Domingo, 20 de agosto de 2017 “Chávez, nosso, que estás no céu, na terra e no mar e em nós, os delegados e delegadas. Santificado seja ...
Domingo, 20 de agosto de 2017
“Chávez, nosso, que estás no céu, na terra e no mar e em nós, os delegados e delegadas. Santificado seja o seu nome, venha a nós o seu legado para levá-lo aos povos de aqui e de lá. Dê-nos a tua luz para que nos guie cada dia. Não nos deixe cair na tentação do capitalismo, mas nos livre de maldade da oligarquia, do delito do contrabando porque da gente é a pátria, a paz e a vida. Pelos séculos dos séculos. Amém”.
Acima é a Oração do Delegado, apresentada durante o III Congresso do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), em setembro de 2014, um ano e meio após a morte oficial do ex-presidente venezuelano, Hugo Chávez. Manter viva a memória do falecido, numa espécie de alimento espiritual, era a forma que o presidente Nicolás Maduro, sem nenhum carisma e com viés autoritário, precisava para manter a população sob controle ante a insatisfação com o rumo que o país tomava: crise econômica, inflação crescente e a grave escassez de alimentos e de medicamentos.
Ao que parece, a tal Oração do Delegado não faz mais o devido efeito. Não é capaz de preencher o vazio estomacal de milhares de venezuelanos que têm migrado a nações vizinhas como Brasil e Colômbia em busca de comida, de trabalho e para fugir de uma suposta perseguição política. Semana passada, a imprensa local e estrangeira relatou o roubo de ao menos 10 animais de um zoológico no estado de Zulia, ao oeste do país. Acredita-se que tenha sido para serem comidos, por conta da escassez de alimentos.
Até os bichos de zoológicos, supostamente, estariam sofrendo com a escassez de alimentos. Saques a supermercados também acontecem. Em 2014, autoridades venezuelanas disseram que implantariam o sistema de biometria nos supermercados para limitar a quantidade de produtos comprados. Definitivamente, o socialismo não enche barriga! Mas, tenta impor ao povo um voto de pobreza.
O trecho da reza chavista, negritado por OPINÓLOGO, tem algo curioso: fala em livramento do delito de contrabando. Vale salientar que alguns membros do governo são investigados nos Estados Unidos por suposto nexo com o tráfico de drogas, entre eles o ex-presidente da Assembleia Nacional antes da eleição de 2015 Diosdado Cabello.
Golpe de estado a favor do governo
Imagem: @lortegadiaz / Twitter / Reprodução
No passado, ela era chavista; no presente, uma adversária de peso |
No dia de sua fuga, agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), a polícia secreta pró-governo, haviam invadido sua residência para tentar prendê-la por suposta traição à pátria.
No início deste mês, Ortega Díaz foi destituída do cargo pela Assembleia Nacional Constituinte (ANC), formada exclusivamente por deputados governistas numa eleição realizada no último dia 30 de julho e não reconhecida pelos deputados da Assembleia Nacional, eleita em 2015 e de maioria opositora.
Acredita-se que houve fraude eleitoral na votação para a ANC, tendo em vista que grande parte do eleitorado não votou, segundo a Mesa de Unidade Democrática (MUD), coalizão composta por partidos de oposição. A suspeita de que houve ‘manipulação’ é sustentada pela Smartmatic, empresa responsável pelas urnas eletrônicas. Contudo, alguns partidos antigovernistas podem acabar colocando por terra todo o discurso de que no país se instaurou uma ditadura por meio do golpe ao parlamentar: pretendem lançar candidatos para as eleições a governador. Note-se que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), subordinado ao governo, manipula ao bel-prazer o calendário eleitoral. Ao final de 2016 deveria ter ocorrido eleição, mas não aconteceu até o presente momento. O chavismo poderia ter perdido inúmeros assentos para a oposição por conta da grave crise econômica.
Imagem: @lortegadiaz / Twitter / Reprodução
Já era o prenúncio de uma caçada política |
A presidência da ANC está nas mãos da ex-chanceler Delcy Rodríguez, uma das mais ferrenhas defensoras do chavismo. Os constituintes pretendem escrever uma nova carta magna e atribuíram para si a decisão sobre os demais poderes da república. Nem sempre os golpes de estado são perpetrados pela oposição. Esse, por exemplo, é o caso da Venezuela, cuja cúpula governista aplicou um para manter-se no poder.
A ex-procuradora condenou a ruptura da ordem democrática no país e as violações de direitos humanos. Em quatro meses de protestos diários contra o governo, mais de 100 venezuelanos foram mortos em confrontos contra a polícia ou milicianos pró-governo.
Em julho passado, Ortega Díaz rompeu com o chavismo, após criticar magistrados do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), todos pró-governo, por terem anulado os poderes da Assembleia Nacional, à época de maioria opositora. Em represália, a suprema corte nomeou uma procuradora geral substituta, mas esta foi impedida pela titular de adentrar ao recinto. Somente o parlamento pode cassar o mandato de um procurador.
A queda de braço entre o judiciário e o legislativo se devia ao fato de este último se recusar a cassar o mandato de três parlamentares oposicionistas, conforme decisão judicial. Os deputados em questão foram acusados de supostas irregularidades durante a campanha eleitoral de 2015. O surpreendente em tudo isso é que nenhum chavista foi processado por tal circunstância em todos esses anos de chavismo.
Também em julho, Ortega criticou a invasão ao parlamento que resultou em deputados agredidos e feridos por simpatizantes governistas.
No passado, a Ortega Díaz foi favorável à prisão do ex-prefeito de Chacao Leopoldo López, prisioneiro político. No mês passado, ele tinha sido transferido para prisão domiciliar, mas pouco tempo depois acabou voltando para o regime fechado.
Trump sustenta discurso da esquerda
Brasil, Colômbia, Peru, Chile, Argentina, México, Estados Unidos e a União Europeia criticaram a instauração da ANC e a destituição de Luisa Ortega Díaz. O presidente norte-americano, Donald Trump, cogitou a possibilidade de uma ação militar na Venezuela, no entanto, os países sul-americanos rechaçaram a ideia. A declaração do líder estadunidense só serviu para sustentar o discurso de Maduro de que o “imperialismo” pretende dominar o país.
Ao menos oito magistrados – recém-eleitos pela Assembleia Nacional, de maioria opositora – pediram refúgio à Embaixada do Chile na Venezuela, para evitarem ser presos. O parlamento havia destituído os indicados por Nicolás Maduro em 2015.
Vale lembrar que os atuais acontecimentos na Venezuela contam com a simpatia dos partidos dos Trabalhadores (PT) e Socialismo e Liberdade (PSOL), além do Foro de São Paulo, entidade que reúne partidos políticos de esquerda latino-americanos.
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