Sábado, 15 de abril de 2017 Imagem: Agência Brasil / Reprodução / Creative Commons Fachada da Odebrecht em São Paulo Nas últimas t...
Sábado, 15 de abril de 2017
Imagem: Agência Brasil / Reprodução / Creative Commons
Fachada da Odebrecht em São Paulo |
Nas últimas três décadas, os eleitores brasileiros foram iludidos, ao pensar que foram governados pelos partidos do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), da Social Democracia Brasileira (PSDB) e do Trabalhadores (PT), quando, no fundo, o país era ‘comandado’ pelo ‘partido’ da Odebrecht. As três legendas demonstraram uma espécie de subordinação aos interesses da empreiteira. É o que se pode concluir a partir ‘delação do fim do mundo’, como vêm sendo chamadas as colaborações premiadas dos 77 ex-executivos da empresa no âmbito da Lava-Jato e que vieram a público recentemente.
Ajuda a Aécio Neves
Ao que parece, a ajuda da empreiteira ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) não teria sido somente em doações. De acordo com Fernando Reis, ex-executivo da construtora, a Odebrecht teria, supostamente, pedido ao candidato a presidente da República Pastor Everaldo (PSC-RJ), durante a campanha eleitoral de 2014, para ajudar ao adversário tucano a obter maior visibilidade política nos debates, publicou o portal ‘G1’.
A empreiteira investia em todas as frentes possíveis para defender seus interesses. Além de fazer doações para as campanhas do Pastor Everaldo (PSC-RJ) e de Aécio Neves (PSDB-MG), contribuiu financeiramente para a reeleição da então presidente Dilma Rousseff (PT-RS). Note-se que ao mesmo tempo que patrocinava a campanha petista, tentava tirá-la do jogo político.
Em nota, o líder evangélico negou a acusação:
“(...) Estou muito indignado com as notícias que são veiculadas na mídia todo dia. O Partido Social Cristão sempre fez campanhas modestas, com recursos legais, até porque jamais exercemos qualquer cargo que pudesse influenciar interesse de qualquer empresa. Minha campanha de presidente de 2014 ainda tem dívida que estou pagando até hoje. Agora vão dizer que uma construtora mandou, determinou as perguntas que eu fosse fazer no debate, isso não tem pé nem cabeça (...)”, disse o Pastor Everaldo.
Dando uma ‘força’ a Odebrecht
Já o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP) – mais conhecido como Paulinho da Força, por ser presidente honorário da Força Sindical –, supostamente, teria pedido R$ 1 milhão em caixa dois à empreiteira para sua campanha de 2014. A doação seria em troca de uma tutoria para ajudar a Odebrecht a lidar com grevistas, publicou o ‘Estadão’.
Em nota, o parlamentar se defendeu, ao dizer que a construtora doou essa cifra para o partido Solidariedade e que a mesma foi distribuída entre os vários candidatos a deputado estadual e federal e que a campanha dele só teria ficado com R$ 158.563,00.
Investimento em Lula
Mas nenhum investimento se compara ao que a empresa fez ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP). Talvez os executivos da já antevissem que algum dia o então metalúrgico chegaria ao poder. Em delação premiada, o empresário Emílio Odebrecht contou que o ajudou por décadas. Os dois se conheceram nos anos 70, quando o empreiteiro enfrentava uma greve geral no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia. Ademais as doações em campanhas eleitorais, a construtora teria feito a reforma num sítio em Atibaia, cuja propriedade é investigada e atribuída ao petista; comprado um imóvel que seria a sede de seu instituto; além de pagar por suas palestras para atrelar a imagem da empresa à dele no exterior.
Uma das supostas contrapartidas teria sido a ampliação do crédito por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em Angola, no valor de R$ 1 bilhão. O outro favor foi intervir para que a Petrobras não comprasse os ativos da Petroquímica Ipiranga, para não atrapalhar os negócios da Odebrecht, de acordo com o jornal ‘O Globo’. Fica a dúvida se o ex-mandatário agia como sindicalista ou como a serviço da empreiteira durante os movimentos grevistas.
Em nota, a assessoria de Lula falou que todas as acusações precisam ser investigadas com ‘isenção’ e ‘imparcialidade’, não somente as que se referem ao petista.
“Delações são versões unilaterais de réus que buscam sair da prisão ou obter benefícios pessoais. Todas as referências contidas nas delações devem ser investigadas com isenção e imparcialidade não apenas em relação ao ex-Presidente Lula, mas também em relação a todos os que foram citados, incluindo a sociedade que a Globo manteve com o Grupo Odebrecht, citada na delação de Emílio Odebrecht.
Lula sempre atuou para promover o Brasil no exterior, e não para promover determinadas empresas ou empresários”, manifestou a assessoria de Lula.
O ‘partido do Brasil’ à venda
Já o presidente Michel Temer (PMDB-SP) não pode ser investigado, porque a Constituição Federal proíbe isso durante o exercício do mandato. Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), ele, supostamente, controlava um esquema de propinas que consistia em pedir ilicitamente recursos à empreiteira. O ex-executivo Mário Farias relatou aos investigadores a respeito de uma reunião que teve, em 2010, com o peemedebista, na qual se discutiu a suposta ‘compra do PMDB’.
Breve análise
As supostas atuações de Paulinho da Força e Lula ajudam a reforçar a descrença em sindicatos e a refirmar de que, na verdade, defendiam os próprios interesses.
“Eu não conheço nenhum político no Brasil que tenha conseguido fazer qualquer eleição sem caixa dois. Não existe ninguém no Brasil eleito sem caixa dois. O cara pode até dizer que não sabia, mas recebeu dinheiro do partido que era caixa dois. Não existe, não existe”, expressou o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht, preso numa das fases da operação Lava-Jato.
Por enquanto, as denúncias têm provocado mais estardalhaço e alarmismo do que qualquer outra coisa. É difícil acreditar que todos os envolvidos serão, de fato, punidos, uma vez que todos se dizem ‘inocentes’ e são de vários partidos. Políticos governistas e opositores estão unidos na corrupção, mas não pelo bem do país. No Brasil pune-se o denunciante, em vez do denunciado. No máximo, alguns poucos políticos servirão de bode expiatório para aplacar insatisfações e criar distrações populares.
De 2006 a 2014, o Departamento de Propinas da Odebrecht, como foi apelidado do Departamento de Operações Estruturadas, movimentou mais de R$ 10 bilhões para realizar pagamentos via caixa dois a políticos, segundo o ex-executivo Hilberto Mascarenhas em delação premiada, de acordo com a ‘Agência Brasil’.
O grupo Odebrecht possui empresas nas áreas de construção civil, petroquímica, saneamento básico, meio ambiente, transportes, infraestrutura, aeroportos, entre outras. É ‘dono’ de uma parte do país. Graças ao seu império econômico, conseguiu impor seus interesses como sendo os interesses nacionais. Não fez doações, e sim investimentos em políticos para que estes depois o servissem. Enquanto isso, o PMDB pensa que é ‘o partido do Brasil’, quando é um dos maiores beneficiados da empreiteira.
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