Sexta-feira, 12 de maio de 2017 Este jornalista que lhe escreve ainda não conseguiu assistir às cinco horas de vídeos nos quais o ex-pr...
Sexta-feira, 12 de maio de 2017
Este jornalista que lhe escreve ainda não conseguiu assistir às cinco horas de vídeos nos quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, no âmbito da operação Lava-Jato, na última quarta-feira (10/5). No entanto, o pouco que se viu na imprensa, e que tem repercutido bastante, já permite fazer uma breve análise sobre o tema, porém de forma analítica e com certa criticidade. Não dá para chamar de criteriosa pelo fato de o conteúdo não ter sido visto em sua totalidade. A questão aqui, por enquanto, não é abordar se o ex-sindicalista diz a verdade ou mente. Outros aspectos poderão ser analisados em futuras reportagens.
A primeira observação a ser feita é a velocidade com que os vídeos da audiência foram liberados para os meios de comunicação. A defesa do petista tentou filmar com câmera própria a audiência, mas não teve permissão da corte. Na última segunda-feira (8), os advogados de Lula denunciaram Sérgio Moro à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) por sua negativa e por justificar a decisão, afirmando que o petista poderia usar as gravações para ‘fins político-partidários’.
A rapidez com que o material foi divulgado, em questão de pouquíssimas horas, vai além do fato de ele ser uma pessoa pública e o caso ser de interesse nacional, por tratar-se do que já é considerado um dos maiores escândalos de corrupção do país. Para a imprensa, o acesso aos depoimentos é muito bom. Para a sociedade também. Já para o ex-mandatário e para a Justiça, é preciso analisar bem os prós e os contras.
A liberação dos vídeos ajuda o petista a fomentar o discurso de que é um suposto ‘perseguido político’ e que é atacado pela Justiça, pelo Ministério Público Federal (MPF) e por alguns meios de comunicação. Tenta transformar em vilões seus denunciantes e desmerecer seus supostos delatores. Por outro lado, a publicação dos vídeos evita que ele tente fazer uso político, tendo em vista que outros investigados no supracitado esquema também tiveram os depoimentos difundidos na mídia.
Em seu pronunciamento de encerramento da audiência, Lula acusou o Jornal Nacional, da ‘TV Globo’, de ter produzido 18 horas e 15 minutos de reportagens negativas a respeito dele nos últimos 12 meses. Também falou que, desde 2014, o jornal ‘O Globo’ publicou 530 reportagens contrárias a ele e oito favoráveis, que na versão impressa da ‘Folha de São Paulo’ foram 298 matérias contrárias e 40 a favor, foi capa de 19 edições da revista ‘Veja’, 25 da ‘IstoÉ’ e 11 da revista ‘Época’, ‘tudo com informações vazadas da Polícia Federal e do Ministério Público’.
Diante do juiz Sérgio Moro, o petista acusou o que chamou de ‘vazamentos seletivos’, ao sustentar que a imprensa sabia antes de seus advogados a respeito das peças do processo. Em 2014, por exemplo, veio à tona um grampo telefônico entre o ex-metalúrgico e sua sucessora, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT-RS), cujo teor da conversa deu a entender que ambos, supostamente, tramavam a nomeação de Lula como ministro-chefe da Casa Civil para que ele lograsse foro privilegiado e não fosse processado pela Justiça de primeira instância. O fato instigou a opinião pública a pedir o impeachment de Rousseff, porque também deu a entender que ela, supostamente, tentava obstruir a Justiça.
O magistrado teve o cuidado de referir-se a ele como ‘senhor ex-presidente’ em vez de ‘presidente’, como um ex-presidenciável costuma ser chamado. Isso pode ter sido também para evitar uso político-eleitoreiro, já que Lula pretende vir candidato à reeleição em 2018.
Por muito tempo, este jornalista de OPINÓLOGO achou que Lula jamais voltaria a ser candidato, pois seria mais fácil manter o mito do herói e continuar representando uma ameaça aos adversários, além da capacidade de indicar nomes para cargos políticos, do que colocar em risco a imagem que construiu nos mais de 30 anos de vida política. Todavia, o petista deixa claro que pretende concorrer. Lula não é bobo, sabe muito bem que a legislação eleitoral proíbe propaganda antecipada como a que fez durante a inauguração ‘popular’ de um dos trechos da transposição do rio São Francisco, na Paraíba, em março passado. Mas, ainda assim, tem investido pesado para tentar transformar uma eventual prisão em perseguição e cantar aos quatro-ventos de que estaria preso por seus inimigos políticos que o impediram de disputar o pleito.
