Terça-feira, 14 de março de 2017 Enquete Jair Bolsonaro x Lula Imagem: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil / Reprodução / Crea...
Terça-feira, 14 de março de 2017
Enquete Jair Bolsonaro x Lula
Imagem: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil /
Reprodução / Creative Commons
No mês passado, um dos seus filhos, o deputado federal Flávio Bolsonaro (PSC-RJ), tentou desacreditar as pesquisas e resolveu lançar uma enquete em seu perfil no twitter, ao simular uma eventual disputa entre o pai e Lula. O petista ganhou disparado com 69% dos votos entre os mais de 211 mil internautas consultados. A militância de Jair não foi capaz de reverter esse resultado constrangedor. Apesar das acusações imputadas a Lula na Lava-Jato, ele ainda lidera a preferência do eleitorado.
‘Bolsonarismo’
Se antes o modo de pensar de Bolsonaro era objeto de rejeição – e continua sendo –, atualmente está em ascensão no Brasil. Ainda está cedo para dizer que o ‘bolsonarismo’ está em alta, mas seu radicalismo começa a estar na moda. Seus pontos de vista extremamente conservadores são os mesmos de muitos outros que outrora se escondiam e agora sentem orgulho de compartilhar de tais linhas de pensamento. O que comprova isso é seus mais de 464 mil votos nas eleições de 2014 que o colocaram como o candidato mais votado do Rio de Janeiro para a Câmara dos Deputados.
O ‘fenômeno’ Bolsonaro está em evidência por vários motivos: 1) o fracasso do neossocialismo liderado pelo chavismo na América Latina; 2) as pessoas mais conservadoras – boa parte evangélica, heterossexual e contra o casamento gay e o que chamam de forçação de barra midiática para impor às pressas a agenda LGBT – sentem que seus valores de família (macho e fêmea) estão sendo ameaçados por pautas tachadas de esquerdistas e por considerar uma intromissão do Estado na educação de seus filhos, quando se pretende discutir ideologia de gênero nas escolas, por exemplo; 3) a corrupção e a violência generalizadas no Brasil e as sensações de descrença e de impunidade na política e na justiça; 4) o efeito Trump: a vitória do magnata Donald Trump para presidente dos Estados Unidos impulsiona uma direita que quer se apropriar do tradicionalismo para garantir a sobrevivência num contexto de globalização.
E Jair Bolsonaro tem sabido aproveitar isso. Hoje conta com uma militância que o apelidou de ‘bolsomito’, que o defende nas redes sociais com unhas dentes e ataca, sempre com menosprezo, seus críticos. Não difere muito das táticas utilizadas pela oposição nos últimos anos. Nem mesmo sua forma de pensar, os escassos projetos de lei aprovados em mais de duas décadas de vida parlamentar e o processo que enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta apologia ao estupro são suficientes para convencer seus simpatizantes do contrário. Em entrevista publicada pela ‘Folha de São Paulo’ nessa segunda-feira (13/3), disse que não seria a imprensa ou a corte a calá-lo no episódio envolvendo a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), de que ela ‘não merece [ser estuprada], porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia’.
A declaração repetida em 2014 é, por si só, um absurdo, exceto para os adeptos ao ‘bolsonarismo’ que não veem nada demais nisso, não porque o alvo do parlamentar foi uma mulher, e sim uma petista, uma socialista, uma defensora dos direitos humanos, uma ‘defensora de bandidos’. Há uma espécie de cumplicidade ou cegueira ideológica que tem sido usada para definir o caráter de uma pessoa.
O fato de um eleitor ser de direita não deveria significar que se tem de concordar com tudo que um político de direita diz ou faz. O mesmo conceito deveria valer para a esquerda. Mas, em ambos os lados não é assim que a coisa funciona. Por questão de orgulho, Bolsonaro não se desculpou apenas com a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Deixou de fazê-lo a todas as mulheres, o que talvez tivesse evitado a ação que enfrenta. Como bem disse o filósofo grego Sócrates, ‘se o desonesto soubesse a vantagem de ser honesto, ele seria honesto por desonestidade’. No contexto deste artigo é a honestidade intelectual.
