Domingo, 29 de junho de 2025 Informação atualizada em 29/06/2025, às 16h14 Rayane Almeida é moradora do Complexo da Maré, no Rio, treina des...
Domingo, 29 de junho de 2025
Informação atualizada em 29/06/2025, às 16h14
Rayane Almeida é moradora do Complexo da Maré, no Rio, treina desde que tinha 6 anos e sonha um dia competir em Dubai
Imagem: Renato Almeida - Cedida ao OPINÓLOGO
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Rayane Almeida mostra sua medalha de prata conquistada no Campeonato Brasileiro de Jiu-jitsu Kids 2025 |
Rayane Almeida é uma menina de apenas 9 anos, mas cheia de sonhos de gente grande. Já acumula vitórias e medalhas em competições de jiu-jitsu realizadas no Brasil e é motivo de orgulho para a família. A mais recente conquista foi uma de prata (fotos 1 e 2), ao ficar em segundo lugar no Campeonato Brasileiro de Jiu-jitsu Crianças 2025, promovido pela Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu (CBJJ), no Ginásio Poliesportivo José Correa, em Barueri (SP), nos últimos dias 14 e 15 de junho.
Segundo os pais, a atleta já logrou ao menos 20 medalhas. Dos torneios mais importantes e mais recentes que participou, contabiliza ao menos sete, sendo três de ouro, duas de prata e mais duas de bronze, com destaques para o Campeonato Sul-Americano 2024, Campeonato Brasileiro da 2024 e Campeonato Mundial Jiu-Jitsu 2024, nos quais ficou em primeiro lugar. Todos esses eventos foram promovidos pela Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Olímpico na Arena Juventude, em Deodoro, Zona Oeste do Rio.
“Meu sonho é ir para Dubai (nos Emirados Árabes Unidos) e ser campeã mundial. Acredito que algum dia vou conseguir um patrocinador e viajar para lá. Desde que comecei a treinar, já ganhei 24 medalhas. Comecei bem no jiu-jitsu e acho que hoje estou bem melhor graças ao meu mestre Douglas Gentil, que começou a observar meu desempenho e me colocou no [grupo de] alto rendimento”, contou Rayane Almeida ao Opinólogo.
Moradora do Complexo da Maré, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, a atleta treina desde os 6 anos de idade na academia Maré Top Team, localizada nesse conjunto de comunidades. Ela é filha do motoboy Renato Almeida e da confeiteira Ruth Cavalcante.
Imagem: Renato Almeida -
Cedida ao Opinólogo
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Mais do que vitórias, a atleta acumula experiências e alimenta sonhos |
A viagem para o referido torneio paulista contou com a ajuda da família e de uma rifa passada pela mãe para angariar dinheiro e, assim, custear passagens, alimentação e hospedagem. Foi a primeira vez que participou desse campeonato.
“A Rayane conheceu o jiu-jitsu através de um projeto aqui da Maré chamado Maré Top Team. Ela foi fazer uma aula experimental há uns três anos atrás e se identificou bastante. Até hoje, ela vem se empenhando e se dedicando ao máximo nos treinos e nas competições. Ela é muito focada no que está fazendo. Eu confesso que, no início, ficava com medo de ela se machucar. Eu fico muito feliz e orgulhoso por ela. Com a educação que a mãe dela e eu damos, junto ao jiu-jitsu, ela realmente se tornou uma inspiração para outras crianças. A Rayane é uma criança exemplar, e eu sou muito grato a Deus por isso e ao mestre Douglas Gentil por tudo o que ele tem feito”, comentou Renato Almeida.
Rayane Almeida pode ser considerada uma lutadora em todos os sentidos e que vão além das artes marciais: primeiro, por saber desde tenra idade o que quer da vida; segundo, por superar desafios vivendo numa favela e tudo o que é inerente a esse lugar; e terceiro, por aventurar-se como menina numa modalidade esportiva majoritariamente masculina. Nascida no dia 26 de dezembro de 2015, herdou qualidades essenciais de uma capricorniana, como determinação, comprometimento e disciplina, características necessárias para quem quer vencer na vida.
Não se trata apenas de saber ganhar ou perder. É muito mais do que isso. É vencer a favela em todos os seus aspectos e estereótipos, romper paradigmas. É a busca da mulher por seu próprio espaço onde ela desejar estar. O esporte disciplina, melhora a saúde e a qualidade de vida, ademais de contribuir para afastar os jovens dos perigos das drogas e da violência.
“Quando ela começou no jiu-jitsu, eu não aprovava. Fiquei muito apreensiva, porque pensava que era um esporte muito violento, mas vi que minha filha estava pegando o jeito e estava no caminho certo. Eu vi que o jiu-jitsu era para ela. Hoje em dia, sou uma das maiores apoiadoras dela. Acredito que a Rayane chegará em lugares altíssimos, porque garra e força de vontade ela tem de sobra. Ela é muito guerreira, não desiste e tem humildade. Houve uma vez que ela perdeu uma luta, daí ela chegou para mim e falou ‘mãe, não tem problema. Eu vou treinar mais para vir com tudo no próximo [campeonato]’. Sou muito orgulhosa de tudo o que ela está se tornando e vivendo. Torço muito por ela para que chegue muito longe. Amo demais a minha filha”, expressou Ruth Cavalcante.
A atleta divide a rotina entre a escola – está no 4º ano do ensino fundamental – com a irmã Rayssa Emanuelly, o treinamento nas artes marciais, brincar com as amigas e, nos fins de semana, a igreja evangélica em que frequenta com a família.
No início de junho deste ano, a jiu-jiteira passou para a faixa cinza, no 4º grau, e graças ao seu desempenho foi selecionada para o grupo de “alto rendimento” da academia onde treina desde pequena, informou a mãe à reportagem.
Outras informações sobre o jiu-jitsu no Brasil
Imagem: Assis Fotografia - François Foto
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Rayane Almeida agora é faixa cinza de jiu-jitsu |
O primeiro Campeonato Brasileiro de Jiu-Jitsu aconteceu em 1994 para categorias masculina e feminina. Na época, somente cinco mulheres participaram das competições. Mais de três décadas após, a edição de 2025, realizada entre os dias 26 de abril e 4 de maio, também em Barueri, alcançou 7.296 inscritos, sendo que na divisão juvenil a adesão feminina foi de 29,6%, enquanto que na divisão adulto, 27,6%.
Já no Campeonato Brasileiro de Jiu-jitsu Kids, o qual Rayane Almeida disputou, a edição deste ano registrou 2.984 inscrições. Desse total, 39,3% eram de candidaturas femininas, segundo Scout Grappling, portal especializado em notícias sobre competições esportivas.
Não são apenas os atletas que enfrentam desafios. O jiu-jitsu em si ainda tem um longo e árduo caminho para que seja cada vez mais inclusivo e também que algum dia seja inserido nos Jogos Olímpicos, assim como o boxe, esgrima, judô, karatê, luta – estilo livre e greco-romana –, taekwondo, wushu, entre outras.
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