Segunda-feira, 16 de janeiro de 2017 O “gasolinazo” no México Duas semanas se passaram desde que o presidente do México, Enrique Pe...
Segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
O “gasolinazo” no México
Duas semanas se passaram desde que o presidente do México, Enrique Peña Nieto, reajustou a gasolina e o diesel entre 14% e 20%, alegando que o preço dos combustíveis teve um aumento de até 60% no mercado internacional em 2016. Desde então, os protestos se intensificaram pelo país e têm ocorrido diariamente. O mais impressionante em tudo isso é que, apesar de tanto tempo, não perdeu forças. Muito pelo contrário: antes um movimento teoricamente popular, agora está ganhando a adesão de partidos políticos que decidiram pegar carona na crise governamental, talvez, e possivelmente, já pensando nas eleições de 2018.
Vídeo: @Myriam_MorenoJ / Twitter / Reprodução
Mexicali, BC en contra del gasolinazo y destitución de Peña @RloretdeM1 @GEOLOLOGOSBC @CNNMex @mexicaliorg @webcamsdemexico @imagenqro pic.twitter.com/igAOgdss5K— Myriam Moreno Jaime (@Myriam_MorenoJ) 15 de janeiro de 2017
Manifestação ocorreu em Mexicali, no estado de Baja California
Até a semana passada, mais de 1.500 pessoas tinham sido detidas e/ou presas, por conta de bloqueios de estradas e de postos de gasolina, confrontos contra a polícia e saques e depredações a estabelecimentos comerciais.
Até a semana passada, mais de 1.500 pessoas tinham sido detidas e/ou presas, por conta de bloqueios de estradas e de postos de gasolina, confrontos contra a polícia e saques e depredações a estabelecimentos comerciais.
Nos últimos cinco anos, os mexicanos promoveram ao menos três grandes protestos: o primeiro deles contra o resultado das urnas que consagraram Peña Nieto vitorioso para o cargo que ocupa, o que deu origem a um novo partido de esquerda, o Movimento Regeneração Nacional (Morena), do candidato derrotado Andrés López Obrador; o segundo protesto aconteceu, por conta do desaparecimento forçado, seguido de chacina, de 43 estudantes normalistas em Ayotzinapa; e o terceiro, o “gasolinazo”, contra o reajuste na gasolina.
Breve análise sobre alguns países latino-americanos
Brasil
Embora o Brasil seja motivo de admiração internacional, por causa da onda de protestos que tomou conta do país entre 2013 e 2014, dificilmente seria capaz de promover uma “primavera latina”, fenômeno político e ideológico similar ao do Oriente Médio. Os brasileiros aprenderam a protestar contra o aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus e a contra o Partido dos Trabalhadores (PT), como se estivesse protestando contra a personificação da corrupção. De fato, a legenda deu motivos para se pensar assim. As reivindicações feitas durante aqueles eventos não foram adiante na prática. Após o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT-RS), no ano passado, as manifestações começaram a perder força.
O brasileiro gosta de se “dopar” de ingenuidade e de fé, ao supor que com a saída da líder esquerdista, todos os problemas do país estariam resolvidos e que não haveriam mais ameaças contra a Lava-Jato. Parte de seus detratores a queriam fora, para que diminuíssem as pressões da opinião pública sobre as investigações. Não que ela tenha sido uma vítima, porque não dá para considerá-la assim.
A população só não se manifestou ainda sobre as reformas trabalhista e previdenciárias propostas pelo presidente Michel Temer (PMDB-SP), que quer aumentar de 15 anos para 25 anos o tempo de contribuição previdenciária, fazer com que o trabalhador contribua por 49 anos para ter direito a 100% do valor da aposentadoria, entre outras coisas.
O que parece uma inércia, comodismo ou conformismo do cidadão tupiniquim pode ter uma explicação comum e prática: o brasileiro costuma ser alheio aos próprios problemas, como se fossem apenas dos outros. É um povo que aprendeu a ser indiferente perante o próprio sofrimento. Puramente ideológico.
Venezuela
Na Venezuela, por exemplo, não há um horizonte para conter as crises financeira, administrativa, política e moral. O presidente Nicolás Maduro conta com a conivência das forças armadas, Judiciário, da Justiça Eleitoral e com o silêncio da comunidade internacional, para prender opositores e desrespeitar o Legislativo, que hoje é comandado por seus adversários.
A oposição não consegue derrocá-lo do cargo, porque, simplesmente, os países integrantes dos blocos econômicos aos quais a Venezuela faz parte decidiram ignorar as graves violações ocorridas nos últimos anos e o teatro governamental de resistência contra o “imperialismo”. Maduro tem agido como um “Dom Quixote”, lutando contra “moinhos de ventos”, mas faz de tudo para transformá-los em gigantes para validar seus atos. É um louco que se faz de esperto. Ainda mais agora que foi excluído do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Ele teria mais utilidade para o país se voltasse a ser motorista de ônibus, em vez de governante.
Além de enfrentar policiais e as forças armadas durante protestos, a população tem de lidar com milícias pró-governo que agem extraoficialmente para deslegitimar as reivindicações populares.
Argentina
A Argentina não deu certo nas mãos de Cristina Kirchner e gera incertezas agora que está com Maurício Macri, cuja gestão tem sido marcado por descontentamento. No caso da ex-mandatária, o populismo barato tem sido confundido com bom governo. A última grande manifestação – que este jornalista se lembra – aconteceu há dois anos, em protesto ao assassinato do procurador Alberto Nisman, quem investigava a suposta tentativa de Kirchner em tentar livrar a cara de autoridades iranianas no ataque terrorista a um centro judaico em 1994, em troca de relações comerciais.
Nicarágua
Os nicaraguenses decidiram aceitar de uma vez por todas que Daniel Ortega não é apenas um chefe de Estado, e sim o dono do país. Considerado um presidente “inconstitucional” – uma vez que não poderia se reeleger por mais de uma vez, mas o fez com a cumplicidade do Judiciário em aceitar e criar impasses para seus adversários concorrerem –, seus governos têm sido marcados por nepotismo. Na eleição que se realizou no ano passado, transformou a esposa, Rosario Murillo, em sua atual vice-presidente. Ela já tinha cargos de confiança, assim como os filhos, em sua administração.
Bom, não dá para falar de uma só vez sobre todos os países da América Latina, pois exige-se uma análise mais profunda. Contudo, na humilde opinião de OPINÓLOGO, o México seria o único país com uma pequena chance de ter sua “primavera”, sem previsão de suceder.
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