Quinta-feira, 26 de janeiro de 2017 Informação atualizada em 26/01/2017, às 22h22 Presidente do México, Enrique Peña Nieto, suspe...
Quinta-feira, 26 de janeiro de 2017
Informação atualizada em 26/01/2017, às 22h22
Informação atualizada em 26/01/2017, às 22h22
Presidente do México, Enrique Peña Nieto, suspende reunião que teria com Donald Trump na semana que vem, por conta do decreto que autoriza a construção de um muro na fronteira dos dois países
Ainda é cedo para afirmar se o México arcará ou não com as obras da construção de um muro na fronteira com os Estados Unidos (EUA), conforme prometido pelo presidente norte-americano Donald Trump, durante sua campanha eleitoral no ano passado. Mas, já é possível dizer que o México poderá financiar um muro diplomático entre os dois países. Nesta quinta-feira (26/1), o presidente asteca Enrique Peña Nieto cancelou, em protesto, a primeira reunião que teria com seu homólogo na próxima terça-feira (31/1), depois que o líder estadunidense sancionou um decreto, autorizando a construção do mesmo e insistir que de um jeito ou de outro o empreendimento seria pago pelo país vizinho.
Hoje (26) Trump, com seu ativismo peculiar nas redes sociais, já havia se manifestado sobre a resistência do país de latino: “Os Estados Unidos têm um déficit de US$ 60 bilhões com o México. Trata-se de um acordo unilateral desde o início do Nafta, com um número enorme de empregos e empresas perdidos. Se o México não está disposto a pagar pelo muro, um mal tão necessário, então seria melhor cancelar a próxima reunião”.
Ontem (25), Peña Nieto reafirmou (vídeo) que seu país não pagaria por nada e disse que os 50 consulados espalhados nos EUA prestariam assessoria jurídica aos mexicanos que buscarem apoio.
“Os 50 consulados do México nos Estados Unidos se converterão em autênticas defensorias dos direitos dos migrantes. Nossas comunidades não estão sós. O governo do México oferecerá a assessoria legal que lhes garanta proteção que requeiram (...); lamento e reprovo a decisão dos Estados Unidos, de continuar a construção de um muro que, faz anos, longe de nos unir, nos divide. O México não acredita em muros. Eu disse e repito: o México não pagará por nenhum muro”, declarou o líder asteca.
“México oferece e exige respeito como a nação plenamente soberana que somos. México referenda sua amizade ao povo dos Estados Unidos e sua vontade para chegar a acordos com seu governo; acordos que sejam a favor do México e dos mexicanos”, continuou Peña Nieto.
Vídeo: Gobierno de la República / YouTube / Reprodução
Este seria o primeiro capítulo de uma grande disputa política e econômica que poderá ter efeitos positivos e negativos para ambos os lados. Há de se colocar na balança as relações diplomáticas e econômicas em detrimento ao custo político que isso pode gerar, principalmente para Peña Nieto, que pode ver nisso uma oportunidade de diminuir sua rejeição, mesmo estando no poder há mais de 4 anos. Os eventos que sucederam antes da posse de Trump foram apenas prefácios do que está por vir.
Estima-se que as despesas com a construção do muro, de mais de três mil quilômetros, estariam entre US$ 8 bilhões e US$ 14 bilhões. Para bancar a obra, o governante norte-americano pensa em sobretaxar as importações mexicanas, com isso diminuindo a diferença na balança comercial.
Trump também quer diminuir os repasses federais aos estados e municípios que tentarem proteger os imigrantes de sua política anti-imigração.
O Itamaraty divulgou nota, na noite desta quinta-feira (26), manifestando preocupação com o muro: “A grande maioria dos países da América Latina mantêm estreitos laços de amizade com o povo dos Estados Unidos. Por isso, o governo brasileiro recebeu com preocupação a ideia da construção de um muro para separar nações irmãs do nosso continente sem que haja consenso entre ambas. O Brasil sempre se conduziu com base na firme crença de que as questões entre povos amigos – como é o caso de Estados Unidos e México – devem ser solucionadas pelo diálogo e pela construção de espaços de entendimento”.
