Sexta-feira, 24 de outubro de 2014 Qual a linha que separa a religião da política??? Não é algo fácil de responder, já que exige certa ...
Sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Qual a linha que separa a religião da política??? Não é algo fácil de responder, já que exige certa reflexão. No entanto, é possível dizer um dos nomes que as mescla e tenta confundi-las, ao pretender sobrepor a primeira da segunda: o pastor Silas Malafaia. Prova disso é que seu apoio político nas últimas eleições é baseado em seus dogmas e rixas dos mais diversos tipos. Talvez, pior do que não distinguir o papel de religião e política, é não saber o próprio. Comecemos por 2014:
Eleição presidencial de 2014
Até o primeiro turno da eleição presidencial, o líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo (Avec) apoiava a candidatura da ex-senadora Marina Silva (PSB), inclusive, supostamente, induzindo-a a retroceder seus compromissos com a causa LGBT. Esse momento era o prelúdio de sua derrota: o de mudar de opinião e de não conseguir firmar a sua “nova política”. Até então, ela estava bem nas pesquisas, mesmo com os reiterados ataques de adversários e de diferentes formadores de opinião.
Já no segundo turno, o pastor declarou apoio ao senador Aécio Neves numa rixa explícita ao Partido dos Trabalhadores (PT) materializada em Dilma Rousseff.
Imagem: Twitter / Reprodução
12 anos de gov do PT e agora DILMA diz que vai resolver o problema da segurança,uma piada,é muita cara de pau,uma ENGANAÇÃO,Fora Dima !
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) 23 outubro 2014
Ele tem todo o direito de não querer votar na candidata petista e/ou até mesmo de não gostar da legenda. Mas, tenta justificar seu ódio com mais ódio, conforme postagem feita em seu perfil no twitter (abaixo). Nota-se um suposto intento de desqualificar uma pessoa por ser de religião diferente da dele e outra por ser homossexual. O inverso também pode ocorrer: um eleitor deixar de votar em determinado candidato tendo em vista seu apoio.
Imagem: Twitter / Reprodução
ACORDA EVANGÉLICOS! Na 1ª fila no Pgm eleitoral de Dilma ontem e hoje, uma mãe de santo e o DEP gay Jean Wyllys.
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) 23 outubro 2014
As últimas pesquisas de intenção de voto apontam Dilma Rousseff alguns pontos à frente de Aécio Neves. Contudo, ele ainda pode reverter isso e ganhar a eleição. Se a atual mandatária for reeleita com um pouco mais de 50% dos votos válidos, ganhará perdendo. Pois, significa que praticamente a metade do país não está ao seu lado.
Eleição para governador do RJ de 2014
Eleição para governador do RJ de 2014
Na disputa deste segundo turno para o governo do Rio de Janeiro, resolveu apoiar o atual mandatário Luiz Fernando Pezão, com direito a críticas ao candidato adversário Marcelo Crivella (PRB). Justifica o voto (vídeo) em atritos com a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), comandada pelo bispo Edir Macedo, tio do ex-ministro da Pesca.
Vídeo: YouTube / Divulgação
O vídeo (acima) reforçou o preconceito em relação à Igreja Universal. Apenas para deixar claro: o material não incita a discriminação, porque ela já existe, não apenas entre os demais evangélicos como também em quem não os são.
Não custa nada lembrar que Malafaia um dia já apoiou a candidatura de Crivella para senador.
É praticamente certo que Pezão vença, no próximo domingo (26/10). Mas, não será graças a Mafalaia, porque já no primeiro turno boa parte do eleitorado tinha se decidido. Afinal, recebeu 40,57% dos votos válidos. A questão sobre a Iurd era tácita, agora neste segundo turno se tornou explícita. Será que os votos de Garotinho e de Lindberg ajudarão Crivella??? Antes de continuar, é preciso deixar claro que o objetivo aqui NÃO é fazer campanha para candidato que seja.
O apoio de Malafaia a Pezão é uma contradição: o peemedebista, quando era vice-governador de Sérgio Cabral, participou de políticas de combate à homofobia e de promoção da diversidade de gênero. Inclusive, o governo fluminense realizou o que se chamaria de maior casamento gay coletivo do mundo, em 2011, na Secretaria de Estado de Assistência Social e de Direitos Humanos (SEASDH). Até onde se sabe, isso vai contra a doutrina pregada na seita de Malafaia.
Eleição presidencial de 2010
Em 2010, o pastor Silas Malafaia desistiu de apoiar Marina Silva, na época candidata à Presidência pelo Partido Verde (PV), sob alegação de que ela seria a favor da descriminalização do aborto. Seu favoritismo foi depositado no então candidato do PSDB José Serra. Ao que parece, seria uma constante largar a política acreana pelo tucanato.
Avec x Iurd
Engana-se quem pensa que a rixa entre a Avec, de Silas Malafaia, e a Igreja Universal, de Edir Macedo, é de agora e por causa da eventual perda de horário na TV, como disse o pastor no vídeo acima. Os dois líderes religiosos também se enfrentam na política, de forma indireta, apoiando candidaturas.
Em 2010, quando Malafaia trocou Marina por Serra, o bispo da Iurd publicou um texto intitulado “Cuidado com o Profeta Velho”, indagando por quais razões ele teria optado pelo tucano, se tanto ele quanto Dilma Rousseff (PT) eram favoráveis ao matrimônio entre pessoas do mesmo gênero, algo contra a doutrina da Assembleia de Deus.
Breve análise
Na Idade Média, por exemplo, a religião se comportava como se estivesse acima da política; na atualidade, ela influencia eleitores com base em supostos preceitos e identidade, sem admitir, embora haja certo descaramento, de que se vota em quem o líder espiritual mandar, ou, então, conforme um velho e ridículo clichê: o povo de Deus vota em que é de Deus. É uma espécie de “Teocoronelismo” num estado laico!!!
Silas Malafaia não é apenas um cidadão com direito à liberdade de expressão. Por exercer uma liderança religiosa, suas palavras têm força e influenciam fieis, transformando-os em massa de manobra junto à opinião pública. Todavia, ele não é o único nesse quesito: a própria Iurd o fez recentemente, quando um pastor teria tentado induzir votos dos fieis a Marcelo Crivella para o governo do RJ. Em 2012, por exemplo, Edir Macedo esteve ao lado de Celso Russomano à Prefeitura de São Paulo, que era candidato pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB). Talvez, tal apoio tenha sido o motivo de sua derrota.
Também em 2010, cerca de um milhão de panfletos, supostamente atribuídos à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), recomendava que fieis não votassem em Dilma Rousseff.
A intromissão da religião na política representa um grave retrocesso na independência de ambas, independente do candidato que se apoie e/ou de sua ideologia (socialismo ou capitalismo). Por uma questão de honestidade intelectual, não se está criticando o fato de lideranças religiosas participarem de discussões políticas e sociais (ex.: aborto, união homoafetiva, segurança pública, maioridade penal etc.) , e sim de agirem como braços de partidos políticos.
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