Quinta-feira, 08 de maio de 2014 OPINÓLOGO compartilha com seus leitores uma reflexão sobre a barbárie cometida contra Fabiane Maria de ...
Quinta-feira, 08 de maio de 2014
OPINÓLOGO compartilha com seus leitores uma reflexão sobre a barbárie cometida contra Fabiane Maria de Jesus, de apenas 33 anos, no Guarujá, brutalmente assassinada por causa de boatos em redes sociais de que ela seria uma suposta raptora de crianças para usá-las em rituais de magia negra. O texto foi publicado originalmente no site 'Mundo Dimais' –, de autoajuda e filosofias –, que também pertence a este periodista que lhe escreve, sob o título 'Webesteira: o mau uso das redes sociais – capítulo 3'.
OPINÓLOGO compartilha com seus leitores uma reflexão sobre a barbárie cometida contra Fabiane Maria de Jesus, de apenas 33 anos, no Guarujá, brutalmente assassinada por causa de boatos em redes sociais de que ela seria uma suposta raptora de crianças para usá-las em rituais de magia negra. O texto foi publicado originalmente no site 'Mundo Dimais' –, de autoajuda e filosofias –, que também pertence a este periodista que lhe escreve, sob o título 'Webesteira: o mau uso das redes sociais – capítulo 3'.
“Infelizmente, a barbárie cometida contra Fabiane não servirá de lição à grande parte dos 61,2 milhões de brasileiros que utilizam o Facebook (dados são de fevereiro de 2014 do portal Uol). Muitos, já que não se pode generalizá-los, continuarão postando bobagens e, sem ter consciência, difamando os outros. É bom ter em mente que mesmo que tal acusação ou boato tenha sido feito por outra pessoa, quem o replica sem provas também tem coautoria”, diz um dos trechos do artigo.
'Webesteira' seria um neologismo formado pelas palavras web + besteira, para nomear o mau uso da internet, especialmente nas redes sociais. E faz parte de alguns textos de uma série de análises que este jornalista vem fazendo ao longo dos últimos anos com base na experiência que tem e no que tem visto em sua rede de amigos e/ou até mesmo em noticiários.
Segue o texto, na íntegra:
“Webesteira: o mau uso das redes sociais – capítulo 3
Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, foi espancada até a morte, no Guarujá (SP), no último dia 3 de maio, por causa de um boato em redes sociais de que seria uma suposta sequestradora de crianças para utilizá-las em rituais de magia negra. Para resumir a 'ópera': ela era inocente. E segundo parece, também não existiam registros de menores desaparecidos na região.
De acordo com o Dicionário Michaelis de Língua Portuguesa, boato é: “sm (lat boatu) 1 Notícia anônima, sem confirmação, que corre publicamente. 2 Balela”. Complementando: um boato pode ser verdadeiro ou não. Todavia, 'Mundo Dimais' oferece um significado mais adequado ao tema abordado: trata-se de um 'ruído' de comunicação entre o emissor e o receptor de uma mensagem oriundo de um mau entendimento e que se propaga. A principal característica desse fenômeno do 'disse me disse' está na interpretação que se dá e ao não checar a veracidade dos dados e não questioná-los. O receptor aceita passivamente o que ouviu e se torna um ser ativo na difusão.
Fabiane também não morreu porque uma jornalista disse ser 'compreensível' a ação de pessoas que praticam a justiça com as próprias mãos. Ela foi vítima da ignorância e de uma sociedade cansada de tantas injustiças, que se 'vilaniza' ao querer converter os demais em bodes expiatórios para expiar os pecados de toda uma existência. Embora hajam pessoas querendo culpar indiretamente a Rachel Sheherazade pelo comentário que fez no 'SBT Brasil', no último dia 4 de fevereiro, sobre um jovem negro amarrado ao poste que apanhou de 'justiceiros', essas mesmas pessoas são incapazes de aceitar que se autoflagelam ao querer colocar o bandido como vítima e esta, o oposto. E quem acreditar nisso estará sendo refém dessas mesmas pessoas que não têm respostas para dar à sociedade contra a violência, a corrupção, entre tantos males sociais, e buscam no ataque a melhor maneira de se defenderem. Em vez de os assassinos de Fabiane serem criticados, optou-se por um linchamento moral à âncora de TV. Pura inversão de valores!!!
Fabiane não foi morta por 'justiceiros', mas por bandidos que fazem seus próprios juízos e executam as punições, e que confundem vingança com justiça. Batman era justiceiro, assim como o Homem-Aranha e tantos outros heróis. É importante saber distinguir um do outro. Porque esses seres dos quadrinhos costumam levar os vilões para a prisão. E não foi o que aconteceu fora dos gibis.
Apenas por uma questão de honestidade intelectual: vale-se do clichê – algo chato e repetitivo – de que nas periferias, o tráfico atua como 'polícia', 'legisla' e 'julga' da forma que achar mais conveniente. Foi assim, é assim e continua sendo. E ninguém se opõe. A culpa não pode ser dos meios de comunicação ou das redes sociais. Muito menos de uma apresentadora de telejornal!!!
