Quarta-feira, 15 de julho de 2015 Informação atualizada em 15/07/2015, às 22h22 Mesmo com a vitória do 'não', país decide fazer...
Quarta-feira, 15 de julho de 2015
Informação atualizada em 15/07/2015, às 22h22
Informação atualizada em 15/07/2015, às 22h22
Mesmo com a vitória do 'não', país decide fazer novo acordo com a Troika em troca de novo empréstimo
A esquerda comemora
A esquerda comemora
'Quem ri por último, ri melhor'; 'alegria de pobre dura pouco'; 'não se pode cantar vitória antes do tempo'. Todos esses ditos populares referem-se à inútil e apressada comemoração de partidos de esquerda em todo o mundo, inclusive no Brasil, ao resultado do referendo que a Grécia promoveu no último dia 5 de julho. A consulta popular teve por objetivo saber se o país deveria ou não pagar a parcela de 1,6 bilhão de euros (cerca de R$ 5,5 bilhões), em atraso desde o último dia 30 de junho, à Troika', grupo de credores formado pelo Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI). E, consequentemente, se deveria ou não negociar um novo acordo, para continuar recebendo ajuda financeira. O 'não' venceu com folga de 61,31% dos votos válidos, enquanto o 'sim' foi, aparentemente, derrotado com 38,69% dos votos válidos. Na ocasião, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ousou a dizer que a democracia havia vencido o medo e a chantagem.
O Partido dos Trabalhadores (PT) celebrou, em nota assinada por seu presidente Rui Falcão, a votação, tachou a cobrança dos credores de 'terrorismo financeiro', e afirmou que 'o Banco [Central] Europeu chantageava a Grécia'. Eis a nota:
“O Partido dos Trabalhadores saúda o triunfo justo e digno do povo grego contra o terrorismo financeiro do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional. Ao manifestar com a contundência de 61,3% a 38,7% sua rejeição à proposta neoliberal desses organismos financeiros e suas medidas de austeridade reclamadas pela União Europeia frente a crise financeira que o país atravessa, o povo grego disse não ao aumento do Imposto de 23% sobre alimentos, ao corte drástico das aposentadorias, à redução violenta dos salários dos funcionários públicos entre outros pontos para assegurar o desembolso de bilhões de euros que fazem parte do resgate financeiro do Eurogrupo.
O Banco Europeu chantageava a Grécia sob a tutela do FMI segundo a fórmula 'mais dívida para pagar a dívida', o que só agravava a situação e o sofrimento do povo helênico e de resto concentrando o capital em poucas mãos.
A vitória do povo grego, conduzida pelos companheiros da coligação Syriza, que governa aquele país, pode ser considerada também como um triunfo dos povos valentes da América Latina e uma viva demonstração de que é possível resistir às pressões das políticas neoliberais e negociar em condições mais vantajosas aos trabalhadores e camadas populares de seus países.
O Partido dos Trabalhadores manifesta seu mais profundo respeito e admiração ao povo grego, berço da democracia, no momento histórico em que inflige uma derrota ao capitalismo mais selvagem”.
Note-se que o PT que critica o capitalismo 'selvagem' é o mesmo que se apoiou dele, por meio de doações de empreiteiras altamente capitalistas, nas últimas campanhas eleitorais. Cospe no prato que comeu.
Dias antes do referendo, o Partido Socialismo e Liberdade (Psol) havia se mostrado a favor do mesmo. Seguem alguns trechos da nota:
“Depois de longos meses de negociações, o governo grego decidiu deixar a mesa de negociações com a Troika para que o povo grego decida se aceita ou não as condições impostas por ela. Ou seja, o povo grego está sendo chamado a manter sua altivez ou aceitar a ditadura financeira que comanda a União Europeia, sob a batuta imperialista da Angela Merkel (a chanceler alemã).
(…) A chantagem da Troika contra a Grécia era esperada. De nenhuma maneira podia se fazer as concessões que pedia o governo grego. Não pode do ponto de vista econômico, mas tampouco político. Significaria abrir a porta para que novos Syrizas sigam aparecendo na Europa, como já sucedeu na Espanha, com o Podemos (partido radical de esquerda, supostamente, patrocinado pela ditadura venezuelana). Significaria também estimular que mais europeus tenham disposição para rejeitar a política de austeridade, implementada em toda zona do Euro, tornando mais forte as reações que já foram sentidas na Irlanda, Portugal e em outros países. Não temos nenhuma dúvida que agora as mobilizações de apoio se espalharão por toda Europa, como já começou a acontecer.
O Psol tem sido, desde o primeiro momento, solidário com o Syriza (o partido de extrema esquerda que governa a Grécia) e o povo grego. Nos momentos em que o governo Dilma/Levy se curva ante os banqueiros americanos e o governo imperialista dos EUA, e o conservadorismo parlamentar avança, Grécia é nosso exemplo (…)”
O Psol parece ignorar que a crise enfrentada pelo governo Dilma Rousseff, no segundo mandato, se deve à má condução da economia no primeiro mandato – o que foi omitido aos eleitores durante campanha eleitoral – e aos efeitos desastrosos da corrupção como o Petrolão, por exemplo.
Novo acordo
Novo acordo
A Seção Brasileira da Esquerda Marxista Internacional – que até pouco tempo era alinhada ao PT – chegou a comemorar o resultado da consulta popular, e o classificou de 'tapa na cara da Troika'. A verdade é que está sendo um tapa, sim, mas na cara dos próprios gregos. Ou pode se dizer que os helênicos praticaram uma espécie de autoflagelação e de humilhação desnecessárias. Na última segunda-feira (13/7), Atenas não só disse sim a certas exigências da Troika como também fechou um acordo para receber o terceiro pacote de ajuda financeira que pode passar dos 80 bilhões de euros – mais de R$ 275 bilhões – para os próximos três anos. Desse modo, continua na zona do euro e usufruindo da moeda única. Outros 35 bilhões de euros, o equivalente a R$ 120,4 bilhões, seriam investidos no país pela Comissão Europeia. O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ressaltou que essa grana extra poderia ser usada para combater o desemprego que atinge 1,5 milhão de pessoas.
