Nicarágua: mulher morre ao ser lançada à fogueira em ritual de evangélicos da Assembleia de Deus

Quarta-feira, 01 de março de 2017 Segundo a imprensa, os investigados queriam expulsar o ‘espírito do adultério’; igreja diz que princi...

Quarta-feira, 01 de março de 2017

Segundo a imprensa, os investigados queriam expulsar o ‘espírito do adultério’; igreja diz que principal suspeito não é pastor

Imagem: Cintya Tinoco Aráuz /

Policía Nacional de Nicaragua / Reprodução

O suposto pastor é o de blusa rosa, no meio

O caso de Vilma Trujillo García, de 25 anos, nicaraguense assassinada durante um ritual praticado por evangélicos da Igreja Assembleia de Deus, chocou o país centro-americano. Ela foi lançada à fogueira num ritual de ‘purificação’, porque estaria, supostamente, possuída por um demônio. Ela teve 80% do corpo queimado. O caso aconteceu há quase duas semanas, mas só obteve repercussão agora, por conta do falecimento nessa terça-feira (28/2).

Para a polícia, o principal suspeito é o suposto pastor Juan Gregorio Rocha Romero, de 23 anos, de tê-la lançado à fogueira, embora ele tenha negado e dito que Vilma Trujillo teria se jogado por vontade própria. No último dia 15 de fevereiro, a vítima teria ido à Igreja Visão Celestial, da Assembleia de Deus, em El Cortezal, comunidade situada na região autônoma do Caribe Norte, acompanhada do suposto líder religioso, onde teve as mãos e os pés amarrados e foi submetida a um jejum de seis dias, de acordo com o diário local ‘La Prensa’.

O crime aconteceu no último dia 21 do mesmo mês. Dois dias após, Vilma Trujillo foi levada a um hospital, onde ficou em coma até ontem (28). A causa do óbito foi falência múltipla nos órgãos.

Além de Juan Rocha, mais quatro suspeitos estão detidos (foto) pela Polícia Nacional por supostos crimes de assassinato e cárcere privado com características de misoginia e feminicídio. São eles: a diaconisa Esneyda del Socorro Orozco, e os evangélicos Franklin Jarquín Hernández, Tomasa Rocha Romero e Pedro José. Todos têm menos de 30 anos.

De acordo com Franklin Jarquín Hernández, o objetivo do ritual seria expulsar o demônio do adultério, que fez com que Vilma Trujillo, supostamente, traísse o marido, noticiou o ‘Canal 15’.

Em nota, a Assembleia de Deus da Nicarágua disse que Juan Rocha não seria pastor, e que o local onde ocorreram as torturas não seria uma igreja, mas um ‘campo de pregação’.

“Aclaramos que Juan Rocha (o suposto pastor) não é pastor da Igreja Assembleia de Deus, senão um leigo de um campo de pregação em via de formação de igreja”, declarou a entidade num dos comunicados.

“(...) Trazemos ao conhecimento do povo nicaraguense e ao resto do mundo que nesse lugar (El Cortezal) não temos igreja organizada, senão um campo de pregação dirigida por membros (leigos).

Manifestamos nossa preocupação, porque esses leigos não consultaram seu pastor ou o presbítero do distrito, no caso da doença mental de Vilma Trujillo.

Esclarecemos que como Assembleia de Deus, como 105 anos neste país, nunca fomos marcados em casos como este em particular.

Que não é parte de nossas práticas religiosas matar, incinerar, sacrificar, levar à fogueira, como fomos vítimas na era dos mártires, por conta de nossa fé (...)”, continuou a seita.

O bispo auxiliar da Arquidiocese de Manágua, don Silvio José Báez, também se manifestou sobre o ocorrido: “Sinto muito pela morte de Vilma Trujillo, por causa do fanatismo e da ignorância religiosa. Não se pode destruir uma vida em nome de Deus!”

Para a vice-presidente da Nicarágua, Rosario Murillo, o fato é ‘realmente lamentável e condenável’ e ‘reflete uma situação de atraso’ por parte daqueles evangélicos.