Quarta-feira, 24 de junho de 2015 Lula defende uma 'nova utopia' para o PT 'Cínica moral, ânsia de poder, muito além do...
Quarta-feira, 24 de junho de 2015
Lula defende uma 'nova utopia' para o PT
'Cínica moral, ânsia de poder, muito além do mal, muito além do bem. Tenho que esquecer isso que aprendi, menos o amor, era tudo mentira', diz o trecho de uma música espanhola intitulada 'Todo Mentira' (em tradução literal: Tudo Mentira). O refrão inspira OPINÓLOGO a comentar as declarações do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, quem defendeu, na última segunda-feira (22/6), que o Partido dos Trabalhadores (PT) precisa de uma 'nova utopia' e que faça uma 'revolução interna', por meio de uma reaproximação com a juventude. As sugestões foram proferidas durante a conferência 'Novos Desafios da Democracia', promovida pelo Instituto Lula, em São Paulo, na qual participou o ex-presidente do governo espanhol Felipe Gonzáles.
“Queremos salvar a nossa pele, nossos cargos, ou queremos salvar o nosso projeto?”, indagou o petista.
“Fico pensando se não está na hora de fazer uma revolução neste partido e ter lideranças mais jovens, ousadas, com mais coragem”, continuou.
Segundo o Dicionário Michaelis de Língua Portuguesa, utopia é: “1 O que está fora da realidade, que nunca foi realizado no passado nem poderá vir a sê-lo no futuro. 2 Plano ou sonho irrealizável ou de realização num futuro imprevisível; ideal. 3 Fantasia, quimera”.
O que Lula quer é mais do que uma utopia: uma nova mentira, ilusão que consiga seduzir massas como o partido vinha fazendo nestes 35 anos. Mas, os contos já perderam efeito e credibilidade. O PT não amadureceu. Cada vez mais vive um processo de autofagia, e em seu ciclo evolutivo poderá entrar em putrefação ou metamorfosear-se numa supernova, que, em astronomia, é a morte de uma estrela, se não mudar suas posturas políticas e/ou tentar confundir seus próprios interesses como se fossem os da sociedade brasileira.
Com base nas definições dessa enciclopédia, é possível destacar que a legenda já estabeleceu algumas utopias:
1) que o PT não é perfeito como se supunha. Em vez de exceção, provou ser da mesma laia que os demais partidos. Nem melhor nem pior. Simplesmente 'farinha do mesmo saco', conforme um dito popular. O Mensalão e o Petrolão enfatizam isso.
2) reforçou que o socialismo não pode mesmo dar certo. Até existem países escravizados por tal ideologia, como a Venezuela, Cuba – que passado 50 anos insiste no erro – e governos déspotas como Nicarágua, Argentina, Bolívia e Equador. Mas, jamais serão bem-sucedidos se não tiverem o capitalismo paralelamente.
3) provou que não era contra a ditadura, mas contra a ditadura de direita. As melhores relações do partido e/ou seus governos são com ditaduras, principalmente as de esquerda. A omissão do governo Dilma Rousseff ante as detenções arbitrárias de políticos opositores ao chavismo é um exemplo disso. Para uma presidente que se diz vítima da Ditadura Militar (1964-1985), não poderia calar-se diante de tais violações de direitos humanos; em 2013, a mandatária anistiou em 80% a dívida de ditaduras africanas como Guiné Equatorial, Gabão, Congo Brazzaville etc.
4) o PT foi capaz de enganar o próprio PT. Não somente seu eleitorado. Durante a campanha presidencial de 2014, a então candidata Dilma Rousseff chegou a culpar seus adversários por aquilo que ela mesma faria após a vitória. Deu uma de 'Aécio Rousseff'. Fez com que a 'vaca tossisse'. Mexeu em direitos trabalhistas, alterando o tempo para o recebimento do auxílio-desemprego, na pensão por viuvez, até no abono salarial. O PT de Dilma mostrou-se contra os ajustes fiscais que sua militante propunha.
