Presidente da CNI quer robotização do trabalhador e fala em carga de até 80 horas semanais

Sexta-feira, 08 de julho de 2016 Ele só se esqueceu de defender o trabalho escravo Imagem: Agência CNI / Reprodução / Creative Commo...

Sexta-feira, 08 de julho de 2016

Ele só se esqueceu de defender o trabalho escravo

Imagem: Agência CNI / Reprodução / Creative Commons

Michel Temer e Robson Andrade

Até agora nenhum sinal de ‘panelaço’ em protesto à declaração do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, quem defendeu carga horária de até 80 horas semanais – com expediente até 12 horas por dia – para o trabalhador.

“Vimos agora o governo francês, sem enviar ao Congresso Nacional, tomar decisões com relação às questões trabalhistas. No Brasil, temos 44 horas de trabalho semanal. As centrais sindicais tentam passar esse número para 40. A França, que tem 36 passou, para a possibilidade de até 80 horas de trabalho semanal e até 12 horas diárias de trabalho. A razão disso é muito simples. A França perdeu a competitividade de sua indústria com relação aos demais países da Europa. Agora, está revertendo e revendo suas medidas, para criar competitividade. O mundo é assim e temos de estar aberto para fazer essas mudanças. Ficamos ansiosos para que essas mudanças sejam apresentadas no menor tempo possível”, declarou Andrade, segundo a ‘Agência Brasil’.

O discurso foi proferido durante a reunião do Comitê de Líderes de Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), que contou com cerca de 100 empresários e convidados como o presidente interino Michel Temer e o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Gilberto Kassab.

Robson Andrade defendeu ‘mudanças duras’ tanto na Previdência Social quanto nas leis trabalhistas, como alternativa de que o país retome o crescimento e consiga sair da atual crise econômica, com déficit fiscal de R$ 170 bilhões.

Na verdade, o que se propõe é a robotização do trabalhador, o que, teoricamente, não tem nada a ver com competitividade, uma vez que se aumenta a carga horária, a indústria poderá contar com menos empregados para desempenhar as tarefas. Do ponto de vista lógico, aumenta o desemprego e o poder de consumo diminui, pois de nada adianta produzir tanto se não há quem compre. Não custa lembrar que o trabalhador gasta em média 4 horas diárias no trânsito de casa ao local de trabalho e vice-versa. 12 horas de trabalho mais 4 horas no trânsito somam 16 horas. As 8 horas restantes seriam apenas para dormir. Adeus ver o filho acordado antes de dormir, adeus vida de casado na madrugada. Adeus vida social. Adeus tudo.

“Ao citar como exemplo 80 horas semanais, presidente da CNI revela o tamanho do retrocesso. Daqui a pouco vão propor o direto o trabalho escravo”, criticou o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP).

“O pior não é o presidente da CNI propor carga horária de 80 horas. O terrível disso é a reação favorável e simpática do governo golpista à ideia”, condenou o ex-deputado estadual do Rio de Janeiro e ex-superintendente Regional do Ministério do Trabalho Robson Leite (PT-RJ).

A Central Única dos Trabalhadores (CUT), por meio de seu diretor executivo Júlio Turra, aproveitou a fala de Robson Andrade para repetir a ladainha de que esse seria um dos motivos para o suposto golpe contra a presidente afastada Dilma Rousseff.

“A proposta da CNI escancara a natureza de classe do golpe em curso no Brasil. As declarações de Andrade demonstram claramente que o alvo do golpe é a classe trabalhadora”, expressou o dirigente cutista.

Só para deixar claro: isso não tem nada a ver com capitalismo selvagem. Tem mais a ver com um oportunismo que está sendo criado pela difícil condição do país e que em épocas prósperas jamais seria levado adiante.

“Somos totalmente contra qualquer aumento de imposto. O Brasil tem muito espaço para reduzir custos e ganhar eficiência para melhorar a máquina pública antes de pensar em qualquer aumento de carga tributária. Acho que seria ineficaz e resultaria, neste momento, na redução das receitas, uma vez que as empresas estão em uma situação muito difícil”, continuou o dirigente da CNI.

Falta saber se Temer governará com equilíbrio – para diminuir sua baixa popularidade e tirar o país da merda que sua ex-colega de chapa colocou – ou se renderá aos interesses de um grupo. Getúlio Vargas foi protagonista ao consolidar as leis trabalhistas. O peemedebista precisará escolher se quer ser o antagonista.

A CNI reúne o Serviço Social da Indústria (Sesi), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), entre outras entidades ligadas ao setor industrial.

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