Quinta-feira, 05 de março de 2015 Morte oficial de Hugo Chávez completa dois anos Em 2011, a novela colombiana Chepe Fortuna, do ca...
Quinta-feira, 05 de março de 2015
Morte oficial de Hugo Chávez completa dois anos
Em 2011, a novela colombiana Chepe Fortuna, do canal RCN, já questionava o que seria da Venezuela sem seu Huguinho. No dramalhão havia uma secretária trambiqueira, envolvida em atividades ilícitas, chamada Venezuela, dona de um cachorro chamado Huguinho. A personagem, por sua vez, tinha uma irmã chamada Colômbia. O enredo satirizava a crise diplomática protagonizada entre os dois países, devido à presença de militares estadunidenses em Bogotá, em apoio ao combate ao narcotráfico.
No dia em que o animal de estimação sumiu numa praia, Venezuela recebeu uma ligação de seu namorado, e ao saber do fato se fez esta pergunta: “O que será da Venezuela sem seu Huguinho?” E escutou a seguinte reposta: “Será livre, Venezuela. Ultimamente, Huguinho vivia fazendo cagadas por todas as partes”. Isso foi a gota d'água para que o então presidente Hugo Chávez censurasse a programação, ao ordenar ao canal Televen a retirá-lo do ar, alegando suposta apologia ao delito, intolerância racial, xenofobia e que denegria a imagem do país.
Dizem que a vida imita a arte. Nem sempre!!! Dois anos após a morte oficial de Hugo Chávez, completados nesta quinta-feira (5/3), os venezuelanos ainda não conseguiram se livrar de sua onipresença. O país está pior do que nunca: escassez de comida, de papel higiênico, de medicamentos e preservativos; inflação anual acima dos 60%; crise cambial; a importação de petróleo, embora a nação seja uma das maiores exportadoras; constantes empréstimos para aliviar a crise acirrada pela baixa no preço do petróleo no mercado mundial; a perseguição direta e declarada a políticos opositores etc.
Seu afilhado político, Nicolás Maduro, não possui o carisma de Chávez e dirige o país como se ainda dirigisse um ônibus. Esse era seu ofício antes de entrar na política com o falecido mandatário. Por inúmeras vezes, o governo apelou para o misticismo para controlar a massa:
1) dias após o falecimento, supostos populares construíram uma capelinha e a batizaram de 'Capela Santo Hugo Chávez'. Esta encontra-se no bairro 23 de Enero, em Caracas, cujo local é cheio de significados: fica próxima ao Quartel de la Montaña, onde seu corpo foi sepultado, e onde ocorreu uma tentativa de golpe de estado, momento marcante na trajetória política do ex-líder bolivariano.
2) para vencer a eleição presidencial contra o então governador de Miranda, Henrique Capriles, em 2013, Maduro disse que Chávez apareceu diante dele em forma de passarinho.
3) em setembro passado, chavistas criaram a 'Oração do Delegado', uma espécie de Pai Nosso: “Chávez, nosso, que estás no céu, na terra e no mar e em nós, os delegados e delegadas. Santificado seja o seu nome, venha a nós o seu legado para levá-lo aos povos de aqui e de lá. Dê-nos a tua luz para que nos guie cada dia. Não nos deixe cair na tentação do capitalismo, mas nos livre de maldade da oligarquia, do delito do contrabando porque da gente é a pátria, a paz e a vida. Pelos séculos dos séculos. Amém”.
4) em outubro de 2014, o governo criou o Instituto de Altos Pensamentos do Político Hugo Rafael Chávez Frías. A autarquia tem como função promover nas universidades a lavagem cerebral com a filosofia socialista com vertente chavista.
Mais do que uma 'religião', os chavistas se apropriaram com fetichismo de seu ídolo. Note-se que o país se tornou uma espécie de herança deixada a Maduro e a genro de Chávez, Jorge Arreaza, que é o atual vice-presidente.
Imagem: Minci / Divulgação
O câncer levou Chávez, que está levando a Venezuela para a cova, mesmo depois de morto. Ou pode-se dizer que ele é o próprio câncer político. Como se sabe, seu óbito é um mistério: de acordo com o ex-embaixador do Panamá na OEA, Guillermo Cochez, ele teria falecido entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013, não março, enquanto se tratava de um da doença na região pélvica, em Cuba. Vale salientar que, em fevereiro de 2013, ele apareceu, supostamente, lendo um exemplar do diário Granma, de 15 de fevereiro (foto).
