Sexta-feira, 13 de janeiro de 2017 Imagem: Casa Branca / Reprodução Barack Obama se despede do mandato junto ao vice-presidente Joe ...
Sexta-feira, 13 de janeiro de 2017
Imagem: Casa Branca / Reprodução
Barack Obama se despede do mandato junto ao vice-presidente Joe Biden |
Há um velho ditado que diz que para um grande homem, existe uma grande mulher. Obama conseguiu ser carismático sem ser populista, e grande parte desse êxito é devido à primeira-dama Michelle Obama, quem, com seu jeito simples e atuante de fazer política – sem ser política –, refletiu positivamente aos oito anos de mandato do marido.
Nem de esquerda, nem de direita. Obama é “americano”
Cuba
Desde o ano passado, até onde a memória deste jornalista permite lembrar, o mandatário estadunidense é criticado por adeptos de direita ou os mais conservadores, sendo então tachado de “comunista”. Ele também é criticado pela esquerda, por conta dos bombardeios no Oriente Médio durante seus dois mandatos, principalmente por ter sido declarado um Nobel da Paz de 2009. É a mesma esquerda que se uniu num só sentimento na torcida pela candidata a presidente Hillary Clinton. A verdade é que ele não é nem uma coisa nem outra. Ele é apenas “americano”, ou seja, defende os interesses de seu país.
Obama é criticado por suas iniciativas de reatar laços diplomáticos com Cuba, ainda mais com o declínio do socialismo populista na América Latina. Mas, ele não é bobo. Aliás, os Estados Unidos nunca dão ponto sem nó. Como uma nação visionária, estão sempre à frente das demais.
Cuba conseguiu sobreviver por mais de meio século, apesar das dificuldades provocadas pelo embargo econômico. A ilha centro-americana resistiu ao tempo, ao fugir do próprio tempo e dos adventos da modernidade. Por si só, o castrismo já é um vencedor, embora o país como um todo seja o grande perdedor.
A ideia do bloqueio não tem mais o consenso da maioria dos países da Organização dos Estados Americanos (OEA), além de outros nos demais continentes. Os EUA estão praticamente sozinhos nessa inquisição ideológica criada durante a Guerra Fria, cujo intuito era conter uma onda comunista no ocidente.
As relações comerciais com Cuba criam um novo mercado consumidor bastante promissor. Da mesma forma que os ingleses pressionaram a coroa brasileira pelo fim da escravidão. Não foi porque eles tinham pena dos negros. A comparação pode parecer ridícula, mas não veio outra no momento. É apenas para que você, leitor(a), entenda o contexto.
Cuba construiu – graças a empréstimos obscuros obtidos junto a governos petistas – o porto de Mariel, plataforma que poderá se destacar por estar num ponto central tanto para o Caribe quanto para os EUA. Atuar como mero espectador, enquanto a concorrência se aprochega, seria um ato imbecil.
A nação centro-americana também quer investir na exploração de petróleo em águas profundas no Golfo do México.
Cuba obteve protagonismo na luta pela paz em, ao menos, duas ocasiões: 1) é a sede das negociações de paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias das Colômbia (Colômbia); 2) por ser um país neutro, serviu de ponto de encontro entre os líderes da Igreja Católica, o papa Francisco, e da Igreja Ortodoxa, Bartolomeu I, em 2014. As duas segmentações religiosas romperam relações há mais de mil anos.
O principal: à época das primeiras tratativas de reconciliação entre Washington e Havana, o ditador cubano Fidel Castro, agora falecido, já estava com quase 90 anos, ou talvez mais para lá do que para cá, considerando as pouquíssimas aparições públicas. Seu irmão Raúl Castro, seu sucessor, já está com 85 anos, portanto, em idade bastante avançada. Depois que morrer, o futuro de Cuba é incerto, e poderia ser o fim de uma era.
Por tudo isso que foi explicitado, os Estados Unidos não poderiam ficar de fora como meros antagonistas. Inclusive, numa eventual reconstrução do país rumo ao capitalismo, teriam papel decisivo. Porém, infelizmente, muitos críticos não foram capazes de enxergar o óbvio.
