ONG Repórteres Sem Fronteiras é listada como ‘indesejável’ na Rússia

Quinta-feira, 14 de agosto de 2025 Mais de 250 organizações estrangeiras em defesa da democracia, dos direitos e do meio ambiente não são be...

Quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Mais de 250 organizações estrangeiras em defesa da democracia, dos direitos e do meio ambiente não são bem-vindas no país

Imagem: Peggy_Marco - Pixabay - Uso gratuito

Mapa da Rússia nas cores da bandeira

A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), com sede na França, foi classificada como ‘organização indesejável’ por parte do governo russo. A medida foi anunciada pelo Ministério da Justiça nesta quinta-feira (14/8), embora a decisão tenha sido tomada no último dia 23 de julho. Na prática, significa que não é bem-vindas no país.

Para a entidade defensora dos profissionais de imprensa, ‘a mensagem do Kremlin é clara’ na ‘cruzada para silenciar todas as vozes que expõem sua censura e propaganda’. Em 2024, por exemplo, o portal da RSF foi bloqueado pelas autoridades russas às vésperas da divulgação anual do Índice Mundial de Liberdade de Imprensa.

“Ao classificar a RSF – uma ONG que defende o jornalismo – como uma organização indesejada, a mensagem do Kremlin é clara. Ela continua sua cruzada para silenciar todas as vozes que expõem sua censura e propaganda. Mas isso não nos silenciará. Continuaremos a investigar e denunciar sua guerra contra notícias e informações, e a trabalhar para garantir que todos os russos responsáveis por crimes contra jornalistas, na Rússia e na Ucrânia, sejam identificados e processados. De certa forma, ser adicionada a esta lista de cerca de 250 organizações é uma honra para a RSF. A ausência de justificativa sugere que a decisão é um reconhecimento de todo o trabalho da RSF, desde a exfiltração de jornalistas russos até as transmissões via satélite do Svoboda”, manifestou o diretor geral de Repórteres Sem Fronteiras, Thibaut Bruttin.

Para a RSF, não se trata de uma decisão isenta de responsabilidade. Qualquer indivíduo que coopere com alguma das instituições sancionadas ou ajude a financiá-las na Rússia pode enfrentar um processo administrativo e multa, e em caso de reincidência, ser condenado a cinco anos de prisão.

Mais de 250 organizações estrangeiras – que atuam em defesa da democracia, dos direitos e do meio ambiente – estão na referida listagem russa, entre elas a Anistia Internacional, no Reino Unido; Greenpeace, nos Países Baixos; WWF, na Suíça; Artigo 19, no Reino Unido; Amigos do Falun Gong, nos Estados Unidos; entre inúmeras entidades em defesa de uma Rússia livre, democrática e de combate à corrupção.

Entre os 180 países e territórios analisados pela RSF, a nação governada por Vladimir Putin está na posição nº 171, no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2025. Nos últimos anos, o cerco no controle da informação por parte de Moscou tem se intensificado principalmente a partir da guerra contra a Ucrânia, que teve início em fevereiro de 2022. Sites de notícias independentes, de organizações de direitos humanos e de movimentos políticos de oposição ao governo foram bloqueados.

Controle da informação

No mês passado, por exemplo, a Duma Estatal – a câmara baixa do parlamento russo – aprovou um projeto de lei que estabelece multas a cidadãos comuns que pesquisarem ‘intencionalmente’ conteúdo na internet considerado ‘extremista’ pelos entes reguladores, inclusive se contornarem a medida por meio de Redes Privadas Virtuais (VPNs), de acordo com a ONG Human Rights Watch (HRW), sediada nos Estados Unidos.

As multas por pesquisar assuntos incômodos ao governo podem variar de três mil a cinco mil rublos, entre US$ 38 e US$ 64, aproximadamente, enquanto que driblar a censura estatal por meio de VPN ou outros recursos, até 80 mil rublos (cerca de US$ 1.022) para pessoas físicas e até 500 mil rublos (cerca de US$ 6.389) para organizações.

Na Rússia, o movimento LGBTI+ é considerado ‘extremista’ e alvo de constantes perseguições por parte das autoridades. Nos últimos anos, mais de 100 pessoas ligadas à causa gay foram condenadas por ‘extremismo’ por participação no Movimento Internacional LGBT ou exibição de supostos símbolos. Uma lei de 2013 proíbe qualquer promoção ou discussão neutra sobre a temática.

O Ministério de Desenvolvimento Digital russo começou a restringir esta semana ligações de áudio e de vídeo via WhatsApp e Telegram, sob alegação de que ambas as plataformas não estariam compartilhando informações com o governo relativas a supostos casos de fraude e de terrorismo.