Sexta-feira, 18 de julho de 2025 Enquanto no Brasil golpistas do 8 de janeiro são investigados e presos, nos Estados Unidos os que invadiram...
Sexta-feira, 18 de julho de 2025
Enquanto no Brasil golpistas do 8 de janeiro são investigados e presos, nos Estados Unidos os que invadiram o Capitólio receberam induto e os investigadores sofreram uma ‘caça às bruxas’
Imagem: Divulgação - Meme
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Meme da Estátua da Liberdade mudando de país durante o governo Trump |
A operação da Polícia Federal (PF) contra o ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro (PL-RJ), na manhã desta sexta-feira (18/7), é muito mais do que um capítulo da ação penal que ele responde por suposta tentativa de golpe de Estado antes das eleições de 2022, durante e depois e que culminou na depredação à sede dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023. A nação sul-americana se reafirma como um farol de justiça e democracia para os Estados Unidos e também para o mundo. Por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), o ‘mito’ está usando tornozeleira eletrônica em meio a um evento risco de fuga do país.
Vale frisar que, em março de 2024, Jair Bolsonaro (PL-RJ) passou dois dias na Embaixada da Hungria em Brasília, conforme noticiado pelo jornal norte-americano The New York Times, logo após ter o passaporte apreendido por determinação do ministro da suprema corte Alexandre de Moraes.
Durante a ação policial em sua residência no Distrito Federal, os agentes apreenderam um pen drive numa gaveta no armário do banheiro, cerca de US$ 14 mil – equivalente a mais de R$ 77 mil na cotação atual – mais cerca de R$ 8 mil. Além disso, o ex-mandatário está proibido de utilizar as redes sociais e de se comunicar com o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) – filho 03 que está nos Estados Unidos – e também com outros réus no processo penal, diplomatas e representantes de governos estrangeiros.
A proibição de se comunicar com o parlamentar autoexilado se deve ao fato de que estaria negociando com autoridades norte-americanas sanções contra a economia e personalidades brasileiras.
Logo após colocar o dispositivo, Jair Bolsonaro (PL-RJ) concedeu entrevista a vários veículos noticiosos e classificou o sistema de monitoramento contra ele como ‘suprema humilhação’. Ademais, só poderá sair de casa entre as 6h e 19h. Entre o período noturno e madrugada e fim de semana, deverá cumprir toque de recolher. Também está proibido de passar pelas proximidades de embaixadas e consulados.
A operação policial aconteceu um dia após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicar uma carta a Jair Bolsonaro, no que classificou como ‘terrível tratamento’ que estaria recebendo por conta das investigações.
“Eu vi o terrível tratamento que você está recebendo nas mãos de um sistema injusto voltado contra você. Este julgamento deve terminar imediatamente! Não estou surpreso em vê-lo liderando nas pesquisas; você foi um líder altamente respeitado e forte que serviu bem ao seu país”, escreveu o líder estadunidense.
“Compartilho seu compromisso de ouvir a voz do povo e estou muito preocupado com os ataques à liberdade de expressão, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, vindos do atual governo. Manifestei veementemente minha desaprovação, tanto publicamente quanto por meio de nossa política tarifária. É minha sincera esperança que o Governo do Brasil mude de rumo, pare de atacar oponentes políticos e acabe com seu ridículo regime de censura. Estarei observando de perto”, continuou Trump.
Provocação ou não, a nação sul-americana se impôs diante da explícita ingerência estrangeira em assuntos internos que só dizem respeito ao Brasil. É sabido que Donald Trump pretende aplicar sanções ao Brasil a partir do próximo dia 1º de agosto, com sobretaxa de 50% em produtos brasileiros comercializados nos ‘States’. A justificativa foi de que seria uma represália ao que chamou de ‘caça às bruxas’ contra Jair Bolsonaro e também uma resposta ao encontro dos países dos Brics ocorrido no Rio de Janeiro nos últimos dias 6 e 7 deste mês, com destaque às discussões em torno de uma moeda única para o bloco e os planos de não utilizar mais o dólar americano nas negociações entre os países-membros.
