidas por autoridades venezuelanas.
Tratada com desdém pelo governo venezuelano, num suposto intento de desacreditá-la perante a comunidade internacional, o Nobel da Paz muda todo o paradigma, tendo em vista que ela atrai a atenção do mundo para as crises política, social e econômica que assolam o país caribenho. Ao laureá-la, o Comitê Norueguês não só legitima sua trajetória política como também envia uma clara mensagem de que resistir pacificamente a ditaduras é, em si, um ato de paz.
A título de curiosidade, a premiação atribuída à opositora venezuelana ocorreu na semana de seu aniversário de 58 anos, completados no dia 7 deste mês.


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