O Itamaraty divulgou nota, na noite desta quinta-feira (26), manifestando preocupação com o muro: “A grande maioria dos países da América Latina mantêm estreitos laços de amizade com o povo dos Estados Unidos. Por isso, o governo brasileiro recebeu com preocupação a ideia da construção de um muro para separar nações irmãs do nosso continente sem que haja consenso entre ambas. O Brasil sempre se conduziu com base na firme crença de que as questões entre povos amigos – como é o caso de Estados Unidos e México – devem ser solucionadas pelo diálogo e pela construção de espaços de entendimento”.
Também é prematuro dizer se a Iniciativa Mérida estaria comprometida com a gestão de Trump. Trata-se de um acordo no qual os Estados Unidos destinam recursos para que o país asteca possa combater o narcotráfico. De 2007 a 2015, o México teria recebido mais de US$ 2 bilhões. Na verdade, não se trata de mera ajuda financeira, e sim de um investimento para evitar que drogas entrem em solo estadunidense.
A suposta implicância – para não dizer, mas já dizendo, xenofobia – do magnata estadunidense com os estrangeiros, em especial os mexicanos, é antiga. Quando ainda era pré-candidato a presidente pelo partido Republicano, Ele comparou os mexicanos a estupradores e criminosos. Em defesa, disse que só se referia aos imigrantes ilegais.
“Quando o México envia sua gente, não envia para coisas boas, não os envia a vocês. Estão mandando gente com um monte de problemas. Estão trazendo drogas, estão trazendo crimes, são estupradores. E alguns admito que são boas pessoas. Mas, eu converso com guardas na fronteira [entre os EUA e o México] e isso é um senso comum”, expressou o magnata em dada ocasião.
Por conta disso, algumas emissoras de televisão nos Estados Unidos e em alguns países latino-americanos desistiram de transmitir o Miss Universo, concurso que pertence ao Donald Trump. Em 2015, ele processou o canal ‘Univisión’ por ‘quebra de contrato’, pela desistência de transmitir o evento.
Embora tenha recebido menos voto popular do que a adversária democrata Hillary Clinton durante a eleição presidencial em novembro passado, Donald Trump foi eleito graças ao complicado sistema eleitoral que contabiliza os votos por estados de acordo com o número de delegados eleitorais. Estes são formados por congressistas dos dois partidos. Num estado como a Califórnia há 55 delegados eleitorais. O candidato que vencer naquele estado leva tudo, independente da posição ou partido do delegado eleitoral. Já o Alasca tem apenas três delegados, ou seja, três pontos. Foi a soma da pontuação em locais estratégicos que fez com que ele ganhasse.
O republicano apelou para o preconceito para sustentar sua campanha e derrotar os pré-candidatos de seu próprio partido na disputa ao pleito. Agora, no cargo que assumiu na sexta-feira passada (20), se sustenta como alguém perseguido pela imprensa, pelo fato de esta ter feito comparações entre o número de cidadãos que foram assistir sua posse e a do então presidente Barack Obama, além da publicação de que o governo russo teria supostas evidências de sua vida privada que poderiam comprometer seu mandato. Em vez de afetá-lo, as coberturas midiáticas têm fomentado a admiração de conservadores, que o veem como um presidente ousado, desafiador. Para seus simpatizantes, ele estaria cumprindo as promessas de campanha. A vitória e as atuações de Trump poderão servir de inspiração e motivação para o crescimento e/ou ascenção de políticos da extrema direita mundo afora como Jair Bolsonaro, no Brasil, Marie LePen, na França, entre outros. Como bem disse o ministro de Exterior da Alemanha, Frank-Steinmeier, no último domingo (22), a eleição de Trump marca o fim de uma era, de acordo com a emissora ‘Deutsche Welle’.
“Com a eleição de Donald Trump, o velho mundo do século 20 ficou definitivamente para trás”, analisou o diplomata europeu, ao sinalizar que tempos difíceis estariam por vir sob a liderança do magnata.
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