Nessa quinta-feira (12), num aprofundamento de relações bilaterais entre EUA e Cuba, o presidente Barack Obama suspendeu a política dos “pés secos, pés molhados”, criada durante o governo de Bill Clinton. Os cubanos que conseguissem pisar em solo americano, poderiam permanecer no país, enquanto que os que fossem capturados pela polícia no mar, seriam deportados a Havana ou enviados a um terceiro país. A partir de agora, os cubanos estão enquadrados na mesma política de imigração aos demais estrangeiros.
Irã
O presidente Barack Obama também foi criticado por ter firmado um acordo nuclear com o Irã há um ano, desse modo suspendendo as sanções econômicas impostas ao país muçulmano. Há um velho ditado que diz que se você quer seus amigos por perto, os inimigos devem ficar mais perto ainda, para que se possa vigiá-los.
Política de estado
Nos Estados Unidos, as políticas de estado quase sempre estão acima das políticas de governo. Geralmente, quem assume o comando da nação mais rica do mundo apenas segue uma cartilha ou um roteiro, sem se desviar muito do foco.
Já no Brasil, por exemplo, é o oposto. As políticas de governo costumam ser confundidas e/ou se sobrepor às de estado. O país é regido de forma subjetiva por seus governantes, muitas vezes em detrimento dos interesses nacionais.
Durante seus dois mandatos, Barack Obama teve de lidar com pelo menos três escândalos de proporções astronômicas, nenhum deles sobre sua vida pessoal. O primeiro deles foi o vazamento de mais de 250 mil documentos diplomáticos por parte do portal de ativismo político Wikileaks, em 2010. Os relatórios continham detalhes sobre a suposta espionagem norte-americana a governantes de outros países durante décadas, entre eles a chanceler alemã Angela Merkel. O caso provocou a exoneração da então chanceler Hillary Clinton do Departamento de Estado que não conseguiu remediar a situação e, claro, para virar a página por uma nova política diplomática.
O segundo escândalo surgiu em 2013, quando o ex-agente Edward Snowden, da Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA, na sigla em inglês), denunciou que tanto a então presidente Dilma Rousseff (PT-RS) quanto a Petrobras seriam alvos de suposta espionagem de Washington. O suposto interesse na estatal se deveu às tecnologias utilizadas na extração de petróleo em águas profundas, o pré-sal, por exemplo. O caso provocou um esfriamento nas relações bilaterais e um protesto por parte do governo brasileiro, que à época cancelou uma visita da petista àquele país.
O terceiro escândalo veio à tona em 2015, quando o Wikileaks revelou que a NSA havia, supostamente, grampeado os telefones da então presidente Dilma Rousseff, inclusive de seu avião presidencial, e de seus principais assessores. Obama acabou prometendo a Dilma que ela não seria mais espionada.
Não foi a primeira vez que Rousseff teria sido, supostamente, espionada, segundo o Wikileaks. Isso já teria ocorrido em 2010, quando seu câncer linfático reapareceu, diante da possibilidade de vir como candidata a presidente da República.
Para se ter uma ideia da dimensão do interesse norte-americano ante o resto do mundo, até a ex-presidente argentina Cristina Kirchner teve sua sanidade mental espiada por Washington, de acordo com o Wikileaks.
A revelação do histórico de espionagem estadunidense ao longo de décadas reforça que isso não se trata de uma política de governo, mas sim de estado. Logo, conclui-se que as políticas adotadas no governo Obama vão muito além do próprio Barack Obama. Os casos serviram também para desmistificar a justificativa em razão de medidas preventivas e de defesa contra o terrorismo. Trata-se de suposta espionagem para fins econômicos ou comerciais.
Dentro das políticas de estado adotadas pelos Estados Unidos, a política de governo de Barack Obama deixou mais à vontade certos países, o que permitiu, por exemplo, uma ascensão do socialismo déspota – na bandeira do venezuelano Hugo Chávez e tendo como professores os irmãos Castro – na América Latina. Na prática quer dizer que não houve ingerência direta ou descarada de Washington sobre os povos. Mas, isso não significa que as autoridades estadunidenses não tenham agido nos bastidores contra tais políticas ou em defesa de seus interesses.
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