Segunda-feira, 24 de setembro de 2018 O temor da população é que o país se torne uma ditadura de esquerda ou de direita Imagens: urn...
Segunda-feira, 24 de setembro de 2018
O temor da população é que o país se torne uma ditadura de esquerda ou de direita
Imagens: urna eletrônica: TRE-BA /
Pânico: OpenClipart-Vectors / Pixabay / Creative Commons /
Arte: Diego Francisco / OPINÓLOGO
A população vota motivada pelo medo do pior |
Medo. Esse sentimento define bem o cenário das eleições de 2018 em nível nacional. Novamente, a política está bastante polarizada entre esquerda e direita, sendo que desta vez e mais precisamente, entre o medo de uma nova ditadura militar – como a de 1964 e que durou 21 anos – e o de o Partido dos Trabalhadores (PT) voltar ao poder e o Brasil se transformar numa Venezuela ou Cuba. Em linguagem prática, hoje o país vive o assombro de ser hipoteticamente transformado numa ditadura de direita ou de esquerda, respectivamente, a depender do resultado nas urnas. Nota-se, claramente, que grande parte da população não é motivada a votar por dias melhores para o país, e sim com o medo de herdar uma nação pior.
O temor de que o gigante sul-americano se tornasse uma ditadura socialista já havia protagonizado o debate público durante as eleições presidenciais de 2014. Movimentos opositores como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem pra Rua, com o apoio de partidos derrotados e de oposição, fomentaram os protestos contra a reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT-MG). Essa onda de indignação, supostamente, popular cresceu no ano seguinte, à medida que eram divulgadas novas informações sobre a operação Lava-Jato, e ajudou a alimentar a teoria de que a economia do país só sairia do buraco, ao qual estava se caminhando, se ela fosse deposta. Logo após o êxito da petista, quatro anos atrás, foi feito um abaixo-assinado no site da Casa Branca, sede do governo estadunidense, pedindo uma intervenção no Brasil.
Visão esquerdista
Para eleitores de esquerda, a vitória de Jair Bolsonaro (PSL-RJ) para o Palácio do Planalto representaria um retrocesso político e aos direitos humanos pelo suposto comportamento racista, misógino, homofóbico, entre outros tantos adjetivos que o acompanham, e pelo fato de ser considerado de extrema direita. Em 2016, enquanto votava a favor da abertura do processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT-MG), o parlamentar exaltou o ex-coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, considerado um dos torturadores durante o regime militar. Além disso, pesam as preocupantes declarações de seu candidato a vice, general Mourão (PRTB), sobre um eventual ‘autogolpe’, em caso de anarquia, por parte do presidente, com o apoio das Forças Armadas, como também a elaboração de uma nova constituição sem constituinte.
Ainda na visão desse mesmo público, a eleição de Fernando Haddad (PT-SP) seria uma resposta ao suposto golpe contra Dilma Rousseff perpetrado por partidos como o Movimento Democrático Brasileiro (PSDB) e o da Social Democracia Brasileira (PSDB), com o apoio do Democratas (DEM), Solidariedade (SD), Partido Popular Socialista (PPS), entre outros.
Visão direitista
Já para eleitores de direita, o sucesso de Fernando Haddad (PT-SP) significaria a volta do PT ao poder e de tudo o que está implícito: que o petista seria um suposto fantoche do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP); a suposta libertação de Lula – que cumpre pena em Curitiba – por indulto presidencial, embora o candidato negue; ademais a crença de que o Brasil poderia se tornar uma ditadura de esquerda nos moldes de Cuba e da Venezuela. Para bom entendedor, um pingo é letra. O temor é de que o Brasil tenha de lidar com os mesmos graves problemas econômicos e sociais enfrentados pelo vizinho sul-americano, tais como: inflação estimada em mais de 200.000%; crise cambial; miséria – provocando a migração de milhares de famílias que fogem da fome –; desemprego; escassez de alimentos e medicamentos; autogolpes de Estado, o que leva à eternização do poder etc.
Para esse eleitorado, a vitória de Jair Bolsonaro (PSL-RJ) é considerada uma alternativa para que o PT não reassuma o controle do país, além do fato de ele não ser investigado por crimes de corrupção. O presidenciável encarna ante seus adeptos uma espécie de ‘Messias’, que solucionaria definitivamente o caos na segurança pública, especialmente por mostrar-se favorável ao porte de armas como meio de defesa e defender a pena de morte para bandido.
O que pensam alguns eleitores?
“Eu não acredito que o [Fernando] Haddad esteja preparado para ser presidente da República. Acredito que o PT deveria ter apoiado o Ciro [Gomes], que é o candidato mais preparado. Mas, essa vontade do PT de voltar ao poder como protagonista faz com que se lance um candidato próprio e, consequentemente, mais fácil de manipular. Algo que não ocorreria no governo do Ciro Gomes. Por essa posição egoísta, eu não votaria no Haddad. O PT virou um partido comum. Perdi o encanto. Mas, eu também não votaria jamais no [Jair] Bolsonaro, pois vai contra tudo o que acredito. Representaria um retrocesso social. Não votaria num candidato que defende o ódio contra homossexuais, que não tem sensibilidade para perceber que não somos todos iguais e que muitas pessoas precisam do Estado. Não votaria num candidato que defende uma meritocracia que na prática não existe”, opinou o advogado Bruno Lugato.