Culpado ou inocente – ainda não saiu o veredicto –, já era esperado que Lula negasse ser dono do tal triplex e de tantas outras acusações feitas por ex-colegas políticos e representantes de empreiteiras enrolados até o pescoço com tantas acusações.
Depois que Lula foi conduzido coercitivamente a depor na Polícia Federal, em São Paulo, em março do ano passado, o que mais se ouviu por aí foi que uma eventual prisão poderia torná-lo um mártir e que poderia ser um erro estratégico. Dois anos após o início das investigações contra ele, o ex-presidente usa o artifício de que estaria sendo, supostamente, difamado, mas que até então a Força-Tarefa da Lava-Jato e a imprensa não teriam conseguido apresentar nenhuma prova concreta de que ele realmente praticou os supostos crimes aos quais responde, entre eles o de chefiar uma organização criminosa para praticar corrupção. Tenta fazer a política do feitiço contra o feiticeiro, desgastar os supostos responsáveis que provocaram seu desgaste político. Vale frisar que as denúncias contra ele veiculadas pela imprensa tradicional, muitas delas estão baseadas em delações premiadas feitas por outros réus no decorrer das investigações, antes mesmo que várias delas fossem homologadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo. O que Lula chama de difamação também pode ser visto como liberdade de imprensa, uma vez que os meios de comunicação têm o direito de escolher o que querem noticiar.
Imagem: Lula / Arte: OPINÓLOGO
Militantes pró-PT foram a Curitiba apoiá-lo no dia da audiência |
Há poucos dias para o segundo turno da eleição presidencial de 2014, a revista Veja publicou que tanto Lula quanto Dilma Rousseff, supostamente, estariam cientes da roubalheira na estatal, com base nos depoimentos do ex-doleiro Alberto Yousseff. Quando o caso veio a público, pareceu que o semanário paulista os perseguia, no entanto Yousseff confirmou a acusação durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, em 2015.
Definitivamente, não é Lula quem se faz de vítima. Ele está sendo transformado em uma pela morosidade jurídica, embora o caso seja complexo, e pela opinião pública. Para completar, teve o Instituto Lula fechado por acusação de tentar obstruir a Justiça. A decisão foi tomada, na última terça-feira (9), pelo juiz substituto da 10ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, Ricardo Augusto Soares Leite, quem alegou que seria um suposto pedido do Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF-DF), o qual nunca existiu.
Alguns meios de comunicação tentaram tratar a audiência dele com o juiz Sérgio Moro como um embate político, criar uma espécie de nós contra eles, o mesmo subterfúgio que costuma ser adotado pela legenda. Se bem que ele ou seu Partido dos Trabalhadores (PT) deu motivo, vide o Mensalão. O partido se mostrou como suposto reincidente, por conta do envolvimento de alguns de seus caciques.
Imagem: TSE / Reprodução
Ele cursou até a 4ª série primária ou concluiu o Ensino Fundamental??? |
O nome de Lula está em evidência tanto negativa quanto positivamente. O primeiro já foi mostrado ao longo deste artigo; o segundo é que, apesar das acusações, ele lidera com cerca de 30% as pesquisas de intenções de voto para a eleição presidencial de 2018. O que talvez justifique isso não é o fato de ele ter sido um ‘bom presidente’ – como muitos gostam de dizer –, mas porque os concorrentes são piores que ele ou também são investigados no Petrolão.
“Se a elite não tem competência de consertar esse país, um metalúrgico com 4º ano primário vai consertar”, expressou o petista para os simpatizantes que o esperavam do lado de fora após deixar a audiência. Algo interessante nisso tudo é que ele afirma ter o Ensino Fundamental Completo (foto 2). Pelo menos é o que consta no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), diferente do que está escrito em seu próprio site (foto 1). As setas vermelhas foram incluídas por OPINÓLOGO para facilitar a visualização aos leitores.
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