Quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018 Três das 13 agremiações que desfilaram na Sapucaí tiveram como samba-enredo críticas políticas e ...
Quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
Três das 13 agremiações que desfilaram na Sapucaí tiveram como samba-enredo críticas políticas e sociais e participarão do desfile das campeãs
As vencedoras
Imagem: Cezar Loureiro / Riotur / Reprodução /
Copiada do site Fotos Públicas
A avenida do samba se tornou a avenida dos protestos |
Já está claro que as grandes campeãs do carnaval 2018 no Rio de Janeiro não foram as escolas de samba, e sim as manifestações e a indignação contra a condução política do Brasil. E isso acontece em pleno ano eleitoral.
A apuração foi divulgada na tarde desta quarta-feira (14/2). Ficou em primeiro lugar a Beija-Flor, do município de Nilópolis, com o samba-enredo “Monstro é aquele que não sabe amar – Os filhos abandonados da pátria que os pariu”, que falou sobre corrupção política e na Petrobras, violência, desigualdades sociais e preconceito, tendo a participação da cantora Pabllo Vitar, por exemplo.
A grande surpresa foi a Paraíso do Tuiuti, de São Cristóvão, Zona Norte do Rio, ter ficado na segunda colocação. Não porque a agremiação não merecesse, e sim por ter migrado da Série A (Grupo de Acesso) para a elite (Grupo Especial) do carnaval carioca em 2016 e desfilado em 2017, se considerado o sobe e desce que costuma imperar entre as recém-chegadas. O samba-enredo foi “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, que abordou a escravidão em tempos modernos, criticou a Reforma Trabalhista e o pato amarelo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), e sinalizou que os manifestantes que foram às ruas com camisa verde e amarela para pedir o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT-RS) teriam sido feitos de fantoches. Num dos carros alegóricos havia um vampiro portando a faixa presidencial, em suposta alusão ao presidente Michel Temer (MDB-SP).
Já a Estação Primeira de Mangueira, de Vila Isabel, Zona Norte do Rio, ficou em 5º lugar. Com o samba-enredo “Com ou sem dinheiro, eu brinco”, homenageou o carnaval popular e de rua como os blocos Cacique de Ramos e o Cordão da Bola Preta e criticou a redução do repasse de verbas para o carnaval 2018 por parte do prefeito Marcelo Crivella (PRB-RJ).
As três agremiações voltarão ao Sambódromo, no Centro do Rio, no próximo sábado (17), no desfile das campeãs.
Se a moda de fazer críticas políticas e sociais pegar, deixará de ser uma inovação para se tornar clichê.
Críticas, contra-ataque e telhado de vidro
Os primeiros momentos pós-desfile foram de euforia por parte de foliões e não foliões que se sentiram representados pelos protestos levados à avenida do samba e vistos internacionalmente pela maior emissora do país e segunda maior do mundo. Eles se sentiram de alma lavada. Os protestos na maior festa popular do país não puderam ser completamente ignorados pela imprensa. Isso em relação aos sucedidos pelo país entre 2015 e 2016.
Mas, há um ditado que diz que “quem tem telhado de vidro não pode tacar pedra no dos outros”. O segundo momento, por parte dos não simpatizantes ou opositores, foi de críticas, contra-ataque e tentativa de desmoralização contra os temas e as agremiações. Se isso não for um argumento, pode ser visto como a falta do mesmo.
Nas redes sociais, internautas e alguns meios de comunicação lembraram que a Beija-Flor, que criticou a corrupção, é comandada pelo contraventor Anísio Abraão David. Em 2015, a escola de samba foi acusada de, supostamente, ter recebido patrocínio de empreiteiras investigadas na operação Lava-Jato – que apura a roubalheira na Petrobras – e do governo de Guiné Equatorial, país africano homenageado na Marquês de Sapucaí e governado pelo ditador Teodoro Obiang desde 1979.
Imagem: Gabriel Nascimento / Riotur / Reprodução /
Copiada do site Fotos Públicas
Paraíso do Tuiuti fala da escravidão moderna |
Quanto à Paraíso do Tuiuti, esta, supostamente, teria contratado por carteira assinada apenas três pessoas no ano de 2017. Seus críticos se perguntam se ela já teria pago a indenização aos familiares das vítimas da tragédia ocorrida no ano passado, quando um de seus carros alegóricos perdeu o controle e atropelou cerca de 20 pessoas. Para os não simpatizantes, faltaram críticas ao Partido dos Trabalhadores (PT) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo.
No caso da Mangueira, a crítica foi pela suposta falta de bom senso por conta da crise financeira que afeta o país, o estado e o município do Rio, tendo em vista os reflexos disso na saúde, educação, segurança e os atrasos salariais dos servidores. A agremiação é comandada pelo deputado estadual Chiquinho da Mangueira (MDB-RJ). Para a Riotur – empresa de Turismo do Rio – as críticas ao prefeito Marcelo Crivella (PRB-RJ) são atos de “intolerância religiosa”. Nas eleições de 2016, várias escolas de samba apoiaram a eleição do bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), mas foram surpreendidas pelo corte de verba de mais de R$ 24 milhões para R$ 13 milhões. Na verdade, essa era a cifra original antes de o então prefeito Eduardo Paes (MDB-RJ) tê-la aumentado em 2015, ano anterior às eleições municipais.
O sobe e desce
Como não houve agremiação rebaixada no carnaval de 2017, no de 2018 foram duas a migrarem para a Série A, a Grande Rio, do município de Duque de Caxias, e a Império Serrano, de Madureira, na Zona Norte do Rio. Esta última, vencedora do Grupo de Acesso no ano passado, por sua vez, ajuda a sustentar a teoria de que as escolas de samba que chegam ao Grupo Especial não costumam durar mais que um ou dois anos.
Até a publicação desta reportagem, ainda ocorria a apuração das escolas da Série A.
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