Terça-feira, 21 de março de 2017 O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, deu ultimato de até um m...
Terça-feira, 21 de março de 2017
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, deu ultimato de até um mês para que o chavismo convoque eleições livres e diretas na Venezuela.
“(...) Por isso, tenho proposto que se não vislumbrar a curto prazo, no período de um mês, um caminho realmente democrático com sinais claros nessa direção, como a liberação dos presos políticos, um cronograma eleitoral, um canal humanitário, proceda-se a suspensão da Venezuela da OEA, prevista no artigo 21 da CDI (Carta Democrática Interamericana). Porque já não há outro caminho. É preciso que os países da região demonstrem unidade e que as 33 nações [do bloco continental] adotem uma postura a favor da defesa da democracia agredida”, expressou Almagro, nesta terça-feira (21/3), em artigo publicado em alguns dos principais diários latino-americanos como o peruano ‘El Comercio’, o colombiano ‘El Tiempo’ e o uruguaio ‘El País’.
É preciso deixar claro que, apesar de ser o dirigente da entidade, ele não fala em nome de todos os associados, já que nem todos são favoráveis a punir a Venezuela. Nos últimos dias, ele tem feito consulta aos países do bloco em busca de apoio para invocar a Carta Democrática Interamericana e aplicar sanções à nação sul-americana, por conta das supostas violações de direitos humanos constantemente registradas.
Imagem: Juan Manuel Herrera / OEA / Reprodução
Luis Almagro ao lado de Patricia Ceballos (cabelo preto) e Lilian Tintori (cabelo loiro) |
As declarações de Almagro ocorrem dois dias depois de um encontro (foto) que teve com Lilian Tintori e Patricia Ceballos, esposas dos presos políticos Leopoldo López e Daniel Ceballos. Durante uma conferência de imprensa, a embaixadora da Venezuela ante a OEA, Carmen Velazquez, interrompeu o secretário-geral, acusando-o de suposto proselitismo político e considerou a reunião que teve com as duas venezuelanas como algo ‘deplorável’, noticiou o diário chileno ‘El Mercurio’. O governo venezuelano busca intimidar qualquer um que aceite conversar com seus opositores políticos.
Leopoldo López, ex-prefeito de Chacao, foi preso por ter participado de um protesto contra o governo que resultou em 43 mortes e mais de 1.400 feridos num confronto de policiais e milicianos pró-governo contra manifestantes. Até as Nações Unidas já pediu sua libertação, mas foi inútil. Já Daniel Ceballos, ex-prefeito de San Cristobal, por não ter usado a guarda municipal para impedir um ato popular contra Nicolás Maduro.
Luis Almagro sustenta sua decisão de aplicar sanções a Caracas pelo fato de haver mais de 100 presos políticos, o governo ter adiado as eleições para governadores em dezembro de 2016 e ter suspendido um referendo por novas eleições presidenciais. Nas eleições para governadores, a oposição liderava a preferência dos eleitores e elas estão previstas para acontecer ainda no primeiro semestre de 2017. A consulta popular é uma exigência da Assembleia Nacional – equivalente à Câmara dos Deputados que é, atualmente, de maioria oposição – e é motivada pela crise financeira que o país enfrenta, desde a falta de papel higiênico e medicamentos à escassez de alimentos a inflação, que segundo o secretário-geral, já estaria em 700%. Os venezuelanos não querem esperar até 2019, quando termina o mandato do presidente Nicolás Maduro, para tentar solucionar a grave crise que já reflete no Brasil e na Colômbia – países fronteiriços – com os inúmeros pedidos de refúgio por moradores da Venezuela. Leis aprovadas no parlamento são constantemente anuladas pelo judiciário, aparelhado pelo chavismo, e as forças militares podem deter e/ou torturar qualquer cidadão a mando dos governantes. Se bem que isso já acontecia quando o presidente Hugo Chávez governava, que instava a prisão de opositores em seu programa de televisão dominical.
“Trata-se de um governo autoritário, além de ineficiente e corrupto. Escasseiam drasticamente os alimentos, o povo adoece e não há remédios, a inflação é de 700% e tem as taxas de homicídios mais altas do mundo. Tudo isso, enquanto o montante estimado de dano ao patrimônio público por parte da classe governante é de US$ 300 bilhões, uma vez que as atividades do governo se veem entrelaçadas com o narcotráfico”, acusou Almagro.
É sabido que alguns chavistas são investigados nos Estados Unidos por suposto nexo com o narcotráfico, entre eles o deputado Diosdado Cabello – número dois no chavismo e ex-presidente da Assembleia Nacional – e o atual vice-presidente do país, Tareck El Aissami. Este também é investigado por, supostamente, permitir a venda de passaporte venezuelano de forma indistinta no Oriente Médio, inclusive para terroristas do Hezbollah.
No mês passado, o secretário-geral da OEA criticou as autoridades venezuelanas por terem cortado o sinal do canal ‘CNN en Español’ nas TVs a cabo, classificando o ato como censura e cerceamento à liberdade de informação para a população. Isso foi por conta de uma reportagem da televisora que mostrava um suposto esquema de venda de passaportes.
A chancelaria venezuelana acusou o dirigente continental de ‘conspiração’ e trouxe um histórico de situações as quais classificaram como tal, entre elas um encontro que ele teve com o opositor Henrique Capriles, em 2015, e o pedido para que o presidente Nicolás Maduro sancionasse uma lei de anistia a presos políticos aprovada pelo parlamento, no ano passado. O governo disse ter votado a favor de Luis Almagro para o cargo na organização e que tinha esperança de que ele ‘renovasse seu (da OEA) espírito, baseando-se na unidade’. Mas, a forma como abordou isso pareceu mais a cobrança de um favor feito.
Na semana passada, Almagro já tinha estabelecido o prazo de 30 dias para a Venezuela começar a atender suas exigências.
Na semana passada, Almagro já tinha estabelecido o prazo de 30 dias para a Venezuela começar a atender suas exigências.
A OEA não é a mesma de antes, pois embora os países integrantes do bloco sejam os mesmos, os governantes são outros, o que possibilita que o secretário-geral alcance seu objetivo. No Brasil, por exemplo, não é mais Dilma Rousseff (PT-RS), e sim Michel Temer (PMDB-SP); na Argentina não é mais Cristina Kirchner, e sim Mauricio Macri; no Uruguai não é mais José Mujica, e sim Tabaré Vázquez; no Paraguai não é mais Fernando Lugo, e sim Horacio Cartes. Todos os ex-líderes mencionados são simpatizantes da ditadura bolivariana. As quatro nações sul-americanas suspenderam, em dezembro passado, a Venezuela do Mercado Comum do Sul (Mercosul), devido às violações de direitos humanos recorrentes. Na ocasião, Caracas assumiria a presidência temporária do bloco subcontinental.
Se a situação da Venezuela já era complicada com Hugo Chávez vivo, complicou-se após sua morte. O carisma o sustentava. Seus herdeiros políticos não têm isso e tentam manter viva sua ideologia barata para sobreviverem no cargo, desde a tal oração do delegado, uma alusão ao Pai Nosso, à criação de um centro de estudos de pensamentos chavistas.
COMMENTS