Carta de Salvador
Recentemente, o PT divulgou a Carta de Salvador, fruto de seu 5º Congresso ocorrido entre os dias 11 e 13 na capital baiana. Ironicamente, disse que 'renova sua confiança no povo brasileiro'. Note-se a inversão de valores, quando é a sociedade que precisa voltar a confiar na legenda.
“Reunido em seu V Congresso, o Partido dos Trabalhadores, na presença de centenas de militantes de todo o País, renova sua confiança no povo brasileiro, protagonista das grandes transformações que vivenciamos nos anos mais recentes. Reafirmamos, igualmente, nossa convicção de que a edificação de uma nova sociedade, justa, fraterna e solidária, uma pátria socialista, só se fará com o aprofundamento da democracia e a ampla participação organizada das maiorias sociais. Por isso, diante do cenário atual, em que o mundo sofre as consequências do terremoto da crise global do capitalismo, o PT vem a público apresentar propostas de superação das dificuldades do momento, ao tempo em que nos fiamos na determinação e competência do governo da presidenta Dilma [Rousseff] para nos liderar nessa travessia”, disse um trecho do documento.
É preciso frisar que o partido insiste, discretamente, em tornar o efeito pela causa, quando fala em crise econômica global, a qual já tem sido superada por vários países, inclusive os Estados Unidos. Tenta tirar a responsabilidade do atual governo pela crise enfrentada pelo Brasil, que precisou estabelecer uma série de ajustes fiscais. A Grécia continua na merda, só pra deixar claro. Também persiste em uma 'pátria socialista', no intuito de imitar os erros da Venezuela e da Argentina, por exemplo.
Caracas enfrenta uma inflação anual de quase 70%, provocada pela queda de preço nos barris de petróleo, escassez de alimentos e até de papel higiênico, como também a falta de investimentos e de confiança de investidores estrangeiros. Tudo isso decorrente de uma política de estatizações e de agressão ao direito de propriedade privada, ademais o cerco à liberdade de imprensa e a perseguição a políticos opositores do regime. Em fevereiro último, a nação chegou ao fundo do poço, ao ter de trocar petróleo por papel higiênico com Trinidad e Tobago.
Buenos Aires não fica muito atrás: inflação anual acima dos 30%, desemprego, crise cambial e perseguição aos meios de comunicação opositores. Ainda lida com os efeitos da recessão econômica de 2001. Seu alinhamento ideológico ao chavismo e a nacionalização da petrolífera YPF – até 2012 sob os cuidados do grupo espanhol Repsol –, por Cristina Kirchner, enredam a crise econômica, que se agravou com o calote técnico (default) aos fundos abutres.
Sucesso do capitalismo
Há quem ouse interrogar onde o capitalismo deu certo. Ele não deu. Continua dando certo, apesar de certas imperfeições. O maior exemplo é o fim da União Soviética, em 1991.
O segundo exemplo é a Alemanha. A metade ocidental era capitalista, enquanto a metade oriental, comunista. Após a reunificação, o país tem uma das maiores economias do mundo, e não foi afetado pela crise econômica.
O terceiro exemplo é a China, com seu capitalismo de estado, ou comunismo de mercado. A segunda maior economia do planeta teve que se render ao mercado com seus manufaturados de baixa qualidade e mão de obra barata. Só não aprendeu a fazer guarda-chuva ainda.
Com Cuba, a situação ainda engatinha. Mascarada em políticas públicas de saúde – que se tornaram políticas de mercado –, a nação exporta médicos para vários países, entre eles a Venezuela e o Brasil, por baixíssimos salários, cujas condições foram associadas à de escravidão. No gigante sul-americano, por exemplo, a cifra recebida pelos profissionais do Mais Médicos – programa do governo federal – foi questionada. Eles só embolsariam algo entre 25% a 40% dos R$ 10 mil mensais, ou seja, entre R$ 2,5 a R$ 4 mil. O restante ficaria para a ditadura centro-americana.
Outro exemplo é o Equador. Desde 2000, que a moeda oficial é o dólar dos Estados Unidos. O país não tem moeda própria. O presidente Rafael Correa está no cargo desde 2007, onde ficará até 2019. Nunca houve esforço real para fugir do maior símbolo capitalista.
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