Quinta-feira, 03 de outubro de 2013 Policial forja flagrante de morteiros, no centro do Rio, segundo jornal 'O Globo'. Veio a p...
Quinta-feira, 03 de outubro de 2013
Policial forja flagrante de morteiros, no centro do Rio, segundo jornal 'O Globo'.
Policial forja flagrante de morteiros, no centro do Rio, segundo jornal 'O Globo'.
Veio a público, nessa quarta-feira (2/10), um vídeo, divulgado pelo jornal 'O Globo', de que um policial militar teria, supostamente, forjado o flagrante de ter encontrado morteiros com um manifestante, no centro do Rio de Janeiro, durante protestos de professores das redes municipal e estadual de educação, na última segunda-feira (30/9). O material (também compartilhado no You Tube) teria sido feito por um cinegrafista amador, com duração de aproximadamente quatro minutos, mostrando que o artefato já estava nas mãos de um agente bem antes de revistar a mochila de pessoas nas ruas, inclusive o momento em que os morteiros foram jogados aos pés do manifestante. Não se sabe sobre a origem dos morteiros.
O que diz a PM?
Em uma primeira nota, a Polícia Militar classificou como 'falsa' a denúncia. Segue o texto, na íntegra:
“SOBRE A FALSA ACUSAÇÃO DE FLAGRANTE FORJADO
A acusação de flagrante forjado é grave e, neste caso, equivocada.
O menor exposto no vídeo sendo detido pela PM não teve imputada a ele nenhuma posse de morteiro ou similar. Não houve flagrante. Ele foi conduzido para a delegacia onde foi feito apenas um registro de Conduta Atípica, sem atribuir a ele posse de nenhum material.
O procedimento 005-10087/2013 da 5ª DP (Mem de Sá) registra o encontro de três (3) morteiros na calçada. Não atribui sua posse a nenhum manifestante.
Minutos antes de sua detenção, o menor foi visto em correria junto com outros manifestantes mascarados. A autoridade policial o deteve apenas para averiguação. Ele foi liberado na delegacia na presença de uma responsável.
Vale lembrar que na noite seguinte, de terça-feira (1/10) foram depredadas 23 agências bancárias, e duas lojas de telefones celulares (ambas com furto de material)”.
Em uma segunda nota, a Corporação disse que abriria sindicância para apurar. Segue o texto:
“O Comando da PM abriu sindicância para analisar as imagens em que um policial supostamente teria forjado flagrante. As cenas da abordagem serão objeto de análise.
Apesar da acusação de haver flagrante forjado, na delegacia não houve nenhum registro de posse de fogos de artifício em face do menor, que foi liberado na presença de uma responsável. O documento de apreensão dos fogos registra apenas que os mesmos foram encontrados no chão.
O procedimento 005-10087/2013 da 5ª DP (Mem de Sá) registra o encontro de três (3) morteiros na calçada. Não atribui sua posse a nenhum manifestante. Vale lembrar que na noite seguinte, de terça-feira (1/10) foram depredadas 23 agências bancárias, e duas lojas de telefones celulares (ambas com furto de material).”
Conforme dito em ambas as notas, não houve registro de flagrante, e o adolescente teria sido liberado na presença dos responsáveis.
Confronto na Câmara dos Vereadores
Docentes fluminenses que têm participado dos protestos estão sendo tratados piores do que cachorros por policiais durante os diversos confrontos no centro do Rio. Especialmente, os que estavam na Câmara dos Vereadores (CMRJ), no último sábado (28/9), e foram forçados a desocupar o local, depois que a PM recebeu um ofício a respeito de uma suposta reintegração de posse por parte do presidente da Casa, Jorge Felippe (PMDB-RJ). De acordo com o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe/RJ), os policiais teriam usado armas de choque, bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Na ocasião, pelo menos duas pessoas foram presas e levadas para a 5ª DP, no Bairro de Fátima. Então, cerca de 200 manifestantes foram até a unidade policial protestar pela libertação dos colegas.
Os educadores tinham ocupado a CMRJ, no último dia 26 de setembro, para tentar impedir a votação do Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações (PCCR), que de uma maneira cretina foi aprovado pelo Legislativo, nessa terça-feira (1/10), e sancionado pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes, nessa mesma data. Entende-se por cretinice a idiotice e a imbecilidade. Mas, a palavra pode ter sentido mais amplo, como: manipulação e trapaça. Principalmente, porque o Parlamento carioca estava cercado de grades, o que impedia o acesso da população a acompanhar a votação dentro de uma Casa dita como sua. O texto sancionado por meio da Lei n° 5.623/2013 prevê um reajuste de 15,3% para os profissionais do setor, embora a categoria exija 19%. Mas, ao que parece, o documento só beneficiaria parte deles.
O centro do Rio ficou um caos, principalmente nas avenidas Presidente Vargas e Rio Branco. O trânsito simplesmente não fluía. O motorista, se quisesse, poderia desligar o motor e esquecer da vida. Durante todo o período de protestos que a 'Cidade Maravilhosa' registrou nos últimos meses – contra a corrupção, o reajuste das tarifas de ônibus e os gastos elevados para a Copa do Mundo de 2014 etc. –, essa terça-feira (1) foi um dos piores dias. A todo instante se escutavam sirenes do carro de Corpo de Bombeiros.
Aprovar tal plano de carreira diante da atual conjuntura não é simplesmente um atropelo. É também um ato de irresponsabilidade, tendo em vista que o momento seria de tentar apaziguar os ânimos e buscar negociar uma solução com os profissionais. É colocar mais 'lenha na fogueira'!!!
