Informação atualizada em 30/12/2012, às 12h26 Após três meses sem coleta de lixo regular, mutirão é organizado pelo futuro prefeito, que já...
Informação atualizada em 30/12/2012, às 12h26
Após três meses sem coleta de lixo regular, mutirão é organizado pelo futuro prefeito, que já está trabalhando antes mesmo de tomar posse do cargo.
Após três meses sem coleta de lixo regular, mutirão é organizado pelo futuro prefeito, que já está trabalhando antes mesmo de tomar posse do cargo.
Imagem: Milton Jung / EBC /
Creative Commons
O cenário é desolador, parece que houve uma guerra. |
Caxias: 'cidade limpa'. Esse slogan, que aparece na capa dos carnês de IPTU, não pertence mais ao município fluminense de Duque de Caxias, pelo menos durante o final da gestão do ainda prefeito José Camilo dos Santos Filho (PP) – ou simplesmente “Zito”, como é conhecido –. Ele jogou literalmente a carreira política no lixo por deixar a região um lixo, com um “abandono” que fez com que ficasse sem sua coleta regular por três meses. Na última sexta-feira (28/12), um mutirão de limpeza foi organizado pelo futuro prefeito Alexandre Cardoso (PSB) – quem ocupará o cargo oficialmente no dia 1° de janeiro do ano que vem, após ter vencido as eleições em outubro passado –. Até a próxima segunda-feira (31), estima-se recolher 10 mil toneladas de lixo, informou a “EBC”.
Somente agora que a Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) puderam de fato oferecer uma assistência ao município, após o governador Sérgio Cabral ter sancionado, no último dia 19, uma lei para que o Estado pudesse intervir em aterros sanitários com risco iminente e emergencial com problemas de destinação final do lixo urbano. Este será levado para o aterro da cidade vizinha de Belford Roxo, depois que o Conselho Diretor do Inea (Condir) aprovou, no último dia 27, uma licença emergencial de seis meses, que poderá ser renovada por igual período.
Imagem: EBC / Creative Commons
Mais lixo espalhado pelas ruas |
O lixo não estaria mais sendo recolhido pela Locanty – a empresa contratada pelo município – por suposta falta de pagamento. Recentemente, Zito teria afirmado que poderia decretar emergência sanitária se o Inea e a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) – pertencente à Prefeitura vizinha do Rio de Janeiro – cancelassem o acordo para o transporte da sujeira até o aterro da cidade de Seropédica. O material era deixado no distrito caxiense de Figueira, e dali levado pela concessionária carioca, depois que o aterro em Gramacho – Duque de Caxias – foi fechado, em junho passado, de acordo com o jornal “Extra”.
Devido ao acumulo que se espalhou por toda a região, os moradores estavam ateando fogo ao lixo, que pode acarretar danos à saúde devido ao odor produzido pelos gases emitidos na queima, além do risco de provocar incêndios. Portanto, ao invés de tentarem resolver um problema, poderiam estar criando outros.
Para o historiador Pedro Paulo Rosa, também morador de Duque de Caxias, e consultado por OPINÓLOGO, o cenário poderia ser comparado ao de uma guerra. “O lixo tomou conta das ruas do centro e de todos os outros distritos. Do Jardim Primavera a 25 de Agosto. Centenário, Cangulo, ruas fedendo a chorume. É realmente algo que chama atenção sob o ponto de vista da saúde pública da população. A enorme insalubridade presente ameaça localmente e também ameaça as áreas fronteiriças, como São João de Meriti e Rio de Janeiro. Fica difícil não associar este quadro periclitante com a derrota nas últimas eleições municipais, em que José Camilo Zito perdeu no primeiro turno. O povo não está contente. Não estava antes; agora, então, a raiva é ainda maior. Há lugares rodeados de lixo que podem ser comparados a cenas de guerra em países africanos, por exemplo”, disse.
Em novembro passado, a cidade foi multada em R$ 1,85 milhão pelo Inea, por descumprir o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para o recolhimento do lixo, após compromisso firmado pelo então prefeito Zito em agosto deste ano junto ao órgão ambiental, noticiou o portal “G1”. O futuro prefeito, Alexandre Cardoso, disse que depois de sua vitória eleitoral, que teria se encontrado com o atual líder caxiense para discutir a questão do recolhimento do lixo.
É no mínimo desrespeitoso por parte do prefeito Zito o tratamento concedido à população caxiense, que já paga seus impostos para que possa ter uma cidade limpa. A coisa fica mais nítida, quando faltam explicações consistentes, ressaltada pelo seu suposto sumiço. No último dia 21 de dezembro, a Polícia Federal invadiu sua casa, cumprindo um mandado de busca e apreensão. Ele não estava, e o trabalho dos agentes foi acompanhado por um caseiro e um representante da Prefeitura. O mandatário está sendo investigado pelo Ministério Público (MP) por suposta fraude no serviço de saúde, que poderia chegar a R$ 700 milhões, caracterizando-se como um crime de improbidade administrativa.
E para completar, de acordo com o “Extra”, o MP também apurou a quantidade de caminhões utilizada pela Locanty para a coleta. Esta teria enviado uma relação com a lista de 142 referente ao ano de 2011. No entanto, ao checar as placas, constatou-se que havia algo estranho com pelo menos 20 deles. A placa de um, por exemplo, conforme listado no Departamento de Trânsito (Detran), seria de um suposto Chevette de 1983 dado como furtado. A de outro caminhão pertenceria a um Gol 1000 do ano de 1994 na mesma condição que o outro carro. Mais outro caminhão estaria com a placa supostamente de um Fusca de 1971.