Para reforçar as sanções contra o Brasil, Trump acrescentou a falácia de que os Estados Unidos registravam déficits fiscais na balança comercial entre os dois países. Apesar de o líder norte-americano não ter a menor intenção de negociar, porque suas ameaças estão no âmbito político, o governo brasileiro insiste, ou persiste, na inútil saída diplomática para lidar com essa chantagem e coerção financeira que prejudicará as exportações brasileiras, principalmente o agronegócio.
Em entrevista concedida ao Jornal Nacional, da TV Globo, no último dia 10 de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) criticou a interferência de Donald Trump na soberania brasileira, e o alfinetou, ao dizer que no Brasil o Poder Judiciário é autônomo e que se nos Estados Unidos houvesse uma justiça como a daqui, o líder republicano também seria investigado. A fala é em alusão à tentativa de golpe de Estado no Capitólio estadunidense em 6 de janeiro de 2021
“O que o presidente Trump tem que saber é que se aqui no Brasil ele tivesse feito o que ele fez nos Estados Unidos com as eleições, ele também estaria sendo processado. Estaria sendo julgado. E se fosse culpado, ele seria preso”, alfinetou Lula.
“E é assim que eu espero que funcione nos Estados Unidos. Se tivesse um Capitólio aqui, e o Bolsonaro tivesse feito o que fez o Trump nos Estados Unidos, ele também teria sido julgado. Porque a lei aqui no Brasil é para todos, de verdade. Doa a quem doer”, complementou Lula em entrevista ao Jornal Nacional.
Nos Estados Unidos, Trump não é investigado por incitar seus eleitores a invadirem a sede do parlamento para protestar contra a vitória de Joe Biden após as eleições de novembro de 2020. Além disso, utilizou seu poder para conceder induto a todos os golpistas.
Após iniciar o segundo mandato no início de 2025, o governo de Donald Trump começou uma espécie de ‘caça às bruxas’ para investigar e demitir os agentes federais que o investigavam no episódio do Capitólio.
Nessa quinta-feira (17), o governo trumpista demitiu a promotora federal Maurene Comey sem motivos aparentes. Ela investigava empresários norte-americanos por crimes sexuais e foi uma das responsáveis pelo processo contra Jeffrey Epstein, magnata que era amigo de Donald Trump e que fazia festas com autoridades e empresários e que foi acusado em 2019 por supostos delitos de tráfico sexual e pedofilia. Ele se suicidou na prisão. A polêmica gira em torno de que vários desses convidados poderiam estar envolvidos em tais crimes. Durante a última campanha eleitoral, o republicano tinha prometido tornar pública uma lista dos supostos envolvidos, no entanto mudou de ideia e acusou a oposição de inventar sobre a existência do documento.
A promotora pública demitida é filha de James Comey, ex-agente do FBI – a polícia federal norte-americana – que foi demitido pelo republicano, ainda em seu primeiro mandato, por ter investigado a interferência da Rússia na eleição presidencial de 2016. Segundo relatório apresentado à época, o governo de Vladimir Putin, supostamente, teria ajudado Trump na campanha contra a democrata Hillary Clinton.
O Brasil está dando exemplo do que congressistas e juízes norte-americanos deveriam ter feito para garantir a democracia plena e combater a impunidade. Hoje os Estados Unidos vivem uma espécie de autocracia, uma democracia relativa comandada por um déspota, enquanto que o gigante sul-americano, apesar de inúmeros problemas políticos, sociais e econômicos, incluindo a forte corrupção, tem se firmado na defesa intransigente do Estado democrático de direito, ao investigar e prender milhares de criminosos que vandalizaram o STF e o Palácio do Planalto, ademais dos que arquitetaram o intento de golpe e/ou que, supostamente, pretendiam assassinar o presidente Lula (PT-SP) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB-SP), ambos recentemente eleitos, além do ministro do STF Alexandre de Moraes.
No Brasil, tem-se um ditado de que muitas das investigações acabam em ‘pizza’, isto é, que não vão levar a lugar algum. Todavia, no que depender do STF, os envolvidos na invasão, depredação e na trama golpista serão responsabilizados no rigor da lei, porque se dependesse de boa parte de deputados federais e senadores, ‘passariam pano’ para os golpistas e os anistiariam por meio de projeto de lei.
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