A forma como os professores estão sendo tratados se caracteriza como uma suposta tentativa de criminalização desse movimento social, porque estão sendo tratados como se fossem marginais. Quando na verdade, nada mais fazem do que reivindicar seus direitos por meio de greve – que completará dois meses no próximo dia 8 de outubro – e de manifestações. Infelizmente, o que o governador fluminense, Sérgio Cabral, e Eduardo Paes estão conseguindo é demonizar cada vez mais a imagem da Polícia, que é obrigada a agir, intervir para tentar controlar os excessos, mesmo de maneira inconsequente. Essa mesma Polícia que também é mal remunerada e quando faz greve apela pelo apoio da sociedade.
“(…) Com uso de brutalidade exacerbada, o batalhão de choque da Polícia Militar avançou sobre os manifestantes na calada da noite, sem mandado de reintegração de posse, arrancando-os de dentro da Câmara numa ação que não se coaduna com o Estado democrático de direito em que vivemos.
Que o governador, o prefeito e o presidente da Câmara dos Vereadores não se enganem. Não calarão a voz dos(as) trabalhadores(as) com o emprego arbitrário da força policial. Pelo contrário, a violência desmedida só fará aumentar nossa unidade e determinação na luta por nossos direitos (…)”, declarou o Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região (Sinpro-Rio) – para as instituições privadas de ensino – em solidariedade aos colegas de profissão.
“Foi muito triste o que aconteceu ontem (1/10) na Câmara dos Vereadores e nas ruas do centro do cidade do Rio de Janeiro.
Sob ordem do governo Cabral, a violência praticada pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar foi a mesma vista nas manifestações de junho e julho, porém agora executada contra educadores, estudantes e todos aqueles que lutam por uma Educação pública de qualidade.
Era uma chuva de bombas, atiradas de forma aleatória e covarde contra qualquer massa de pessoas. Quem saia do trabalho, sentiu de imediato o cheiro do gás lacrimogêneo que tomou conta dos ares do centro do Rio. Quem viu não esquece.
Enquanto isso, a democracia era deslealmente atropelada na Câmara dos Vereadores. Ali, a violência foi no campo democrático (...)”, expressou o deputado estadual Robson Leite (PT-RJ), que também é docente e está acompanhando de perto a crise na CMRJ.
Só para se ter ideia, este jornalista que lhes escreve tentou falar com o parlamentar petista por pelo menos quatro vezes, enquanto ele estava na Câmara dos Vereadores no dia da votação do PCCR. E em todas as ligações, sua assessoria informava da impossibilidade. As chamadas estavam sempre ruins, percebia-se um clima de caos.
Imagem: Agência Brasil / Tânia Rêgo /
Reprodução / Creative Commons
Reprodução / Creative Commons
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Marcas de 'pseudoanarquismo' no Rio |
A Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp) também divulgou nota de apoio aos homólogos fluminenses:
“A Fepesp manifesta sua solidariedade aos professores públicos municipais do Rio de Janeiro.
Nossos colegas enfrentam a prepotência de um governo que faz da desqualificação pública da categoria um meio para promover sua política de desmonte e privatização da educação.
Basta de Cláudia Costin [secretária Municipal de Educação]. Basta, Eduardo Paes”.
Vandalismo: uma forma de 'pseudoanarquismo'
O que não estava bom ficou pior com a recente adesão de vândalos que se escondem em movimentos 'pseudoanarquistas'. Basta observar os sinais de destruição (foto 1) pelas ruas do centro da cidade. São orelhões quebrados, fachadas e interior de lojas e agências bancárias depredados, entre outras coisas. São os mesmos dos passados manifestos que se iniciaram em junho.
Embora não haja qualquer tipo de provas, são apenas meras especulações, chega-se a pensar se certos manifestantes estariam realmente apoiando movimentos sociais e seus protestos ou se seriam infiltrados – não se sabe se pagos ou não e nem por quem –, cujos objetivos seriam de criar distração e instabilidade políticas, denegrir e deslegitimar a natureza dos eventos. Certos comportamentos sugerem tal reflexão.
Denúncias serão levadas à ONU e à OIT
“As entidades Justiça Global e IDH estarão na assembleia da rede municipal, na sexta-feira (local e horário a confirmar) para recolher depoimentos sobre a violência e a repressão promovidas pelas forças de segurança do Estado nas últimas manifestações da categoria. Estas denúncias serão encaminhadas para a ONU e para a Organização Internacional do Trabalho [OIT]”, publicou o Sepe/RJ.
Imagem: OPINÓLOGO / Diego Francisco
Acampados na Alerj |
Estranha-se que até então entidades como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) e as Nações Unidas (ONU) não tenham se pronunciado sobre o que está acontecendo no Rio. Se bem que isso nada é a mesma coisa e que provavelmente não haverá nenhum tipo de consequência ou punição ao país, exceto a ampla repercussão que o caso teria a nível internacional. Diga-se, por exemplo, as supostas violações de direitos humanos registradas na Venezuela nos últimos anos. Inclusive, a OEA se omitiu sobre o resultado da eleição presidencial que deu a vitória ao afilhado político do falecido Hugo Chávez, Nicolás Maduro, que até hoje é contestada pelo candidato derrotado, o governador do estado de Miranda, Henrique Capriles.
Acampamento na Alerj
Enquanto isso, um grupo de docentes da rede estadual de ensino continua acampado (foto 2) em frente a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) desde o dia 11 de setembro, em busca de melhorias salariais e de condições de trabalho.
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