Peru: Congresso destitui presidenta Dina Boluarte

Sexta-feira, 10 de outubro de 2025 Perda do mandato está ligada às crises política e na segurança pública; presidente do parlamento ocupa o ...

Sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Perda do mandato está ligada às crises política e na segurança pública; presidente do parlamento ocupa o cargo até novas eleições em 2026

Imagem: TV Perú - Redes Sociais - Print Screen

Último pronunciamento de Dina Boluarte como presidenta do Peru

A crise política no Peru ganhou novo capítulo com a destituição da presidenta Dina Boluarte, no final da noite dessa quinta-feira (9/10) no horário local – madrugada desta sexta-feira (10) em Brasília –, por parte do Congresso. Foram 123 votos favoráveis. O mínimo era de 87, segundo o portal La República.

Enquanto no Brasil o Congresso é formado por duas casas legislativas – Câmara dos Deputados e Senado –, na nação vizinha só existe uma, sendo composta por 130 parlamentares. No gigante sul-americano são 513 deputados federais e 81 senadores.

A agora ex-mandatária tinha sido convocada a se apresentar ao parlamento, às 23h30 dessa quinta-feira (9), para se defender das imputações de “permanente incapacidade moral”, contudo decidiu não comparecer. De acordo com seu advogado Juan Carlos Portugal, ela não iria à sessão legislativa, porque sua presença legitimaria um processo que “compromete seus direitos constitucionais”.

Paralelamente à votação que culminou na perda do cargo, Dina Boluarte, acompanhada de ministros e assessores políticos, fez um pronunciamento ao vivo que foi transmitido pelo canal de TV estatal. Defendeu seu mandato, destacou a construção do Porto de Chancay – fruto de uma parceria com a China –, e comentou sobre a situação do país quando assumiu a presidência em 2022.

A Polícia Nacional do Peru reforçou a segurança no entorno do parlamento, enquanto populares se aglomeravam nos arredores para se manifestar sobre a cassação do mandato de Dina Boluarte. O impeachment dela já era dado como certo, uma vez que alguns veículos noticiosos já haviam consultado bancadas partidárias para saber como cada legislador votaria.

O comando temporário da nação andina ficará com o presidente do parlamento, José Jerí, da banca Somos Peru, conforme estabelecido pela constituição local, até a realização de novas eleições em 12 de abril de 2026. Ele já prestou juramento de posse perante seus pares.

Imagem: Congresso do Peru - Redes Sociais - Print Screen

Os cidadãos peruanos se dividiam entre acompanhar simultaneamente a sessão no Congresso e o pronunciamento de despedida de Dina Boluarte 

Foram votadas quatro moções de vacância perante o parlamento para que Dina Boluarte deixasse o cargo. A perda do mandato presidencial está ligada à crise na segurança pública do país, marcada por extorsões e execuções sumárias praticadas por gangues contra empresários, artistas e motoristas de transportes públicos.

Durante um show da banda nortenha Agua Marina no Distrito de Chorrillos, na última quarta-feira (8), ao menos cinco pessoas ficaram feridas durante um tiroteio, cujos disparos teriam sido feito por bandidos numa motocicleta em meio à onda de extorsões que afeta o país e que as autoridades não conseguem dar conta.

Em março deste ano, por exemplo, o assassinato do cantor de cumbia Paul Flores, da banda Armonía 10, abalou o país, o que motivou o governo, na ocasião, a decretar estado de emergência. O ônibus em que o músico estava foi alvejado a tiros por sicários, por ele ter se negado a pagar taxa de segurança.

De janeiro a outubro de 2025, mais de 40 condutores de coletivos foram executados por se negarem a pagar taxa a grupos delinquentes. Jovens do Movimento Geração Z têm ido às ruas contra o governo e o parlamento para protestar contra a corrupção política, a violência e as extorsões praticadas por criminosos.

Os recentes protestos contra a agora ex-governante peruana têm também como pano de fundo uma recente reforma da previdência, na qual obrigaria todos os trabalhadores a adeir uma espécie de fundo de pensão. Durante uma manifestação ocorrida no último dia 27 de setembro, por exemplo, ao menos 18 pessoas ficaram feridas em confrontos com a polícia.

Somado tudo isso, ainda pesavam a baixa popularidade de Boluarte, com mais de 90% de reprovação, e a péssima relação com a imprensa.

O Peru está sem seus dois principais dirigentes. Em 2022, o então mandatário Pedro Castillo foi destituído do cargo sob acusação de tentar aplicar um autogolpe para dissolver ilegalmente o poder legislativo. Naquele mesmo ano ele foi preso e ficará na cadeia até o final de 2025. Com isso, Dina Boluarte, que era vice-presidenta, então assumiu de forma definitiva o posto de titular.