Domingo, 09 de fevereiro de 2014 Polêmica em torno do comentário da jornalista do SBT Rachel Sheherazade, que disse ser 'compreensíve...
Domingo, 09 de fevereiro de 2014
Polêmica em torno do comentário da jornalista do SBT Rachel Sheherazade, que disse ser 'compreensível' a ação de 'justiceiros' se defenderem; tratava-se de uma referência à ação que deixou um adolescente preso a um poste sob suspeita de praticar furtos em bairros do Rio.
Polêmica em torno do comentário da jornalista do SBT Rachel Sheherazade, que disse ser 'compreensível' a ação de 'justiceiros' se defenderem; tratava-se de uma referência à ação que deixou um adolescente preso a um poste sob suspeita de praticar furtos em bairros do Rio.
Os comentários na TV
“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”, já falava o filósofo francês Voltaire, do século 18, que parecia conhecer mais sobre liberdade de expressão do que os povos do século 21. Um exemplo disso está na polêmica em torno do discurso (vídeo) da apresentadora do 'SBT Brasil', Rachel Sheherazade (foto 1), do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), que, na última quarta-feira (4/2), afirmou ser 'compreensível' a ação de 'justiceiros', que teriam prendido com uma tranca de bicicleta um jovem negro de 15 anos a um poste, deixando-o nu e com parte da orelha decepada, no bairro do Flamengo, zona sul carioca, no passado dia 31 de janeiro. O adolescente seria considerado suspeito de furtos na região.
Vídeo: SBT / You Tube / Reprodução
“O marginalzinho amarrado ao poste era tão inocente, que em vez de prestar queixa contra os seus agressores, ele preferiu fugir, antes que ele mesmo acabasse preso. É que a ficha do sujeito está mais suja do que 'pau de galinheiro'!!!. Num país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, que arquiva mais de 80 por cento de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos 'vingadores' é até compreensível!!! O Estado é omisso, a polícia, desmoralizada, a Justiça é falha. O quê que resta ao cidadão de bem que ainda por cima foi desarmado??? Se defender, é claro!!! O contra-ataque aos bandidos é o que eu chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado e contra um estado de violência sem limites. E aos defensores de direitos humanos, que se apiedaram do marginalzinho preso ao poste, eu lanço uma campanha: faça um favor ao Brasil: 'adote um bandido!'”, disse a âncora de TV.
Em depoimento à Polícia, o menor disse que teria sido perseguido por uns 30 homens 'brancos e fortes'. 'Nada' racista.
Em nota, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e a Comissão de Ética da entidade criticaram a âncora, ao alegar que ela teria, supostamente, desrespeitado e violado os direitos humanos, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069/90), e o próprio estatuto dos jornalistas, cujos artigos seguem:
Imagem: Divulgação
Rachel Sheherazade |
“Art. 6º É dever do jornalista:
I – opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos;
XI – defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas, em especial as das crianças, adolescentes, mulheres, idosos, negros e minorias;
XIV – combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou de qualquer outra natureza.
Art. 7º O jornalista não pode:
V – usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime;”
“O Sindicato e a Comissão de Ética do Rio de Janeiro solicitam à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) que investigue e identifique as responsabilidades neste e em outros casos de violação dos direitos humanos e do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, que ocorrem de forma rotineira em programas de radiodifusão no nosso país. É preciso lembrar que os canais de rádio e TV não são propriedade privada, mas concessões públicas que não podem funcionar à revelia das leis e da Declaração Universal dos Direitos Humanos”, informou a entidade jornalística.
O Partido Socialismo e Liberdade (Psol) e o deputado federal Ivan Valente (SP) – da mesma legenda – repudiaram as declarações de Rachel Sheherazade, e disseram que pretendem protocolar no Ministério Público denúncia contra ela e a emissora por suposta 'apologia ao crime'. “Em pleno meio de comunicação, em horário nobre, foi feita a apologia de crime. Essa jornalista simplesmente disse que tem razão os vingadores que fizeram justiça com as próprias mãos, em torturar, porque a polícia para ela está desmoralizada, a Justiça não opera e é necessário voltar ao velho oeste e fazer justiça com as próprias mãos”, justificou o parlamentar.
“Defendo total liberdade de imprensa, mas não a liberdade para mandar torturar, matar, assassinar e fazer justiça com as próprias mãos e ser anticonstitucional, ilegal e aplaudida, para quê? Atrás do ibope, atrás do medo da população, da marginalidade, atrás daquilo que não se investe em saúde, em educação, em mobilidade urbana, em resposta à pobreza que está aí?”, continuou o deputado psolista.
Imagem: Twitter / Reprodução
Sheherazade recebeu o apoio do pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), que acusou os partidos de esquerda de, supostamente, quererem 'implantar o caos rumo ao totalitarismo'. Em seu perfil no Twitter, fez uma série de comentários (foto 2).
Ao que parece, o adolescente não seria 'flor que se cheire'. Reportagem da 'Veja' mostra que, no último dia 28 de janeiro, ele teria, supostamente, comandado uma surra, junto a três amigos, a outro menor acusado de trair milicianos e ser informante de policiais em uma favela da zona oeste. As agressões teriam acontecido em um abrigo no Centro do Rio, após ter sido levado há um mês sob acusação de ter assaltado um músico que caminhava às 3h da manhã no Aterro do Flamengo.
Já nessa sexta-feira (6), Rachel Sheherazade e o colega de bancada Joseval Peixoto buscaram esclarecer que os comentários dela são dela, não da emissora. E que quando esta opina, é por meio de editorial. Ela salientou que disse ser 'compreensível' o fato de a população se defender diante da ausência do poder público, não, 'aceitável'.
