Segunda-feira, 28 de janeiro de 2019 Imagem: Twitter / @jguaido / Reprodução Com a constituição na mão, deputado opositor se declar...
Segunda-feira, 28 de janeiro de 2019
Imagem: Twitter / @jguaido / Reprodução
Com a constituição na mão, deputado opositor se declara presidente interino da Venezuela |
Ao menos 28 pessoas morreram neste janeiro de 2019 durante os protestos contra o novo governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, segundo a ONG Observatório Venezuelano de Conflito Social (OVCS). O quantitativo pode ser maior. A nova etapa da crise no país vizinho começou no último dia 10, quando o mandatário bolivariano tomou posse, apesar das recomendações do Grupo de Lima, da Organização dos Estados Americanos (OEA) e dos Estados Unidos para que ele desistisse e convocasse novas eleições. Mais de 360 pessoas estão detidas, complementou a ONG Human Rights Watch (HRW).
As manifestações ganharam força depois que o presidente da Assembleia Nacional, o parlamento unicameral, deputado Juan Guaidó, se autodeclarou presidente interino, na quarta-feira passada (23), em oposição ao regime de Nicolás Maduro, considerado um “usurpador” pelo legislativo.
Brasil, Colômbia, Argentina, Canadá, Estados Unidos, Equador, Peru, Chile, Paraguai, Reino Unido, Alemanha, Israel e Austrália respaldaram o líder opositor como governante interino. Espanha e França deram o prazo de oito dias para que o chavista convocasse novas eleições, sob ameaça de reconhecer o opositor. Maduro disse que não aceitaria qualquer tipo de imposição e desafiou a Grã-Bretanha e a Espanha a promoverem eleições em seus países.
Para completar, o Reino Unido se negou a repatriar à Venezuela US$ 1,2 bilhão em barras de ouro, que está em seus bancos. O pedido de devolução foi feito no fim do ano passado.
Rússia, China, Cuba, Bolívia, Nicarágua, Uruguai, México, Turquia, Irã, África do Sul e Guiné Equatorial estão entre as nações que reconhecem a suposta legitimidade das eleições de Maduro, ocorridas em maio do ano passado.
Dos países Grupo de Lima – formado por Brasil, Equador, Colômbia, entre outros –, apenas o asteca discordou quanto à aplicação de sanções ao ditador chavista.
China e Rússia são os maiores credores do governo venezuelano, em meio às sanções financeiras impostas pelo governo estadunidense. Já Nicarágua e Cuba são beneficiadas economicamente pelo regime por meio dos petrodólares, com o fornecimento de petróleo a baixo custo, por exemplo.
A crise venezuelana foi levada para o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), a pedido dos Estados Unidos, cuja reunião ocorreu nesse sábado (26). Tanto o governo bolivariano quanto o russo acusam os norte-americanos de tentarem promover um “golpe de estado” e criticaram os países contrários a Maduro de fazerem “jogo sujo” para criar instabilidade e uma guerra civil.
O apoio a Juan Guaidó por parte de países latino-americanos se devem essencialmente a mudanças ideológicas nos governos regionais, como Brasil e Argentina, por exemplo. Antes, essas duas nações sul-americanas eram geridas por líderes de esquerda, mas agora, pelos de direita. Ademais, há a crise migratória no subcontinente, o que internacionaliza o drama venezuelano. Segundo as Nações Unidas (ONU), mais de cinco mil venezuelanos abandonam diariamente o país. Eles fogem da fome, do desemprego e de tantos outros problemas sociais e econômicos.
Anteriormente, a Rússia já havia advertido aos Estados Unidos de que não tentassem enviar reforços militares para derrubar o ditador bolivariano.
Na semana passada, a chancelaria venezuelana tinha determinado que os Estados Unidos retirassem seus diplomatas de embaixadas e consulados em até 72 horas. No entanto, Washington se negou, ao sustentar que Nicolás Maduro não teria nenhuma legitimidade. Então, foi concedido um prazo de 30 dias para que eles saíssem.
Muitas das críticas em redes sociais aos Estados Unidos, por não reconhecerem a legalidade de Maduro, se devem à questão de que Washington, supostamente, só buscaria restabelecer a democracia em nações ricas em petróleo e com baixo poderio militar, e não agir do mesmo modo em relação à China e Arábia Saudita, por exemplo, que têm regimes ditatoriais.
Imagem: Twitter / @jguaido / Reprodução
Venezuelanos vão às ruas respaldar opresidente interino e dizer “não” a Maduro |
Jornalistas que cobrem os protestos estão sendo agredidos e/ou detidos. Para conter os manifestos da oposição, o governo tem reforçado a censura à imprensa para limitar a população ao acesso à informação. No último dia 23 de janeiro, os canais GlobalTV e AventuraTV, em Zulia, tiveram os sinais desligados, de acordo com o Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Imprensa da Venezuela (SNTP, na sigla em espanhol). As duas emissoras compartilhavam o mesmo prédio e antena transmissora.
Militares venezuelanos já disseram estar ao lado de Nicolás Maduro. Este conta com o apoio não oficial de grupos de milicianos, que agem nas sombras para atacar a oposição durante os protestos.
O presidente interino ordenou à Força Armada Nacional (FAN) que não atirasse contra os manifestantes nem reprimisse as manifestações “pacíficas” e “democráticas”.
Esta não é apenas mais uma crise política. Ela está em seu ápice e coloca em xeque os 20 anos da Revolução Bolivariana implementada pelo falecido ditador Hugo Chávez. Está em seu pior momento, porque a oposição resolveu confrontar de frente Nicolás Maduro com um adversário que diz ser o novo chefe de Estado, que conta com o respaldo da comunidade internacional.
Em 2018, aconteceram 12.715 protestos contra Nicolás Maduro, o equivalente a 35 por dia. Em 2017, foram 9.787, uma média diária de 27, de acordo com a ONG OVCS.
O chavismo tem se legitimado por meio do processo democrático do voto popular. As duas décadas foram marcadas por supostas violações de direitos humanos, perseguições e prisões injustificadas de manifestantes, juízes e políticos opositores, censura aos meios de comunicação, suspeitas de fraude eleitoral, protestos violentos contra o governo, aparelhamento do judiciário, usurpação de poder, mudanças na constituição (permitindo reeleições indefinidas), crise humanitária (êxodo e desabastecimento de alimentos e remédios), crise econômica (crise cambial e inflação estimada em 1.000.000% pelo Fundo Monetário Internacional, o FMI), nacionalização de empresas privadas e crise moral (suspeita de que integrantes do governo estejam envolvidos com o narcotráfico).
Os venezuelanos vivem, atualmente, um grande dilema: continuar no inferno que estão e que pode durar por mais seis anos – o tempo de governo de Nicolás Maduro – ou desafiarem o regime em busca de uma “primavera”, libertando-se da dinastia do chavismo.
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