Domingo, 30 de outubro de 2016 O grande vencedor desta eleição foi o preconceito; Freixo perde até para os eleitores ausentes Imagem...
Domingo, 30 de outubro de 2016
O grande vencedor desta eleição foi o preconceito; Freixo perde até para os eleitores ausentes
Com 100% das urnas apuradas, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) é eleito prefeito da cidade do Rio de Janeiro, neste domingo (30/10). Com isso, ele supera o estigma de ser bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), condição que o prejudicou em campanhas eleitorais passadas para a prefeitura e o governo do Rio de Janeiro. Ele obteve 59,36% dos votos válidos, enquanto o adversário Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que é deputado estadual, 40,64%.
Imagem: Facebook / Reprodução
Crivella, ao votar neste domingo |
Além das constantes trocas de acusações e ofensas, pode se dizer que o segundo turno foi caracterizado pelo preconceito versus preconceito: de um lado os que tinham preconceito contra crentes, do outro os que tinham preconceito contra a esquerda. O contra o socialismo superou e definiu a derrota do candidato psolista.
É preciso analisar com criticidade o resultado desta eleição. Ao longo desse processo eleitoral, a imprensa divulgou que Crivella (PRB-RJ) se manifestou preconceituosamente contra os homossexuais, contra religiões africanas e contra a Igreja Católica num livro publicado primeiramente em inglês no ano de 1999, e depois traduzido em português sob o título “Evangelizando a África” no ano de 2002. Quando falou que a homossexualidade era uma “conduta maligna” e um “terrível mal” e que as religiões locais eram “diabólicas”, Crivella estava com 42 anos. Quando o caso veio a público, se defendeu, dizendo que era um “rapazinho intolerante”. Votar no bispo licenciado da Igreja Universal não foi apenas um voto contra a esquerda, mas um voto de quem concorda com tudo o que ele falou e quem pensa da mesma maneira.
É possível afirmar que Marcelo Crivella (PRB-RJ) rompeu o estigma contra a Igreja Universal e contra os evangélicos, de modo geral. Até conseguiu unir evangélicos – das mais diferentes denominações – e católicos, que preferiram ignorar as críticas contra a fé. No entanto, sua vitória não significa em nada que ele tenha derrotado o preconceito, porque este continua existindo. Considerando que, tacitamente, os cariocas não se viam em boas opções, optou-se pelo que foi considerado menos pior.
A mesma esquerda que dizia lutar contra o preconceito, era a mesma que agia também com preconceito. Por motivo distinto. Usava o preconceito como forma de combater o preconceito. Entre os filtros feitos por OPINÓLOGO – a partir das redes sociais e de conversas que este jornalista tinha nas ruas com eleitores – o discurso era de que “não se podia misturar política com religião”, de que lutavam contra o “fundamentalismo religioso”, contra a Igreja Universal, não contra a forma de pensar de Crivella.
Se Crivella tivesse perdido, teria sido unicamente para ele mesmo, não para Freixo (PSOL). Por outro lado, este deixou de fazer campanha no segundo turno e optou por fazer ataques, ou o que ele considerava uma “defesa”. Perdeu boas oportunidades de reforçar suas propostas. Nessa sexta-feira (28), durante o debate do segundo turno na Rede Globo, Freixo se mostrou firme e ao mesmo tempo nervoso, enquanto que o candidato do Partido Republicano Brasileiro (PRB), sereno, ou para quem preferir, “cínico”. Crivella não perdeu o controle, apesar das provocações do adversário sobre reportagens da Veja e de O Globo.
A ida de Crivella ao debate era motivo de curiosidade, tendo em vista que ele não compareceu às sabatinas e debates na Rádio CBN, no RJTV e no jornal O Globo. Alegou que estava em Brasília, e, ainda que estivesse no Rio, não iria, em protesto ao que classificou de cobertura “manipuladora” e “tendenciosa” desse grupo midiático contra a sua campanha. Fugiu de perguntas comprometedoras, que poderiam tê-lo afetado negativamente, e preferiu apostar numa suposta perseguição contra ele. No entanto, compareceu ao debate do dia 28 de outubro, e ao justificar a ausência nos eventos anteriores não tocou no assunto nem atacou a emissora. Omitiu-se ou tangenciou-se.
Se a esquerda lutava contra o “fundamentalismo religioso”, os evangélicos e boa parte da direita lutavam contra o “radicalismo”, contra o aumento da criminalidade cometida por adolescentes e contra o que chamavam de “pouca vergonha” (a parada gay é um dos exemplos citados). O preconceito contra Marcelo Freixo tem muito a ver com o que seu Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) defende: a legalização da maconha e do aborto e a defesa da população LGBT, por exemplo. Tachado de “defensor de bandidos” por seus opositores, o candidato se prejudicou por ter ficado em cima do muro – e não ter condenado – as barbáries cometidas por black blocs durante a onda de protestos que tomou conta do país entre 2013 e 2014, inclusive resultando na morte de um cinegrafista. Embora um prefeito não tenha poder para legalizar o aborto nem a maconha – já que a discussão deve ser a nível estadual ou federal –, o eleitor que votou em Crivella quis deixar claro que não concorda com tais legalizações e nem com a comunidade gay.
Freixo (PSOL-RJ) recebeu 1.163.662 votos. O número de pessoas que se abstiveram foi de 1.314.950, isto é, 26,85% do total do eleitorado. Ou seja, ele perdeu até para quem não foi votar. A derrota do candidato já era tida como certa. Só os simpatizantes da esquerda é quem tinham dificuldade de aceitá-la. Uma espécie de negação. A última sexta-feira (28) foi ponto facultativo, Dia do Funcionário Público. Muitos que poderiam votar em Freixo podem ter emendado a data e viajado. Em 5 de outubro, OPINÓLOGO fez uma reportagem, dando como certa a vitória de Marcelo Crivella (PRB-RJ). E no dia 25 do mesmo mês, publicou outra, reafirmando o que havia dito. Há quem veja que o candidato socialista tenha se saído vitorioso, por concentrar a esquerda carioca.
Aparentemente, o grande perdedor do primeiro turno foi o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), por conta da derrota do candidato Pedro Paulo (PMDB-RJ) à prefeitura do Rio. Só aparentemente. Pois, embora Crivella (PRB-RJ) e Freixo (PSOL-RJ) tenham criticado o PMDB ao longo da campanha, o candidato vencedor teve de se dobrar à legenda, buscando alianças com os recém-eleitos para lograr governabilidade. O PMDB ainda é o maior partido na Câmara dos Vereadores. Terá 10 parlamentares a partir de 2017.
No fim, conclui-se que o grande vencedor das eleições municipais de 2016 no Rio de Janeiro foi o preconceito de ambos os lados.
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