Ao lado de duas filhas |
Perseguição política
A tensão política aumentou com a detenção arbitrária do prefeito oposicionista de Caracas, Antonio Ledezma, pelo Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), no último dia 19 de fevereiro, a qual Maduro anunciou como se tivesse ganhado um troféu. Na ocasião, o chefe de Estado anunciou que convocaria novas eleições para o Executivo municipal. O prisioneiro foi acusado de participar de um suposto plano de golpe de estado, com ajuda dos Estados Unidos, para atacar o Palácio de Miraflores (presidência) e as sedes do Ministério da Defesa e do canal estatal Telesur. Ledezma ainda não foi julgado, e a aparente atitude de antecipação por parte do governo poderia ser vista como a certeza de que o Judiciário joga no seu time.
No final do mês passado, a prefeita opositora de Guasdualito, Lumay Barreto, foi destituída do cargo pelo Conselho Municipal, equivalente à Câmara dos Vereadores, por ter se ausentado cinco dias, apesar de a Constituição permitir até 15 dias. Nessa manobra política com cara de golpe de estado, quem assumiu o posto foi o chavista Victor Blanco, então presidente do Legislativo.
Em abril de 2014, a deputada opositora María Corina Machado é deposta da função, por ter aceitado o assento do governo panamenho na Organização das Nações Unidas (OEA), para denunciar supostas violações de direitos humanos na Venezuela.
Também no ano passado foram presos outros dois oposicionistas: o ex-prefeitos de Chacao, Leopoldo López, e de San Cristóbal, Daniel Ceballos. O primeiro foi acusado de suposta incitação ao terrorismo, incitação à violência, danos ao patrimônio público, por participar de um protesto antigoverno que resultou na morte de 43 pessoas e mais de 1.400 feridos num confronto entre a polícia e manifestantes; já o segundo não teria retirado as barreiras de contenção colocadas por manifestantes, o que impedia o trânsito de fluir.
Golpismo e distração
Uma semana antes de sua captura, Ledezma, junto a López e Machado, criou um abaixo-assinado, pedindo a transição do governo. O documento foi considerado uma tentativa de golpe de estado.
Na última terça-feira (3), o presidente Maduro afirmou que o suposto golpe seria transmitido pelo canal local Televen e difundido internacionalmente pela norte-americana CNN com o fito de desestabilizá-lo.
Recentemente, e estranhamente, alguns áudios de supostas conversas sobre golpe de estado foram divulgadas pelo presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello – o segundo no Chavismo –, e o prefeito de Libertador Jorge Rodríguez. Por que não pelo próprio presidente ou por autoridades policiais???
Fica a dúvida se esse suposto plano de golpe realmente existiu ou se o mesmo foi um golpe do próprio governo, para justificar a repressão e provocar distração popular perante o caos no país e as recentes polêmicas, tais como: os supostos envolvimento de autoridades em contrabando e o patrocínio milionário do governo venezuelano ao partido espanhol Podemos, por meio de serviços de consultoria, por exemplo.
Há poucos dias, Maduro disse que se candidatasse a presidente na Espanha, venceria. A declaração foi dita em tom de crítica, pelo fato de a imprensa espanhola noticiar com ênfase a crise em seu país, o que ele considera uma campanha de difamação promovida em parceria com o governo europeu.
A preocupação de Maduro com os espanhóis é tanta, que, no passado dia 12 de fevereiro, integrantes de seu governo se reuniram com representantes de multinacionais ibéricas como a Telefónica, Iberia, Repsol, entre outras. As empresas teriam sido, supostamente, chantageadas com expropriação se não melhorassem a imagem da nação sul-americana perante os meios de comunicação e o Palácio de la Moncloa.
Melhorar a imagem da Venezuela seria, consequentemente, melhorar a do Podemos e, quem sabe, facilitar a expansão bolivariana para o outro lado do Atlântico. Porque do lado de cá já fez escola: na Argentina, no Equador, na Bolívia, e tenta o mesmo no Brasil. A começar com a ideia de regulação econômica da mídia e com o Decreto nº 8.243/2014, que cria os conselhos populares. Isso sem contar o tal convênio firmado entre o ministro para as Comunas e os Movimentos Sociais, Elias Jaua, e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), dias após a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Apesar de tudo o que se tem visto na Venezuela, está difícil predizer seu futuro. Todavia, é possível fazê-lo para os que seguirem o mesmo caminho: o abismo.
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