“Não vou discutir [sobre a acusação]. Não é a imprensa e o Supremo que vão falar o que é limite para mim. Vão catar coquinho, não vou arredar em nada, não me arrependo de nada do que falei”, disse Bolsonaro na recente entrevista ao diário paulistano.
“Por que seria [punido]? Eu tenho imunidade para quê? Sou civil e plenamente inimputável por qualquer palavra. Posso falar o que bem entender, isso é democracia. Já dei soco em alguém, dei tiro, dei coice?”, continuou.
Não são os meios de comunicação ou a suprema corte que colocam freios, mas o peso da lei. A imunidade parlamentar não pode ser absoluta e precisa ser inerente ao cargo, o que não parece ser o caso. Como político, ele poderia, sim, tê-la criticado por suas posições políticas, atuação, entre outras coisas.
Para os ‘bolsonaristas’, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) se tornou uma espécie de divindade da virtude e da moralidade, por ser um dos poucos políticos a não estar involucrado em escândalos de corrupção e por ser alguém que fala a ‘verdade’. O conceito de verdade é muito subjetivo. E ser honesto, tanto em atos quanto em palavras, deveria ser uma obrigação de qualquer indivíduo de vida pública, não um favor e/ou diferencial. Nas viagens que tem feito Brasil afora, é recebido por centenas ou milhares de fãs em aeroportos. Coisa assim só foi vista a jogadores da seleção ao ganharem uma Copa do Mundo.
O fato de o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) ter recebido somente quatro votos para presidente da Câmara dos Deputados, no mês passado, é um ‘elogio’ para sua militância, que vê como uma confirmação de que ele não seria corrupto como os demais colegas.
Estatuto do Desarmamento e a legalização da maconha
Bolsonaro é contra o Estatuto do Desarmamento e defende o uso da violência para combater a violência. Seu discurso está ancorado na insatisfação do cidadão comum e de bem que paga impostos e não é correspondido pelo Estado, que é incapaz de garantir sua segurança.
Bolsonaro também é contra a descriminalização da maconha. “Ele (o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, PSDB-SP) está para ganhar o título de princesa Isabel da maconha, porque quer liberar as drogas no Brasil”, disse em dada ocasião. Para os defensores da liberação, a legalização das drogas diminuiria a influência do narcotráfico. Na verdade, exaltaria o fracasso do Estado brasileiro por render-se ao consumo, baseado naquele velho ditado de que ‘quando não se pode com eles, junte-se a eles’.
Eleitorados parecidos
Os eleitores de Bolsonaro têm algumas características similares aos que elegeram pela primeira vez Lula para presidente em 2002, apesar de ambos estarem ideologicamente em polos opostos. São brasileiros que já sentiram o peso da inflação e da crise econômica e assistem a um Brasil que ainda não deu certo. No primeiro, os que só conhecem sobre a ditadura nos livros de História; no segundo, os que a viveram. Nos dois casos, o pensamento é de renovação política em prol de melhorias.
Para testar sua popularidade, Jair Bolsonaro (PSC-RJ) lançou o filho Flávio Bolsonaro (PSC-RJ), que é deputado estadual no Rio de Janeiro, candidato a prefeito no ano passado. O nome do clã familiar fez com que ele lograsse 14% dos votos válidos, o que é bastante positivo para uma primeira candidatura a cargo executivo ante uma atuação pífia nos debates. Pode até ser que Jair Bolsonaro não ganhe em 2018, mas é certo que poderá tirar muitos votos de concorrentes que disputam o apoio da direita, e a partir de seu nicho ser valorizado entre os partidos. Ele não deve ser descartado. Poucos também levavam fé em Donald Trump, e o resultado todos já sabem, embora o sistema eleitoral no Brasil e nos Estados Unidos seja totalmente distinto.
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