Datena se desfilia do PT, que tenta desfiliar-se dele

Quarta-feira, 26 de agosto de 2015 O último que sair, apague as luzes e feche a porta. Mais um integrante do Partido dos Trabalhadores ...

Quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O último que sair, apague as luzes e feche a porta. Mais um integrante do Partido dos Trabalhadores (PT) se desfiliou, nessa terça-feira (25/8). É o apresentador José Luiz Datena, da TV Bandeirantes. No dia anterior (24), ele havia solicitado seu desligamento junto ao diretório municipal de Ribeirão Preto (SP) para integrar o Partido Progressista (PP), onde poderá vir candidato a prefeito de São Paulo, em 2016.

“Particularmente eu nem sabia que ele era filiado e nem sei quem o filiou”, comentou o presidente do diretório, vereador Jorge Parada. Na verdade, nem muitos telespectadores.

“Não fará falta, pois não tem o perfil do partido; ele tem outro pensamento, outra conduta, nunca frequentou as reuniões partidárias”, tentou desmerecê-lo o dirigente petista.

“Nem sabia que ele era filiado e ele é tão insignificante para o projeto do PT que não vai atrapalhar a sua saída”, acrescentou o vereador Beto Cangussu.

“Ele está em São Paulo com o sensacionalismo, com jornalismo de direita, e não tem espaço contra o prefeito Fernando Haddad, então se torna um candidato viável para outro partido diante da despolitização que o Brasil vive atualmente”, opinou o coordenador do diretório, Moacir Caporusso, quem parece ignorar que o país não vive uma onda de ‘despolitização’, mas de rejeição sistemática ao PT. A legenda foi citada no Mensalão e Petrolão, por exemplo.

“O Datena disse que nunca seria candidato a nada e sempre falou que o Paulo Maluf era um corrupto, e agora vai para o partido dele, isso é oportunismo”, continuou Caporusso. Note-se que o PP também é citado por suposto envolvimento no esquema de roubalheira na Petrobras.

“Datena, nascido em Ribeirão Preto, filiou-se ao PT em 3 de abril de 1992 (e sempre fez os recadastramentos necessários) e um dos episódios marcantes, antes mesmo de seu ingresso no Partido, foi apresentar o comício de Luiz Inácio Lula da Silva, na disputa presidencial de 1989, na Praça XV. Esse ato rendeu-lhe a demissão da EPTV, afiliada da Rede Globo”, relatou o diretório petista.

Datena e os ateus

A nota do PT de Ribeirão Preto parece mais uma tentativa de desfiliação ao jornalista. Lembrou que ele deixou de falar de esporte para programas apresentar reportagens policialescas e da polêmica em relação a ateus: em 2010, enquanto narrava o ‘Brasil Urgente’, na Band, Datena atribuiu o fuzilamento de um garoto de dois anos à ‘ausência de Deus’.

“É ausência de Deus. Nada justifica um crime como esse. [O assassinato da criança] só pode ser coisa de gente que não tem Deus no coração, de gente que é aliada ao capeta. (...) O sujeito que é ateu, pra mim, não tem limites. É por isso que a gente tem esses crimes aí (...)”, disse Datena na ocasião.

Em 2013, o apresentador foi condenado junto com a emissora e o repórter Márcio Campos, que compartilhava dos comentários preconceituosos, a pagar uma indenização de R$ 135,6 mil à Associação dos Ateus e Agnósticos do Brasil (Atea). Dois anos depois, em acordo com o Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP), a TV Bandeirantes teve de exibir vídeos nos intervalos de suas programações em defesa da liberdade religiosa e de esclarecimento, informando que o Estado brasileiro não tem religião oficial, ou seja, é laico.

Marta Suplicy já tinha deixado o PT

Vale lembrar que em abril passado, a senadora Marta Suplicy (sem partido) também deixou o PT para poder disputar a prefeitura de São Paulo contra Fernando Haddad, quem possivelmente tentará a reeleição em 2016. Cogitou-se que ela pudesse ingressar no Partido Socialista Brasileiro (PSB), mas ao que parece, as negociações estariam mais avançadas para compor o Partido Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

A verdade é que Marta começou um lento processo de desligamento do Partido dos Trabalhadores, em novembro de 2014, quando deixou o cargo de ministra da Cultura, tendo, desde então, passou a criticar a legenda e o governo no qual fazia parte. Tornou-se uma ‘inimiga de infância’ da presidente Dilma Rousseff. Era um modo de convencer os eleitores de seu rompimento político.

Tanto Datena quanto Suplicy, que eram do mesmo partido, poderão ser tornar rivais nas próximas eleições.