Domingo, 26 de março de 2017 Países que reabriram seus mercados à carne brasileira Imagem: Pixabay / Reprodução / Creative Common...
Domingo, 26 de março de 2017
Países que reabriram seus mercados à carne brasileira
Imagem: Pixabay / Reprodução / Creative Commons
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Aos poucos o governo brasileiro vai contornando a crise gerada com a operação Carne Fraca, da Polícia Federal (PF). China, Chile, Egito e Coreia do Sul retiraram, nesse sábado (25/3), o embargo à carne brasileira. Essas nações tinham suspendido a importação no início da semana passada, por conta das suspeitas de que os produtos nacionais pudessem estar em desacordo com regulamentações sanitárias de seus respectivos locais.
“A decisão do governo da China de reabrir o seu mercado à proteína animal produzida no Brasil é o reconhecimento da confiabilidade de nosso sistema de defesa agropecuária. Nosso país construiu grande reputação internacional neste segmento. E o posicionamento chinês é a confirmação de todo trabalho de esclarecimento levado a termo pelo governo brasileiro nestes últimos dias em todos os continentes. Agradecemos o gesto do governo do presidente Xi Jinping. Temos uma parceria que gerou muitos frutos e, com certeza, muitos ganhos ainda teremos com a sólida relação bilateral entre nossas nações. Estamos plenamente confiantes que outros países seguirão o exemplo da China”, expressou o presidente Michel Temer (PMDB-SP).
Pequim suspendeu apenas a compra de carnes produzidas num frigorífico em Lapa (PR), pertencente à Seara, do grupo JBS, além do cancelamento de registro de sete veterinários brasileiros. A China é o segundo maior consumidor de carne brasileira, atrás somente de Hong Kong, que é uma região administrativa controlada por ela. As importações renderam US$ 1,75 bilhão aos produtores nacionais.
Já Santiago vetou temporariamente seu mercado aos 21 frigoríficos investigados na supramencionada operação. Os chilenos compram bovinos, frangos e suínos. O país sul-americano é o nono maior importador de carnes brasileiras. Em 2016, gastou US$ 441,3 milhões.
Cairo repetiu o gesto. O Ministério da Agricultura egípcio disse ter certeza da qualidade da carne brasileira e de estar em acordo com as leis islâmicas, depois de analisar bovinos e frangos em três diferentes laboratórios estatais. O país é o sétimo maior importador de carnes brasileiras e no ano passado rendeu aos frigoríficos nacionais US$ 692,2 milhões, de acordo com o Palácio do Planalto.
Seul reforçará as inspeções sanitárias ao produto brasileiro. A Coreia do Sul não está na lista dos 10 maiores compradores de carne brasileira, mas, ainda assim, é um importante mercado.
Somente os três primeiros compradores supracitados renderam quase US$ 3 bilhões aos frigoríficos brasileiros. A exportação de carne brasileira, de modo geral, gera, em média, US$ 12 bilhões anuais.
Como bem disse ao OPINÓLOGO a advogada Blenda Lara, especialista em comércio internacional, o Brasil precisa mostrar uma política de transparência na apuração dos fatos e na punição aos culpados, para suspender gradativamente os embargos e reconquistar a confiança dos mercados interno e externo.
A PF deflagrou a operação Carne Fraca no último dia 17 de março, para investigar uma suposta organização criminosa formada por políticos, servidores do Mapa e empresas. Os fiscais fariam vista grossa à adulteração de carnes praticada por alguns frigoríficos, desde injeção de água em excesso para dar maior peso a frangos ao uso de produtos químicos para inibir o odor de carne estragada, por exemplo. Por conta disso, vários países, entre eles a União Europeia, tomaram medidas de embargo à carne brasileira.
Últimos acontecimentos
Neste domingo (26), o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, responsável pela operação Carne Fraca, determinou a soltura de três suspeitos. São eles: Antônio Garcez da Luz, Brandízio Dário Júnior e Rafael Nojiri Gonçalves. Eles foram presos temporariamente – por cinco dias – no último dia 17, mas tiveram a prisão prorrogada por igual período. Outros 25 suspeitos não têm prazo para deixar as celas, por estarem em prisão preventiva. Apenas um empresário é considerado foragido, segundo a ‘Agência Brasil’.
As consequências da operação Carne Fraca também começam também a ser sentidas internamente. O Carrefour retirou de suas prateleiras produtos dos frigoríficos supracitados, não das marcas. O grupo Pão de Açúcar – dono dos supermercados Pão de Açúcar e Extra – bloqueou a compra de carnes dos frigoríficos interditados pelo Ministério da Agricultura, publicou a revista ‘Exame’.
Dois frigoríficos pertencentes ao grupo Central de Carnes Paranaense Ltda. demitiram 280 funcionários nos últimos dias, informou o portal ‘G1’. O frigorífico Souza Ramos, por exemplo, é investigado por ter, supostamente, entregado salsichas de frango como se fossem de peru, em 2014. Os embutidos eram destinados à merenda escolar. Depois e a Secretaria de Estado de Educação do Paraná ter detectado o problema, o contrato foi encerrado e uma investigação interna foi aberta.