Fabiane, assim como tantas outras pessoas, talvez inocentes, foi transformada de vítima a ré de um 'fundamentalismo brasileiro', que não concede o benefício da dúvida, que bate primeiro para pedir desculpas depois.
Já não é de hoje que mídia e redes sociais disputam não oficialmente o título de quarto poder. A primeira surgiu muito antes da segunda, é detentora de tal apelido e, atualmente, ambas se complementam até certo ponto. Entretanto, o que se tem visto por aí é que a segunda tenta se sobrepor à primeira e ao que tudo implica. Blogs e perfis em redes sociais têm se aproveitado de erros do passado de grandes meios de comunicação – que apoiaram a Ditadura Militar (1964-1985) – para culpá-los por toda a eternidade e demonizá-los. Essas mídias alternativas tentam se mostrar como se fossem mais verdadeiras do que a grande imprensa, que está realmente preparada com ética e responsabilidade para cumprir o seu labor social: o de levar informação.
Uma sutil diferença entre a imprensa oficial e a alternativa é que a primeira defende os próprios interesses, enquanto a segunda, em certas ocasiões, é paga – até mesmo com dinheiro público – para defender os dos outros. Você nunca verá o jornalismo oficial divulgar notícias no anonimato, mas o alternativo, talvez. O que mais se tem visto por aí é perfis e blogs anônimos ou com pseudônimos para atacar A ou B, comumente usados para fins politicamente sórdidos. Observa-se uma espécie de desonestidade intelectual. É importante frisar que não há nada contra essas mídias alternativas, e que também não se pode generalizá-las. Até porque várias delas têm contribuído com o processo de globalização da informação e, em determinados casos, até feito concorrência aos meios tradicionais. Com isso, obrigando-os a trabalhar mais para oferecer melhores serviços e coberturas noticiosas. Mas, não se pode deixar de enfatizar que essas mídias secundárias redescobriram a 'receita' que o velho jornalismo deixou de lado: falam aquilo que os espectadores querem ouvir e/ou ver.
Descobriu-se nas redes sociais como criar campanhas de descrédito por meio da incredulidade e da indignação popular. Só que aí o usuário acaba sendo vítima – melhor dizendo: manipulado – ao passar a crer sem verificar e/ou contestar. Foi assim que Fabiane morreu... vítima de uma 'webesteira', neologismo que este autor definiu como o mau uso das redes sociais. A expressão é formada pelas palavras web + besteira.
Se certas pessoas realmente tivessem noção do poder que a web tem, jamais a usariam em vão: ela pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal. É como diz aquele velho ditado: “as palavras são levadas pelo vento”. Comentou este autor no primeiro capítulo desta série de textos.
Infelizmente, a barbárie cometida contra Fabiane não servirá de lição à grande parte dos 61,2 milhões de brasileiros que utilizam o Facebook (dados são de fevereiro de 2014 do portal Uol). Muitos, já que não se pode generalizá-los, continuarão postando bobagens e, sem ter consciência, difamando os outros. É bom ter em mente que mesmo que tal acusação ou boato tenha sido feito por outra pessoa, quem o replica sem provas também tem coautoria.”
O enterro
Fabiane de Jesus foi enterrada no último dia 6. A página 'Guarujá Alerta', no Facebook, citada como suposta autora do boato, disse que iria colaborar com a Polícia para as investigações, e que não comentaria nada por enquanto para não interferir no trabalho.
Relembrando o caso de Sheherazade
Fabiane de Jesus foi enterrada no último dia 6. A página 'Guarujá Alerta', no Facebook, citada como suposta autora do boato, disse que iria colaborar com a Polícia para as investigações, e que não comentaria nada por enquanto para não interferir no trabalho.
Relembrando o caso de Sheherazade
Conforme já dito no próprio artigo, Rachel Sheherazade declarou (vídeo 1), em fevereiro último, ser 'compreensível' a ação dos tais 'justiceiros' que amarraram o adolescente ao poste e o agrediram. Ele seria suspeito de praticar furtos em bairros da zona sul do Rio.
SBT / You Tube / Reprodução
Tanto o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) quanto a âncora de TV foram denunciados. A deputada federal Jandira Feghali (PcdoB-RJ) os acusou na Procuradoria-Geral da República (PGR) por suposto crime de incitação ao ódio. E o deputado federal Ivan Valente (PSOL-RJ) – representando o partido – os denunciou no Ministério Público por suposta incitação ao crime.
Após umas mini férias entre março e a abril em João Pessoa (PB), sua cidade natal, a apresentadora voltou à bancada do telejornal, no último dia 14 de abril, porém tendo que deixar de lado o jornalismo opinativo. Atualmente, existem rumores de uma possível contratação pela TV Bandeirantes.
Sheherazade também seria convidada pelo deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) a comparecer na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados, onde prestaria depoimento sobre o que disse no programa, em 11 de março, a respeito de uma suposta ingerência política na Polícia Federal (vídeo 2): “Não há como garantir a lisura do trabalho da PF se os agentes não têm licença para trabalhar. Se são obrigados a pedir licença para investigar (...)”, disse a jornalista na época.
Vídeo: SBT / You Tube / Reprodução
A data de sua presença não tinha sido confirmada, porque faltava o convite ser apreciado pela supracitada Comissão.
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