Sábado, 13 de outubro de 2018 Motivações políticas têm sido a principal causa dos ataques cometidos por simpatizantes de candidatos à P...
Sábado, 13 de outubro de 2018
Motivações políticas têm sido a principal causa dos ataques cometidos por simpatizantes de candidatos à Presidência da República
Imagem: Stux / Pixabay / Reprodução /
Creative Commons
Os agressores carregam nas mãos o sangue das vítimas |
Ao menos 70 pessoas foram agredidas, supostamente, por conta do clima de histeria coletiva das eleições deste ano, informou a agência “A Pública”. Isso do dia 30 setembro ao dia 10 de outubro. Já a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) contabilizou 137 ataques a profissionais de comunicação, sendo 75 deles pela internet e 62 físicos (com 60 atingidos), ao longo de 2018.
A maioria desses ataques e intimidações é atribuída a supostos simpatizantes de direita e/ou do candidato a presidente da República Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Um quantitativo menor é atribuído a supostos adeptos de esquerda e/ou do Partido dos Trabalhadores (PT). Há também casos que não foi possível vincular o agressor a este ou aquele candidato.
Diariamente são relatados novos fatos, contudo não dá para confirmar a autenticidade de todos, já que muitas das informações estão desencontradas. Enquanto isso, a rede de boatarias na internet se torna a voz absoluta da verdade, com o intuito doloso e maquiavélico de atacar, confundir e fomentar o ódio por ideologia. As vítimas não podem ser demonizadas. Todavia e sem generalizar, no vale-tudo da corrida eleitoral, é preciso estar atento a eventuais falsos positivos – “false flag”, em inglês –, ou seja, a tentativa de responsabilizar a outros certos delitos. O agressor justifica seu mau-caratismo pondo a culpa na vítima. Tenta imputar ao outro sua intolerância.
O caso mais chocante foi o assassinato do mestre de capoeira Romualdo da Costa –conhecido como Moa do Katendê –, de 63 anos, na Bahia, no último dia 8 de outubro. O crime teria suposta motivação política, após a vítima afirmar que votou no presidenciável Fernando Haddad (PT-SP) no primeiro turno, enquanto que o agressor, o barbeiro Paulo Sérgio de Santana, de 51 anos, em Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Note-se que não foi uma ou duas facadas. Foram 12. A sensação que se tem é a de que o agressor pretendia dar 13 facadas, em alusão ao número do Partido dos Trabalhadores (PT).
No Rio Grande do Sul, uma jovem de 19 anos apareceu com um desenho parecido com a suástica – símbolo do nazismo – na barriga. Ela disse ter sido, supostamente, atacada por três homens com um canivete, por estar vestida com uma camisa escrita #EleNão, uma campanha criada por movimentos femininos contra Jair Bolsonaro (PSL-RJ).
Uma jornalista do portal pernambucano NE10, que não teve o nome divulgado, teria sido agredida e ameaçada de estupro por dois homens vestindo uma camisa com os dizeres “Bolsonaro Presidente”, quando deixava o local de votação, em Recife. Com hematomas no rosto e cortes nos braços, ela denunciou o ocorrido à polícia.
O jornalista e produtor audiovisual Guilherme Daldin, de 26 anos, foi atropelado no final da noite do último domingo (7), no Paraná. Na ocasião, ele vestia uma camisa vermelha com a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) e comemorava a vitória de um amigo do Partido Democrático Trabalhista (PDT) para o legislativo estadual. O motorista fugiu sem prestar socorro, mas foi seguido por alguns amigos da vítima que o pararam e anotaram a placa do carro. O condutor vestia uma camisa verde e amarela (da seleção brasileira) e os teria intimidado. Daldin foi denunciar o fato à Central de Flagrantes da Polícia Civil, mas teria se sentido “impotente”, porque no computador da escrivã tinha adesivos pró-Bolsonaro.
Recentemente, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL-RJ) lamentou os ataques, porém declarou não ter controle sobre os apoiadores, e disse que dispensava votos de quem pratica violência. O candidato foi vítima de uma facada, quando fazia campanha em Minas Gerais, no último dia 6 de setembro. A tentativa de assassinato teria suposta motivação ideológica.
Repórteres que cobriam a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em abril deste ano, foram agredidos verbal e/ou fisicamente por militantes de esquerda. Segundo a Abraji, vários dos ataques contra profissionais de comunicação em redes sociais foram, supostamente, incentivados por políticos e pessoas públicas, que expuseram em seus perfis a ideologia das vítimas.
Várias das pessoas atacadas já se manifestaram a favor de seu candidato em redes sociais, com roupas caracterizadas (foto, mensagens ou pelas cores), adesivos – inclusive do #EleNão – ou apenas publicaram algo que desagradou o lado oposto. Existem também relatos de agressões motivadas por suposta homofobia. Sem fazer qualquer juízo de valor, o verde e amarelo estão manchados de vermelho, a cor do sangue das vítimas. Andar de vermelho parece ser crime em período eleitoral. Faz lembrar certos e antigos rumores sobre ser proibido andar de vermelho em determinadas comunidades cariocas, por aludir à determinada quadrilha.
O medo de que o Brasil vire uma Venezuela pode acabar levando-o a se tornar uma. Hoje os ataques são considerados isolados. Esse tipo de movimento pode incentivar o surgimento de facções políticas, milícias pró-governo que agem extraoficialmente contra a oposição, fazendo o trabalho sujo, assim como existe no país vizinho, o que poderia caracterizar uma guerra civil.
Todas essas agressões ferem a democracia e a liberdade de expressão, no entanto não são as únicas. Em favelas brasileiras, principalmente em solo fluminense, é frequente a participação política de traficantes e milicianos, ao permitirem que candidatos façam campanhas nas localidades mediante uma espécie de taxa, conforme noticiado na imprensa. O suposto pagamento diz mais sobre quem paga do que sobre quem recebe.
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