Nos Estados Unidos, um grupo de investidores entrou com uma ação judicial contra a JBS – proprietária das marcas Seara, Friboi e Swift – por prejuízos financeiros que tiveram, com a queda das ações em bolsas de valores daquele país, decorrente da operação Carne Fraca, de acordo com o jornal ‘O Globo’.
A JBS interrompeu a produção de 33 de seus 36 frigoríficos, de quinta-feira (23) a esse sábado (25), para ajustar a produção, já que está impedida temporariamente de exportar. O conglomerado trabalhará apenas com 35% de sua capacidade e em nota reforçou pela manutenção do emprego de seus 125 mil funcionários no país. A empresa destaca, em anúncios, que na primeira parte das denúncias da supramencionada operação policial não há qualquer acusação contra ela, nem seus frigoríficos foram interditados.
A BRF Brasil Foods – dona da Sadia e Perdigão – também lida com o escândalo provocado pela operação Carne Fraca. Um dos principais frigoríficos, o de Mineiros, em Goiás, foi interditado temporariamente pelo Ministério da Agricultura. A empresa está deixando de abater 25 mil perus por dia para enviar ao exterior, segundo o ‘Estadão’. Por conta disso, há outro problema: se essas aves ultrapassarem os 25 quilos, não servem mais para ser abatidas por questões de produção e de exigências mercado internacional. A empresa também ressalta, em anúncios, o elevado padrão de qualidade de seus produtos e é investigada por, supostamente, pagar suborno a fiscais para evitar o fechamento da unidade de produção citada por questões sanitárias.
A PF foi criticada pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e por entidades ligadas ao agronegócio pelo suposto alarmismo que gerou ao divulgar a operação como a ‘maior’ de sua história. Embora somente 21 frigoríficos – dos 4.837 licenciados no país – sejam citados e/ou investigados, o assunto ganhou proporção gigantesca pelo fato de as duas maiores empresas brasileiras do setor – JBS e BRF Brasil Foods –, que também figuram entre as maiores do mundo, estarem nesse imbróglio.
A crise causa efeitos diretos à economia brasileira, que é dependente do agronegócio, responsável por 22% do Produto Interno Bruto (PIB) e por cerca de 20% dos empregos gerados no país.
Países que embargaram frigoríficos investigados
A União Europeia suspendeu temporariamente a compra de suínos e aves de três frigoríficos citados e/ou investigados, além de um frigorífico de bovinos. Os mesmos não foram especificados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil (Mapa). O bloco europeu pediu explicações sobre a situação dos 21 frigoríficos alvos da operação. Dos 28 países-membros, dois deles – Holanda e Reino Unido – listam entre os dez maiores compradores. O primeiro, na sétima colocação, comprou o equivalente a US$ 713,8 milhões no ano passado, enquanto o segundo, na décima posição, US$ 387,6 milhões.
Para dar maior segurança às autoridades europeias e evitar um embargo generalizado, o Mapa revogou temporariamente a licença de importação dos 21 frigoríficos em questão. Novas inspeções sanitárias estão sendo realizadas, inclusive com exames laboratoriais de carnes vendidas em diferentes supermercados no país.
A Suíça, por exemplo, suspendeu a compra dos mesmos quatro frigoríficos que a União Europeia. O país não faz parte do bloco continental.
Arábia Saudita, Japão, Emirados Árabes Unidos, África do Sul, Canadá, Vietnã e Peru também embargaram temporariamente apenas os frigoríficos citados e/ou investigados e dos quais são clientes.
Riad é o terceiro maior comprador de carnes brasileiras, atrás somente de Hong Kong e China, respectivamente. Os árabes gastaram US$ 1,27 bilhão no ano passado.
Tóquio é o quinto maior cliente dos frigoríficos brasileiros e gastou US$ 747,2 milhões no mesmo período.
Abu Dabi é o oito maior cliente de carne brasileira. Em 2016, deixou aos frigoríficos nacionais US$ 585,6 milhões.
Os demais países não listam entre os 10 maiores clientes, mas também são mercados importantes para a economia brasileira.
Países onde o embargo total está vigente
Hong Kong, México, Argélia, Jamaica, Qatar, Panamá, Trinidad e Tobago, Bahamas, São Vicente e Granadinas, São Cristóvão e Névis e Granada embargaram produtos cárneos ou carnes processadas brasileiras.
Hong Kong é o maior consumidor de carnes brasileiras. No ano passado gastou US$ 1,84 bilhão.
O México, por exemplo, não está entre os dez maiores clientes de frigoríficos brasileiros. O país asteca só importa frangos.
Países que não criaram barreiras à carne brasileira, mas aumentaram as fiscalizações
Estados Unidos, Argentina e Malásia não criaram barreiras à carne brasileira, mas decidiram elevar o nível de inspeções dos produtos que chegam em seus portos. Essas três nações não listam entre os dez maiores importadores. A Argentina, por integrar o Mercado Comum do Sul (Mercosul) junto com o Brasil, é um importante aliado comercial.
Países que não criaram barreiras à carne brasileira e pediram explicações ao governo brasileiro
Rússia, Israel e Barbados não criaram barreiras à carne brasileira, mas pediram explicações, por meio do Mapa, ou de embaixadas brasileiras em seus países.
Moscou é o quarto maior destino das exportações de carne brasileira. No ano passado, o país euroasiático gastou US$ 1,04 bilhão.
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