Antes de continuar, é preciso citar o Artigo 5º da Constituição Federal:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;”
Mexendo com a esquerda
O 'pecado' da apresentadora não foi dizer que 'compreendia' quem faz justiça por conta própria. E sim, tirar os esquerdistas – ou esquerdopatas – de sua zona de conforto, ao sugerir que adotassem um bandido. Sempre foi muito fácil bater no peito, dizer que é ativista, defensor dos direitos humanos – apesar da predileção por bandidos e ditadores ao invés das vítimas – e socialista. Embora pobreza e socialismo sempre gostem de mostrar que estão de mãos dadas, vários de seus adeptos têm uma espécie de apatia, aversão à pobreza: basta observar os que Você conhece e que promovem um verdadeiro 'culto' ao capitalismo com seus carrões do ano, celulares de última geração, morando em mansões e apartamentos caros da zona sul, ocupando os melhores quartos de hotéis e os restaurantes mais caros. São como políticos que se juntam a seus antigos rivais em época de campanha.
'Um elefante incomoda muita gente; Rachel Sheherazade incomoda muito mais'. Ela acabou chamando atenção para a negligência e as mazelas do poder público. Portanto, disse o que está no inconsciente coletivo e que deveria continuar 'adormecido'. Com a desculpa de que ela é uma jornalista e o canal, uma concessão pública, os esquerdopatas tentam calá-la sob o preceito de que esse tipo de profissional não deve ter opinião, e sua tarefa seria a de relatar o cotidiano com imparcialidade. Vale lembrar que o jornalismo possui três funções sociais: informar, entreter e orientar (por meio da opinião). Este último aspecto é defendido, por exemplo, pelos escritores José Marques de Melo (em A Opinião no Jornalismo Brasileiro) e Luiz Beltrão (em Jornalismo Opinativo).
O discurso de Sheherazade poderia ser usado 'intencionalmente' como desculpa para que partidos de esquerda tentem justificar o plano morboso de 'regulamentar' a mídia para torná-la mais 'educativa' e descentralizá-la dos grandes grupos empresariais.
Em entrevista ao portal 'NaTelinha', a jornalista teria dito que o Psol estava buscando uma maneira de 'ganhar manchetes' às vésperas da eleição para desviar a atenção dos eleitores para escândalos de suposta corrupção envolvendo seus políticos. E que a legenda, junto com o Partido dos Trabalhadores (PT), apoia o 'controle da mídia'.
O adolescente trancado ao poste é um estereótipo perfeito do ativismo social: é negro, pobre, morador de favela, e menor. Tudo isso conspira para que seja convertido em uma vítima da sociedade, mesmo sendo um 'marginalzinho'.
O que tais 'justiceiros' fizeram foi se rebaixar ao mesmo nível de um criminoso, tendo em vista que em um 'Estado de Direito' cabem à polícia e à Justiça proteger e julgar, respectivamente. No entanto, isso ocorre o tempo todo nas periferias. Um morador denuncia ao tráfico uma briga com o vizinho ou o roubo de um bem, e o mesmo interfere, expulsando uma das partes ou executando-a. Tudo isso seria para evitar que o caso fosse levado à polícia, e esta entrasse na localidade. Porque poderia atrapalhar a venda de drogas, por exemplo. Na favela, o bandido é 'polícia' e 'juiz'. E ninguém fala nada!!! Nenhum sinal de ativistas denunciando esse cotidiano!!! Parece sempre mais cômodo opor-se ao Estado e ao cidadão de bem, porque se sabe que estes não poderão agir em represália.
O filósofo britânico John Locke (em O Segundo Tratado sobre o Governo) defendia que o indivíduo, ao viver em sociedade, renunciava alguns de seus direitos no intuito de preservar sua liberdade, ao conceder a outros o direito de legislar e aplicar as medidas cabíveis a quem desobedecesse as regras de boa convivência. Mas, também afirmou que quando um agressor colocar em risco a vida e os bens de um cidadão, estará em 'estado de guerra' contra o ameaçado e toda a sociedade. E a partir de então, o indivíduo teria o direito de se defender.
O Brasil criando 'monstros'
Como se não bastasse carregar o estereótipo de defender bandidos e ditadores, outra problemática dos direitos humanos – ao menos no Brasil – é ver o menor delinquente como mero 'autor de ato infracional', mesmo que tenha até assassinado alguém. Com isso, ambos acabam fazendo a sociedade de refém por criar seus 'monstros'. O Estatuto da Criança e do Adolescente – que deveria protegê-lo contra as violações de direitos humanos – tem servido para impedir que a sociedade se defenda. Não se vê uma política efetiva de 'recuperação' e/ou de 'ressocialização' dos adolescentes que estão em unidades de internação. Esse deveria ser considerado um crime contra os mesmos. Enquanto nada melhora, o bandido continua sendo tratado como 'mocinho', e mocinho, como 'bandido'. É o que se pode chamar de inversão de valores.
Os dois lados
Existem pelo menos duas petições na internet: uma contra a liberdade de expressão, pedindo a 'cabeça' da apresentadora; outra, a favor e para que o SBT a mantenha no ar. No fundo, tudo isso só serve para criar uma distração para os problemas de maior relevância, que ninguém tem coragem de protestar. E claro, acirrar uma competição para classificar tudo como 'esquerda' ou 'direita'.
Pelas redes sociais, muita gente a critica, porém outra parcela a apoia. Contudo, só as lideranças de esquerda ousaram se manifestar, com uma declaração de 'guerra' contra Sheherazade, o que aparenta que há mais gente contra do que a favor.
Para os que são contra, porém não fazem nada para livrar a sociedade da criminalidade, só resta um pedido: 'adote um bandido'.
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