Sábado, 07 de novembro de 2015 Recepção ao parlamentar parecia a dispensada a jogadores da seleção, quando ganham a Copa do Mundo Ima...
Sábado, 07 de novembro de 2015
Recepção ao parlamentar parecia a dispensada a jogadores da seleção, quando ganham a Copa do Mundo
Imagem: Orlando Alves / Cedida ao OPINÓLOGO
Jair Bolsonaro no aeroporto de Recife |
“Obrigado pela calorosa recepção!”, agradeceu o parlamentar.
“Recife-PE, não tenho palavras para agradecer o carinho e confiança! Fico extremamente emocionado ao me deparar com essa situação. Pobre do homem que não sonha! Brasil acima de tudo, deus acima de todos!”, continuou.
A convite desse movimento, Bolsonaro chegou ao estado nordestino na tarde da última quinta-feira (5), acompanhado do filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC-SP). No aeroporto, foi recepcionado como celebridade por um grande contingente de simpatizantes, algo em torno de mil a 1.500, estimou Nelson Monteiro. Na página oficial do evento no facebook, 1.500 pessoas haviam confirmado presença. Ele foi recebido por membros do Direita Pernambuco e pelo deputado estadual Joel da Harpa (Pros-PE).
Os adeptos do parlamentar cantaram o Hino Nacional e gritavam palavras como ‘Bolsomito’ e ‘presidente’, por exemplo. Bolsonaro pretende vir candidato a presidente da República nas próxima eleição, que pode ocorrer em 2018 ou se Dilma Rousseff sofresse impeachment antes disso. Embora o Direita Pernambuco diga-se ‘apartidário’, o apoia para disputar o mais alto cargo da nação.
Vídeo: Cedido ao OPINÓLOGO por Flávio Ferraz
Uma curiosidade sobre Bolsonaro é que ele não permitiu que suas despesas com hospedagem, transporte e alimentação fossem pagar pelo grupo nordestino nem pelo deputado Joel da Harpa.
Em visita ao estado, Bolsonaro participou de dois debates e uma audiência na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe) sobre ‘o atual cenário político do Brasil’. No legislativo, discutiu-se sobre a redução da maioridade penal, segurança pública, o Estatuto do Desarmamento, o fim das cotas sociais, e a anulação das políticas de gênero. Críticas ao Partido dos Trabalhadores (PT) fizeram parte da audiência.
“O Brasil precisa de alguém que seja temente a Deus, que preserve a propriedade privada como bem sagrado e que garanta ao cidadão o direito à legítima defesa”, declarou Jair Bolsonaro, ao apelar para uma das apropriações do conservadorismo: a religiosidade como personificação do caráter político e padrão de moralidade.
“O sentimento de esquerda foi implantado na sociedade por uma parte da mídia e aqueles que acreditam nos valores tradicionais ficaram excluídos e sem defesa”, criticou o deputado Joel da Harpa. Definitivamente, há de se discordar dessa fala sob os mais variados aspectos:
1) em primeiro lugar, é preciso definir o que é esse ‘sentimento de esquerda’. Se é o simples fato de defender o socialismo/comunismo ou defender bandeiras das quais esse tipo de militância se apropriou, tais como: a defesa dos direitos dos homossexuais, o direito ao aborto, ao uso recreativo da maconha, o feminismo, a defesa dos pobres, negros e dos marginalizados pela violência. Seria o mesmo que considerar o oposto disso a quem milita pela direita, como também a defesa de valores cristãos, da família tradicional etc.
2) o que existe na verdade é um sentimento de culpa dos brasileiros, devido aos crimes cometidos durante a Ditadura Militar, mas que está sendo superado graças ao PT. Não só por conta do Mensalão e do Petrolão, como também pelo apoio que seus governos – de Lula e Rousseff – têm dado a ditaduras de merda como Cuba, Venezuela e o Equador, por exemplo. A legenda conseguiu não só causar danos à imagem da esquerda como um todo, como também deletar parcialmente essa mágoa dos brasileiros pelos erros cometidos de 1964 a 1985. Chega-se a pensar que, no fundo, os militares ‘salvaram’ o país de se tornar uma segunda Cuba.