“A primeira vez que votei foi em Dilma Rousseff (PT-MG) na eleição passada contra Aécio Neves (PSDB-MG), contra um projeto político neoliberal que não me agradava. Eu estava pensando votar no Ciro Gomes, uma melhor opção em relação ao Jair Bolsonaro (PSL-RJ), porém a pauta pró-ruralista da Kátia Abreu, que é vice da chapa, me colocou reticente. Quanto ao Bolsonaro, o extremismo é uma onda que está acontecendo no mundo inteiro e que usa o populismo para poder atingir a massa. E me preocupa o projeto neoliberal do [economista] Paulo Guedes, que expõe claramente o objetivo dele (Paulo Guedes): o esfacelamento do Estado e das políticas de bem-estar social. Tenho medo de que aconteça aqui no Brasil o mesmo que na Argentina: uma fuga de capital. E a tendência é entrar em crise, com uma desvalorização da nossa moeda. Isso porque sendo um país subdesenvolvido, o Brasil não tem condições de manter o lastro do real, tendo em vista que depende de capital estrangeiro, logo, fica submisso às condições do mercado internacional. Minha primeira opção sempre foi o Guilherme Boulos (PSOL-SP), porque tenho uma visão de que todo país subdesenvolvido tem que caminhar com a esquerda, ou seja, de encontro ao capitalismo, não ao encontro dele, porque significaria caminhar ao lado do capitalismo e concordando com suas contradições. Então, eu escolho o [Fernando] Haddad, porque ele tem uma história como professor e como ministro da Educação e tantos programas de êxito durante sua atuação como ministro, além da ausência da corrupção em sua pasta que movimenta muito dinheiro”, justificou o estudante de Sociologia e Psicologia Maycon Bitencourt.
Paulo Guedes é a figura apresentada por Bolsonaro como seu possível ministro da Fazenda, ou com ele mesmo diz: seu ‘Posto Ipiranga’.
“Eu não sou eleitor do [Fernando] Haddad nem do [Jair] Bolsonaro. Mas, num eventual segundo turno com os dois no páreo, eu escolheria o Bolsonaro, mesmo sendo contra a muitas leis que ele quer aplicar como o porte de arma e militarizar os colégios. Eu acho quase impossível ele conseguir militarizar todos os colégios, porque ele teria de fazer muitos investimentos na educação, e ele não sabe nem por onde começar. Ele fala isso para ganhar votos. Penso que seria bem mais interessante se ele investisse no ensino profissionalizante, porque, assim, os jovens sairiam formados em alguma profissão e estariam mais preparados para o mercado de trabalho. Eu votaria no Bolsonaro, porque o Haddad, além de ser indicado por um presidiário (Lula) – que foi um bom presidente –, na hora que o bicho pegar ele vai pedir socorro ao Lula na cadeia. Sem contar que ele (Haddad) perdeu a reeleição para a Prefeitura de São Paulo [em 2016] para votos nulos e brancos. O Haddad perdeu para o [João] Dória (PSDB-SP), um cara fraco e sem experiência. O PT já está muito desgastado. Está na hora de mudar”, contou o cinegrafista Éverton de Paula.
Breve análise
Bolsonaro e Haddad lideram as intenções de votos, respectivamente, e há possibilidade de que ambos se enfrentem num segundo turno, previsto para o próximo dia 28 de outubro. Todavia, a possibilidade de vitória de um dá força à campanha do outro.
Os adeptos de Bolsonaro não se importam que, em quase três décadas na política, ele não tenha muitos projetos de lei aprovados nem seja tachado de radical e preconceituoso. Eles veem no candidato um cara que diz o que pensa. O deputado personifica o que muitos pensam, mas sentem vergonha de expressar. Para seus simpatizantes, o fato de não estar metido em corrupção é mais do que suficiente. Uma eventual vitória colocaria fim à hegemonia do triângulo político – PT, MDB e PSDB – que tem comandado o país nas últimas décadas.
Já os adeptos de Lula não se importam que, mesmo preso, ele fosse candidato, por acreditarem na inocência dele ou por ignorarem os escândalos de corrupção – como Mensalão e Lava-Jato – nos quais grandes nomes do PT se viram involucrados. Seus adoradores veem com bons olhos a ideia de ‘democratização’ dos meios de comunicação, embora signifique uma censura disfarçada. Por mais que a campanha do petista invoque o mantra de que ‘Lula é Haddad’ e vice-versa, o carisma dos dois dista anos-luz. Lula é um personagem que militou em sindicatos e se preparou uma vida inteira para ser presidente, enquanto que o professor Haddad é apenas um substituto de seu mestre.
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