Alexandre Cardoso já pode ter certeza de que pegou um enorme “abacaxi” para administrar. Todavia, Zito acabou lhe fazendo um favor, mesmo sem querer: deu-lhe a oportunidade de mostrar o seu trabalho, desde já ganhando adeptos e trabalhando a própria imagem sob o preço de um “tiro” no próprio pé.
Zito e o mito do herói caxiense
Em política, falar de Duque de Caxias é o mesmo que falar de Zito. Ele já foi vereador, deputado e prefeito. Só nesta última função, por três vezes com mandatos iniciados em 1997, 2000 e 2009. É no mínimo surpreendente que depois de tanto tempo esteja deixando o posto com uma imagem literalmente “suja”, não pela acusação envolvendo os R$ 700 milhões, porque nada ainda foi provado. Porém, pela situação que deixou a cidade. Mas, como diz um velho ditado, quando não se “caga” na entrada, se o faz na saída.
“Outro dia, conversando com uma conhecida sobre os problemas que estamos tendo, ela me disse que, antes o Zito era um cara que se preocupava com a cidade, demonstrava amor pelo município, pelo povo. Ele era quase que um herói na cidade. A cada ano, ele se pareceu menos envolvido com a cidade. Parece até que ele quis se vingar do povo, por conta do candidato [Laury Villar] que ele lançou em 2004 não ter ganho do Washington Reis (PMDB). E depois do lixo, a imagem do Zito ficou como um cara muito covarde, ladrão e negligente com os compromissos com o povo caxiense. Perguntei se ela votaria novamente nele, ela finalizou: jamais, jamais. Acredito que ninguém de Caxias nem da Baixada inteira repete esse erro”, complementou o historiador Pedro Paulo Rosa.
Vale ressaltar que, Zito também se candidatou à reeleição neste 2012, mas foi eliminado logo no primeiro turno. A disputa continuou entre outro ex-prefeito, Washington Reis, e o iniciante Alexandre Cardoso, com a vitória deste.
Vale ressaltar que, Zito também se candidatou à reeleição neste 2012, mas foi eliminado logo no primeiro turno. A disputa continuou entre outro ex-prefeito, Washington Reis, e o iniciante Alexandre Cardoso, com a vitória deste.
O município
Duque de Caxias tem o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) do estado do Rio de Janeiro, ficando atrás somente da capital carioca. Em 2010, ocupava a 18ª posição a nível nacional, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, ainda assim tem alguns problemas alarmantes, como a falta d’água e a educação, por exemplo.
“A riqueza do município de Duque de Caxias não parece ser tão bem distribuída e administrada, caso comparemos o baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) desta cidade com o PIB caxiense, que é um dos maiores do Brasil. O município começou a crescer na década de 90, a partir da instalação da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), em 1991. Tendo como base de seu crescimento o petróleo, Duque de Caxias saltou, em 2002, para o 6º PIB brasileiro. É, no mínimo, curioso o porquê da distância econômica dos avanços sociais da cidade. O empenho social, a consciência crítica coletiva, assim como o protagonismo popular são valores sociais que precisam adentrar no corpo social de Duque de Caxias com mais força e coesão. A precariedade, isso só falando em educação, da relação escolar municipal é gritante. Embora o município seja famoso por ter um dos maiores salários docentes do estado do Rio de Janeiro, segundo o Ministério da Educação, em 2005, por exemplo, o Índice de Desempenho da Educação Básica (Ideb) revelou que, entre os 88 municípios do Estado avaliados, Duque de Caxias ficou em 76º lugar. A tragédia educacional se ampliou em 2009; a cidade amargou a última posição no Ideb”, acrescentou o historiador.
No mais recente Ideb, deste 2012, Caxias não foi bem no quadro geral, ficando em 63° lugar, embora apareça como a melhor colocada entre os municípios da Baixada Fluminense para as séries do 1° ao quinto ano. Ainda nessa faixa educacional, 50 escolas não teriam conseguido bater as metas, publicou o jornal “O Dia”, que também citou que as aulas seriam prejudicadas pela constante falta d’água.
Pedro Paulo Rosa também falou da “sensação de crescimento nos últimos 10 anos até agora é grande entre alguns moradores”. “A cidade ganhou novas ruas asfaltadas, assim como o Complexo Cultural Oscar Niemeyer, cuja composição se dá por uma praça nova arborizada, um teatro gigantesco para 500 pessoas com muito glamour e uma confortável e moderna biblioteca em formato de aquário retangular, a qual fica em frente ao teatro, e na lateral do também famigerado edifício do Mercado Popular de Duque de Caxias. No entanto, para reverter de fato a situação de desigualdade social no município, os avanços sociais necessitam estar conjugados ao protagonismo do cidadão caxiense, bem como na participação comunitária. Caxias é uma cidade interessante, próxima tanto da Serra (Teresópolis/Petrópolis) quanto está apenas há 15 km do centro do Rio de Janeiro, enfim, é uma localidade estratégica, eficiente - rica em história, em turismo cultural (haja vista a riqueza do distrito de Pilar). Precisa ser valorizada”, ressaltou.
Espera-se que com a futura gestão, Duque de Caxias volte a ser realmente uma cidade limpa!!!
Espera-se que com a futura gestão, Duque de Caxias volte a ser realmente uma cidade limpa!!!
Sobre o historiador
Pedro Paulo Rosa é historiador pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e é autor de livros. Sua mais recente obra é “O Eco da Girafa”, lançada pela Editora Faces.
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