3) antes de se tentar responsabilizar a imprensa por qualquer imposição ideológica, é preciso voltar às aulas de História, onde se formata o pensamento do brasileiro a interpretar seu próprio passado.
4) outrossim, é que a globalização e a internet permitiram a criação de meios de comunicação (sites, blogs, jornais, redes sociais etc.) de esquerda para competir com os mais tradicionais – ou de direita –, ademais de serem utilizados como instrumentos de guerra ideológica para desmentir e/ou criar suas próprias verdades numa batalha imaginária entre pobres e ricos, ‘pretos’ contra brancos’ e por aí vai...
5) o aparelhamento de mídias tradicionais por jornalistas e/ou comentaristas que advogam em defesa do socialismo e que usam suas colunas para fazer proselitismo. Por outro lado, o que se entende por aparelhamento poderia ser interpretado como dar voz à pluralidade de ideias e opiniões.
“Não compactuamos com a corrupção que o PT instalou no País, mas não podemos dar uma guinada em direção à ditadura”, manifestou o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco, Áureo Cisneiros.
“Como humanista e libertário, continuarei lutando para que o deputado Jair Bolsonaro tenha o direito de defender suas ideias. Lamentavelmente, o tipo de regime político que o congressista prega não garante isso às pessoas”, comentou o deputado estadual Edilson Silva (Psol-PE).
Imagem: Joel da Harpa / Facebook / Reprodução
Questionado sobre uma possível cassação dos mandatos da presidente Dilma Rousseff e do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Bolsonaro disse, em coletiva de imprensa, que era muito educado e, por isso, ‘primeiro as damas’. Como é de conhecimento público, a mandatária lida com uma crise política, econômica e moral em seu segundo mandato, ocasionada por suas ‘pedaladas’ fiscais e por conta dos escândalos de corrupção na Petrobras que vieram à tona com a operação Lava-Jato, da Polícia Federal e da Justiça Federal do Paraná. A campanha de reeleição de 2014 está sob investigação para apurar se recebeu dinheiro desviado da estatal. Já o deputado peemedebista enfrenta acusações das justiças brasileira e suíça por, supostamente, ter recebido propina de contratos entre a petroleira e empreiteiras.
Breve análise
Pode-se dizer com certeza que a visita de Bolsonaro superou as expectativas dos organizadores e agitou a vida política de Pernambuco. Ter um aeroporto lotado para recepcioná-lo em plena tarde de quinta-feira, quando muita gente ainda está trabalhando, é o tipo de honraria que costuma ser desfrutada por jogadores de futebol. Parecia que a seleção brasileira havia ganhado uma Copa do Mundo, por exemplo. Só faltou uma carreata no caminhão do Corpo de Bombeiros.
Ele não foi recebido como mero candidato a presidente da República em 2018, mas como uma divindade em carne osso. Note-se a euforia com que os pernambucanos o tratavam. Muitos afoitos por uma ‘selfie’, por exemplo. Ele já esteve em Fortaleza e em São Paulo para participar de protestos contra Dilma Rousseff, e não recebeu tamanho tratamento. Erros e deslizes de governos petistas ajudam a colocá-lo numa espécie de pedestal, e a tentar convencer certos eleitores cansados de tudo isso de que ele seria uma boa opção.
Apoiar Bolsonaro é ser tachado de conservador. Sim, conservador. Pois, apoiá-lo significa ser favorável à cartilha que ele prega: a favor da meritocracia, da redução da maioridade penal, a exaltação ao regime militar e ser contra o kit gay que o Ministério da Educação (MEC) pretendia distribuir nas escolas – subentendido como ‘homofóbico’, programas assistencialistas e cotas sociais, por exemplo. Significa compartilhar do mesmo pensamento polêmico e/ou louco, por assim dizer. Não existe apoio pela metade. É tudo ou nada.
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