Terça-feira, 01 de janeiro de 2019 Informação atualizada em 01/01/2019, ás 23h27 Imagem: Marcelo Camargo / Agência Brasil / Reprodução /...
Terça-feira, 01 de janeiro de 2019
Informação atualizada em 01/01/2019, ás 23h27
Informação atualizada em 01/01/2019, ás 23h27
Imagem: Marcelo Camargo / Agência Brasil /
Reprodução / Creative Commons
Bolsonaro recebe a faixa presidencial de Temer |
A cerimônia de posse do presidente eleito Jair Messias Bolsonaro (JMB), do Partido Social Livre (PSL), na tarde desta terça-feira (1/1), em Brasília (DF), foi marcada por dificultação ao trabalho da imprensa, em nome de uma suposta segurança, e por discursos contra o socialismo, pró-religioso e de exaltação patriótica.
Limitação aos meios de comunicação
De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF), os profissionais de comunicação que foram cobrir o evento tiveram restrições de locomoção, inclusive para ir ao banheiro, e de alimentação.
“Desde o começo do dia, jornalistas que estão no Congresso e no Itamaraty reclamam de proibição de acesso aos banheiros e fornecimento de água, já que foi proibido que os jornalistas levassem garrafas de água para os locais. Houve até ameaças de tiro caso os trabalhadores deixassem a área reservada para imprensa. Alguns jornalistas estrangeiros já solicitaram suas respectivas saídas do Itamaraty devido ao tratamento desumano a que foram submetidos”, relatou o sindicato.
Também houve restrições ao público presente, como o uso de garrafas, bebidas alcóolicas e de carrinhos de bebê.
“Isso é inaceitável e não há qualquer justificativa de segurança que dê sentido a esse tratamento. Enquanto isso, alguns veículos alinhados ao novo governo recebem credenciais com livre acesso às cerimônias de posse, mostrando um favorecimento impensável em uma democracia”, criticou o SJPDF.
Ainda segundo a entidade, que recebeu inúmeras reclamações, embora o evento estivesse previsto para as 15h, os profissionais tiveram de aguardar ‘isolados’ desde às 7h da manhã. Os jornalistas foram revistados por meio de detectores de metal. Eles não puderam transitar entre o Palácio do Planalto e o Congresso.
Alguns dias antes da cerimônia, a equipe de transição do novo governo havia proibido que no dia da posse os repórteres usassem máscara e mochila, o que foi criticado, porque eles precisam carregar câmeras, microfones, bloco de anotações, entre outros itens inerentes às funções. Sobre o uso de capacetes, máscaras de gás e coletes á prova de bala, o sindicato explicou que se tratam de equipamentos de proteção individual (EPIs) recomendados pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) a jornalistas, para evitar tragédias como a que aconteceu com o cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, em 2014, durante a onda de protestos que tomou conta do país.
O supracitado sindicato também criticou que o Exército tenha ocupado as instalações da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), ao qualificar o ato como ‘demonstração de força’ e algo ‘exagerado, desnecessário e inadequado’.
Para a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), ‘um governo que restringe o trabalho da imprensa ignora a obrigação constitucional de ser transparente’.
Discursos e beijo ‘hétero’
O novo chefe de Estado discursou no Congresso e depois no Palácio do Planalto, logo após a transferência (foto 1) da faixa presidencial por parte do ex-presidente Michel Temer (MDB). Bolsonaro segurou a bandeira brasileira, afirmando que ela jamais seria vermelha, falou em combater o que chamou de ‘ideologia nefasta, referindo-se ao socialismo, e criticou a ideologia de gênero. Parecia ainda estar em campanha. Não foi muito diferente do que disse em outubro, quando foi eleito. Também falou em Deus, em combater a corrupção e em resgate de valores éticos e morais.
Ao defender um combate à corrupção e o resgate a valores éticos e morais, JMB se contradisse, quando se sabe que nomeou alguns ministros suspeitos de envolvimento em corrupção.
Antes mesmo de assumir, o novo mandatário já lidava com um escândalo no qual o filho Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), eleito senador no Rio de Janeiro, é mencionado. Conforme investigações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão ligado ao Ministério da Fazenda, o ex-motorista do filho, o policial militar Fabrício Queiroz, teria movimentado cerca de R$ 1,2 milhão, cujos depósitos em conta costumavam ocorrer logo após o pagamento dos salários na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), na época que o parlamentar era deputado estadual. As atividades são consideradas suspeitas, inclusive um depósito favorecendo a nova primeira-dama no valor de R$ 24 mil. O ex-servidor já foi convidado ao menos quatro vezes para prestar esclarecimentos ao Ministério Público (MP), mas faltou a todas, ao alegar motivo de doença. Contudo, não parecia enfermo, quando concedeu, recentemente, uma entrevista sem pé nem cabeça ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), não respondendo absolutamente nada e sustentando que só falaria ao MP. Era constrangedor ver a jornalista pedindo-o permissão para perguntá-lo.
Imagem: Marcelo Camargo / Agência Brasil /
Reprodução / Creative Commons
Bolsonaro marca um novo paradigma na política brasileira |
Uma quebra de protocolo na cerimônia presidencial foi o fato de a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, ter feito em discurso em linguagem brasileira de sinais (libras), inclusive usando o slogan da campanha ‘Brasil acima de tudo, Deus acima de todos’. Ao permitir que a esposa discursasse, JMB tenta se desvincular do estereótipo de ‘misógino’. Rolou beijo ‘hétero’. O público pediu e o casal presidencial se beijou (foto 2).
Embora esteja muito cedo para fazer prognósticos e pré-julgamentos, é possível pressupor que o atual governo será marcado por batalhas contra a imprensa, ou grande parte dela, contra os movimentos sociais e pela manutenção dos discursos que tiraram muitos cidadãos dos armários e o elegeram.
O vice-presidente Hamilton Mourão, do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), foi acompanhado de sua esposa Paula.
O vice-presidente Hamilton Mourão, do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), foi acompanhado de sua esposa Paula.
PT e PSOL não comparecem à posse no Congresso
Os partidos dos Trabalhadores (PT) e Socialismo e Liberdade (PSOL) haviam anunciado que não participariam da cerimônia de posse no Congresso. O PT disse reconhecer o resultado nas urnas, mas que não daria ‘aval a um governo autoritário, antipopular e antipatriótico, marcado por abertas posições racistas e misóginas, declaradamente vinculado a um programa de retrocessos civilizatórios’. Em um momento nostálgico, a legenda destacou em seu portal que há 16 anos o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subia as rampas do Palácio do Planalto. Atualmente, o petista cumpre pena em Curitiba (PR), no âmbito da operação Lava-Jato, por supostos crimes de corrupção no caso do tríplex do Guarujá.
COMMENTS