O 'Haddad' carioca

Sexta-feira, 03 de julho de 2015 Em vez de melhorar a saúde, prefeito Eduardo Paes investe em ciclofaixas em comunidades do Complexo da...

Sexta-feira, 03 de julho de 2015

Em vez de melhorar a saúde, prefeito Eduardo Paes investe em ciclofaixas em comunidades do Complexo da Maré, que estão em processo de pacificação

Imagem: Maré Vive / Facebook / 

Reprodução

Ciclofaixa na Vila do Pinheiro

Com a troca no comando das Forças de Pacificação – saída do Exército e da Marinha e a entrada da Polícia Militar (PM) –, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC), vinculada à prefeitura do Rio de Janeiro, começou um trabalho de maquiagem social no Complexo da Maré, na Zona Norte. Ruas do conglomerado de comunidades estão ganhando uma espécie de ciclofaixa. A pintura (foto 1), em ruas já existentes, transforma vias em caminhos a serem compartilhados com ciclistas, carros e pedestres. Serão 22 km de extensão ligando favelas até as estações do BRT Transcarioca, no Fundão, e Transbrasil, este último em construção na Avenida Brasil.

Com uma população de aproximadamente 130 mil pessoas, o Complexo da Maré é formado por 17 favelas, sendo as principais: Baixa do Sapateiro, Conjunto Esperança, Morro do Timbau, Nova Holanda, Parque União, Praia de Ramos, Vila do João e Vila do Pinheiro.

O gasto de R$ 7 milhões é insulto aos moradores, se levado em conta a falta de infraestrutura, de medicamentos e de médicos em postos de saúde e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) nesse conjunto de favelas. Ou seja: existem outras necessidades, outras prioridades. A vaidade do prefeito carioca Eduardo Paes (PMDB-RJ) poderia ser comparada à de seu homólogo paulistano Fernando Haddad (PT-SP) com suas ciclofaixas, que lá são objetos de questionamento pela população e até pela imprensa.

A página 'Maré Vive', no facebook, criada por habitantes da região, critica a obra: 

“Alô prefeito Eduardo Paes!

Fui ali na Solanches, na Vila do Pinheiro, bater um rango e acabei esbarrando com a ciclovia de 7 milhões de reais. Prefeito, sério, que serviço mal feito. Tá tudo torto! Na moral, cancela essa obra e investe esse dinheiro em saneamento básico, transporte ou em qualquer outra coisa que não seja essa vergonha que orçaram como ciclovia.

Aproveita o bonde e avisa pras (sic) empreiteiras roubarem direito, não precisa esfregar na nossa cara essa falta de respeito com a favela”.

Pergunta-se qual a necessidade de tal obra. As ciclofaixas poderiam ser construídas apenas nas proximidades de grandes vias como a Avenida Brasil, onde o tráfego de veículos é intenso, e nos percursos que pretendem ligar ao centro comercial de Bonsucesso e ao Centro. Até porque os moradores sempre andaram de bicicleta sem o incentivo do poder público, quer porque gostem, quer porque precisam economizar passagem de ônibus, como também devido à carência de linhas de ônibus nas comunidades mais distantes da Avenida Brasil.

Na Vila do Pinheiro, por exemplo, havia uma ciclovia. O que resta é muito pouco, já que ao longo dos anos o espaço foi invadido por lojas e oficinas mecânicas, e outra parte foi ocupada pela prefeitura para a construção de uma Clínica da Família.

A criação dessas ciclofaixas, ainda em andamento, teve início em março passado, conforme o processo de transferência à PM, que se iniciou na Praia de Ramos, no dia 1º de abril, estendendo-se até a Vila do João, na última terça-feira (30/6).

“A Maré está passando por um processo de transformação, e estamos qualificando os serviços da prefeitura já oferecidos aqui. Uma parte enorme da população que mora na comunidade já se desloca de bicicleta, mas sem o apoio do poder público. Vamos construir a ciclovia para que os moradores possam se deslocar com conforto e segurança, melhorando também sua qualidade de vida”, falou o mandatário, em alusão ao processo de pacificação iniciado em março de 2014.

“Essa obra na Maré faz parte do programa Rio Capital da Bicicleta. Vamos trazer, além de acessibilidade e urbanização, ordenamento interno, com a regularização das áreas de ciclovias. Outro ponto importante é a circulação externa, por isso a importância das integrações com os BRTs e locais como o Fundão, onde cerca de 30% da população da Maré trabalham. Vamos aplicar também o Programa de Educação Ambiental, promovendo ações na comunidade durante as obras para conscientizar os motoristas, pedestres e ciclistas”, justificou o secretário de Meio Ambiente, Altamirando Fernando Moraes.

Sobre o Rio Capital da Bicicleta

Com 380 km de extensão, o Rio possui a maior rede de ciclovias da América Latina, o que reforçou o caráter sustentável, por incentivar trabalhadores a substituir carros por bicicletas.

Maquiagem x limpeza

Logo nos primeiros dias de retomada das favelas pela PM, entre março e abril do ano passado, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) recolheu mais de 400 toneladas de lixo e entulho. Fez-se um estardalhaço midiático, como se fosse a primeira vez que a concessionária estivesse na localidade, como se os garis não pudessem adentrar para realizar o trabalho.

Operação policial

Imagem: PMERJ / Reprodução

Durante dois dias de operação nas favelas, cujo controle foi transferido, nas últimas quarta (1/7) e quinta-feira (2), a PM deteve oito pessoas, apreendeu um adolescente com mandado de prisão por roubo, sete motos, três carros, cinco rádios transmissores, uma réplica de pistola, 140 munições calibre 5,56 milímetros (utilizado em fuzil), 3.213 papelotes de maconha, 376 papelotes de cocaína, 35 pedras de crack, entre outras drogas em sacolés, pinos e tabletes (foto 2).

A operação ocorreu nas comunidades Baixa do Sapateiro, Conjunto Esperança, Morro do Timbau, Salsa e Merengue, Vila do João e Vila do Pinheiro, tendo sido realizada pelo Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), Batalhão de Ações com Cães e o Grupamento Aeromóvel (GAM).

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