Entre os acordos firmados pela Grécia estão: o ajuste fiscal; o aumento de impostos ao consumidor (conhecido como IVA); a mudança em legislações, como as trabalhistas e a que permita estender a abertura dos estabelecimentos comerciais aos domingos; ademais a privatização de empresas públicas de infraestrutura e a criação de um fundo especial de 50 bilhões de euros – uns R$ 172 bilhões – para a venda de ativos, tais como: edifícios, terras e até mesmo ilhas. A Alemanha pretendia levar esses títulos de ativos para Luxemburgo, para controlá-lo e para que Atenas não impedisse sua venda, mas não conseguiu. A exigência de Tsipras era de que os mesmos ficassem na Grécia e fossem geridos por seu governo.
“O acordo prevê medidas duras. No entanto, impedimos a transferência da propriedade pública no exterior. Impedimos a asfixia financeira e o colapso, planejado em detalhes (…); finalmente, nesta dura batalha, conseguimos obter a reestruturação da dívida e de um processo de financiamento a médio prazo”, disse o primeiro-ministro helênico.
Tragédia grega
Tragédia grega
A imagem que marca a tragédia grega atual é a de um aposentado chorando por não conseguir sacar sua aposentadoria no banco. No fim do mês passado, o governo decretou feriado bancário por dias, o que limitava os saques aos correntistas. Que a situação da Grécia é complicada, disso não resta dúvida. Contudo, o país não é a vítima em questão. Caso seja, certamente, de si mesmo. Portanto, quem é vítima de seus próprios atos é vilão, cúmplice. Pois, desde 2010, já recebeu mais de 300 bilhões de euros – mais de R$ 1 trilhão – em ajuda financeira nesse capitalismo 'selvagem'. Sua dívida atual, aparentemente impagável, é de 180% do valor do seu Produto Interno Bruto (PIB).
“A dívida pública da Grécia tornou-se altamente insustentável. Isto é devido à flexibilização das políticas durante o ano passado, com a recente deterioração do ambiente macroeconômico e financeiro doméstico por causa do fechamento do sistema bancário aumentando significativamente as dinâmicas adversas. A necessidade de financiamento até ao final de 2018 é agora estimado em 85 bilhões de euros (o equivalente a R$ 292 bilhões), e a dívida deverá atingir o pico em cerca de 200% do PIB nos próximos dois anos, desde que haja um acordo sobre um programa (…)”, alertou o FMI. Sem o perdão ou a flexibilização da dívida, a situação de Atenas agrava-se mais.
A Grécia teve a chance de realmente pular fora do bloco econômico, já que obteve o consentimento da população, e dizer 'não' ao capitalismo 'selvagem'. Mas, preferiu continuar nele para utilizar o euro. Com isso, o governo – que assumiu o poder em janeiro deste ano – garantiu temporariamente a própria sobrevivência. Por falta de caixa, não teria como adotar uma moeda alternativa, ou sua antiga, o dracma. Por outro lado, se não tivesse firmado o acordo, abalaria mais sua situação com a perda de confiança dos investidores.
“Nos últimos seis meses, tenho feito tudo o que é humanamente possível, em circunstâncias difíceis, com ameaças e chantagens sempre presentes. No entanto, acho que ninguém pode contestar isso, os riscos que eu tenho tomado ao não considerar o custo político, eu não optei por compromissos apressados apenas para garantir a permanência no poder”, continuou Tsipras.
Nesta quarta-feira (15), a Grécia teve mais uma chance de renunciar ao novo acordo, porém resolveu aderi-lo. O parlamento decidiu acatar certas exigências da Troika em troca de mais suporte financeiro. Ainda assim, a estabilidade econômica e política ainda é imprevisível. Mais cedo, centenas de manifestantes se reuniram em frente ao Congresso, na Praça Syntagma, para protestar contra novas medidas de austeridade. Houve confronto com a polícia, que lançou bombas de gás lacrimogêneo e coquetéis molotov para dispersar a multidão. Dos 300 parlamentares presentes, 229 teriam votado a favor, enquanto outros 64 se opuseram. Outros seis se abstiveram. 32 desses deputados são do Siryza. Eles votaram contra ou em abstenção.
Alex Tsipras ameaçou deixar o cargo se o 'sim' vencesse. Mais do que tentar inverter uma suposta chantagem, como ele vinha classificando a crise, e fazer oposição às medidas de austeridade impostas pelos credores, buscava-se por meio do referendo legitimar um possível calote. Que fique claro, que fazer referendo para saber se o país deve pagar uma dívida, não é democracia. É transferir para os outros a responsabilidade de seus atos. É buscar novos culpados. Chegou, inclusive, a apelar para a mitologia para que os eleitores votassem pelo 'não'.
Grécia cobra indenização à Alemanha
Vale lembrar que a Grécia cobra aos alemães uma indenização estimada em 278 bilhões de euros (R$ 956 bilhões) pela ocupação nazista entre 1941 e 1944. Na cifra estariam incluídos 10 bilhões de euros que o Banco Central da Grécia teria emprestado 'à força' às tropas estrangeiras.
Leia também:
Grécia: primeiro-ministro Alexis Tsipras volta a testar popularidade ao renunciar cargo
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