Domingo, 26 de março de 2017 Protestos pró-direitistas tentam reafirmar a influência sobre os manifestantes Imagem: Fernando Frazão ...
Domingo, 26 de março de 2017
Protestos pró-direitistas tentam reafirmar a influência sobre os manifestantes
Imagem: Fernando Frazão / Agência Brasil /
Reprodução / Creative Commons
Em Copacabana, Zona Sul do Rio |
Milhares de brasileiros foram às ruas, neste domingo (26/3), nas principais cidades do país, para reivindicar o fim do foro privilegiado, dos privilégios a políticos e magistrados, do imposto sindical e do Estatuto do Desarmamento, contra a anistia ao caixa dois, o financiamento público de campanhas eleitorais e o voto em lista fechada e apoiar a operação Lava-Jato, que apura a roubalheira na Petrobras. É o segundo grande ato após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT-RS), quem foi deposta em agosto passado. Os eventos de hoje são organizados por movimentos sociais de direita como o Movimento Brasil Livre (MBL), o Vem pra Rua, entre outros.
Imagem: Vem pra Rua / Facebook / Reprodução
No Distrito Federal. O ‘dorminhoco’ é outro, é o tal do ‘gigante’ dos protestos de 2013 |
Note-se que esses mesmos brasileiros vestidos de nacionalismo verde e amarelo, vários deles usando um nariz vermelho de palhaço, foram às ruas manifestar indignação contra a classe política, mas sem criticar, por exemplo, as reformas fiscal, trabalhista e previdenciária que o presidente Michel Temer (PMDB-SP) impõe ao país. O ‘Fora Temer’ estava proibido, mas o ‘Acorda Temer’ era permitido. Se tem algo que ele não está fazendo é ‘dormindo’, disso se pode ter certeza.
O fim do foro privilegiado é necessário para acabar com a impunidade sustentada pela imunidade de políticos em mandato. No caso de deputados federais, senadores, presidente da República e ministros, por exemplo, só podem ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Os manifestantes também criticaram os elevados salários pagos a políticos e magistrados. Em certos casos, somados a benefícios, as mordomias ultrapassam os R$ 70 mil.
O fim do imposto sindical reflete um descontentamento com a atuação de centrais sindicais e colocaria em xeque o continuísmo das mesmas, já que elas dependem dos recursos dos trabalhadores para sobreviverem e promoverem manifestações como porta-vozes de determinada classe política, muitas delas a favor do petismo.
Diante da violência generalizada os manifestantes são favoráveis ao porte de armas, para que o cidadão comum possa se defender.
O perdão a políticos investigados por participação na Lava-Jato e em crimes de caixa dois em campanha é uma tramoia que se discute nos bastidores do poder. As leis não são adequadas para punir os criminosos e evitar a repetição das práticas, mas para salvaguardá-los. Buscam uma forma de ‘estancar a sangria’, expressão utilizada pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) em conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado no ano passado. Recentemente, o ministro do STF Gilmar Mendes – que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – tentou desvincular o caixa dois de corrupção. O crime perde a sua importância a despeito de quem seja o criminoso. Vale lembrar que a chapa Dilma-Temer corre o risco de ser cassada pela corte eleitoral por, supostamente, ter usado dinheiro oriundo do esquema na Petrobras e de caixa dois de empreiteiras envolvidas no caso.
Imagem: Antônio Cruz / Agência Brasil /
Reprodução / Creative Commons
No Distrito Federal. É difícil enterrar a velha política, quando os eleitores são responsáveis por mantê-los como 'zumbis' |
No voto em lista fechada sugerido, recentemente, pelo senador José Serra (PSDB-SP) num jantar de aniversário promovido pelo ministro Gilmar Mendes, o eleitor votaria no partido, não mais no candidato. Ficaria a cargo da legenda, de acordo com o número de cadeiras obtidas, decidir quem ocuparia os mandatos. As velhas raposas, cientes que não chegarão mais longe pelo voto popular por muito tempo, buscam na reforma política desvincular o sistema eleitoral da Constituição Federal, em nome de uma pseudodemocracia, para se perpetuarem.
A cidade de São Paulo mais uma vez será o ‘termômetro’ para avaliar a adesão às pautas reivindicadas. Por volta das 15h30, o evento marcado para as 14h na Avenida Paulista não tinha o mesmo contingente dos demais protestos contra o Partido dos Trabalhadores (PT). Só mais tarde será possível fazer um balanço.
O número menor de manifestantes Brasil adentro pode significar talvez duas coisas: a primeira delas é o conformismo dos mesmos, uma vez que o PT não está mais no poder, como se toda a corrupção do país tivesse acabado; a segunda é que os que não foram não concordavam com as pautas defendidas ou preferiram fazer o que sabem de melhor: protestar virtualmente nas redes sociais em gestos solitários e esperando a solidariedade de amigos em curtidas, comentários e compartilhamentos.
Líderes do MBL, como os ativistas Kim Kataguiri, o vereador Fernando Holiday (DEM-SP) e Arthur Moledo, destacaram que as manifestações contra governos petistas, em 2014, eram desacreditadas no início, mas que ganharam força ‘domingo após domingo, com uma derrota atrás da outra’. Eles também defenderam a privatização, inclusive da Petrobras, como forma de minimizar a influência do Estado e combater a corrupção.
“(...) A nossa luta, ela não pode ser naturalmente contra a corrupção, ela tem que ser contra a corrupção, sim. A Lava-Jato é fundamental pro (sic) país, mas a gente tem que, acima de tudo, apoiar ideias que vão mudar a estrutura do nosso país. Hoje, se o Michel Temer hoje quiser fazer um novo mensalão, ele consegue? Ele consegue, porque a Petrobras ainda tá (sic) nas mãos dele. Se o Michel Temer quiser fazer um novo mensalão, ele também consegue. A gente precisa diminuir o tamanho do Estado, tirar o governo das nossas vidas. A gente precisa da política mais limpa, da política menor, como maior participação popular. A gente precisa apoiar ideias que tirem o poder acumulado dos políticos (...)”, sustentou o coordenador do MBL Arthur Moledo.
“Eu não quero viver em outro país, eu quero viver em outro Brasil”, continuou Arthur Moledo.
Os protestos de hoje buscam reafirmar a influência dos autointitulados movimentos (a)partidários sobre a população e acontecem poucos dias dos realizados por centrais sindicais e movimentos sociais que se opõem às reformas do presidente Michel Temer. Estas organizaram uma ‘greve geral’, que só teve participação de profissionais da educação, bancários, rodoviários e metroviários de São Paulo e sindicalistas.
Até 2016, apesar das críticas sobre os posicionamentos defendidos por movimentos pró-direita, restava incerteza sobre a não partidarização dos mesmos. No entanto, as eleições foram a gota d’água, quando alguns deles decidiram usar a influência que tinham para eleger algumas de suas lideranças. Quanto aos de esquerda nunca houve dúvida de que são completamente ideológicos e partidários.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre outras centrais sindicais, quer fazer outra ‘greve geral’ no próximo dia 31 de março. A data não foi escolhida à toa: marca os 53 anos da deflagração do golpe militar de 1964.
Alguns poucos manifestantes de direita instam a volta da monarquia, enquanto que outros, uma intervenção militar para acabar com a corrupção desenfreada na política.
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