Quinta-feira, 28 de maio de 2015 Catorze executivos do mundo do esporte são indiciados nos EUA por crimes de lavagem de dinheiro, fraud...
Quinta-feira, 28 de maio de 2015
Catorze executivos do mundo do esporte são indiciados nos EUA por crimes de lavagem de dinheiro, fraude eletrônica, pagamento de propinas, entre outros
Pedido de CPI
Imagem: Waldemir Barreto / Agência Senado
Da esquerda para a direita: os senadores Magno Malta, Zezé Perrela e Romário |
“Este é o momento de definitivamente moralizarmos o nosso futebol, e não podemos perder a oportunidade. Esperamos desmontar de uma vez por todas essa caixa-preta que existe dentro da CBF”, expressou o ex-futebolista.
“Uma grande vitória! Em menos de duas horas, consegui 52 assinaturas para instalar a CPI do futebol, eram necessárias 27. Ou seja, é oficial! A CPI será instalada. Já protocolei para a conferência de assinaturas, agradeço o apoio de todos os senadores e senadoras.
Conto com a celeridade da Casa para instalar a CPI rapidamente e começarmos a investigação tanto sobre os contratos de patrocínio e realização de jogos da CBF, como os contratos de realização da Copa das Confederações e Copa do Mundo.
Se depender de mim, este inquérito terá um final feliz, um final que realmente todos os brasileiros esperam”, continuou o parlamentar.
Mais cedo, o ex-jogador havia comemorado a detenção dos dirigentes. Porém, lamentou que a ação não tenha sido feita pela polícia brasileira. Pode-se dizer, que foi um dia de glória para ele. Pois, já há algum tempo vinha falando em supostos atos de corrupção na CBF. Pode-se afirmar que sua popularidade aumentou, quando começou a criticar os gastos excessivos para o Mundial de 2014 no Brasil.
Caso venha candidato a prefeito do Rio nas eleições de 2016, Romário ganharia pontos com a situação. Como se sabe, no Brasil, virou mérito falar a verdade, quando deveria ser uma obrigação da classe política. Foi eleito para senador nas eleições do ano passado com 4,7 milhões de votos, cujo mandato é de oito anos. As votações superaram até a do governador fluminense reeleito Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ), quem logrou a confiança de 4,3 milhões de eleitores.
Note-se que CPI nada mais é do que um 'circo' para entreter o cidadão, cujo interesse é meramente político. Alguém já viu alguma CPI dar em alguma coisa??? Ninguém é preso, e alguns dos entrevistados – não dá pra chamá-los de depoentes – conseguem, por exemplo, liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) para terem o direito de ficar de boca calada e só responderem em juízo. CPIs, em geral, têm por finalidade ou consequência fazer com que fatos fiquem em evidência e/ou provocar desgaste político ao governo e/ou a respectivos alvos, réus e investigados. Vale lembrar que, apesar dessa aparente boa intenção de tornar as coisas às claras, o Legislativo não tem poder de polícia nem de Justiça.
Em 2012, quando era deputado federal, Romário instou a abertura de uma CPI para apurar supostas irregularidades na CBF, mas não obteve sucesso.
No ano passado, logo após a vergonhosa derrota da Seleção brasileira para a da Alemanha por 7 a 1, durante a Copa do Mundo de 2014, houve uma tentativa oportunista por parte do governo em intervir na CBF, especialmente pelo futebol ser a paixão nacional. Poderia ser um modo de aumentar a própria popularidade diante de um ano eleitoral. No entanto, não conseguiu por temor a represálias por parte da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa), que veda a ingerência estatal na entidade desportiva que é privada.
Em 2014, o senador Randolfe (Psol-AP) tentou criar uma CPI no Senado, mas não conseguiu apoio político. “Fico feliz com uma iniciativa para colocar a limpo o futebol brasileiro. Eu subscrevo e espero que ninguém mais se intimide com o lobby da CBF. Essa é uma empresa dirigida há 30 anos por uma gangue de corruptos. Essa casa tinha que cair em algum momento”, falou.
“É preciso que o resultado leve em conta o caráter de autonomia e de instituição privada que a CBF tem. Porém, se houver elementos que permitam uma investigação que redunde em mudanças para o futebol brasileiro, poderemos apoiar”, manifestou o senador Humberto Costa (PT-PE), quem apoia a criação da CPI, contudo pede cautela.
Já o senador Alvaro Dias (PSDB-SP), quem presidiu a comissão mista CBF/Nike, em 2000, propôs que o Congresso discutisse uma lei para reforçar o controle público sobre a federação brasileira. Ele também é a favor da CPI.
O senador Zezé Perrela (PDT-MG), quem desestimulou, em 2013, a criação de uma CPI, ao convencer seus homólogos a retirarem seu nome da lista de apoio, disse, nessa quarta-feira (27), que também colheria assinaturas para que a CBF fosse investigada no Legislativo. Na época, ele justificou que uma CPI não seria bom para o futebol brasileiro às vésperas da Copa do Mundo de 2014.
Dirigentes do futebol são presos na Suíça
O requerimento de CPI foi motivado pela detenção de sete dirigentes do futebol, nessa quarta-feira (27), pela polícia suíça, em Zurique, a pedido da polícia federal estadunidense (FBI, na sigla em inglês). Eles participavam de um congresso da Fifa, e foram detidos pela manhã ainda no hotel onde estavam hospedados. São eles:
1) José Maria Marin: ex-presidente da CBF, que agora ocupa o cargo de vice-presidente na entidade, e é atualmente membro do Comitê Organizador da Fifa para os torneios olímpicos de futebol;
2) Eduardo Li: presidente da Federação Costarriquenha de Futebol (Fedefutbol) e membro dos comitês executivos da Fifa e da Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Concacaf).
3) Jeffrey Webb: vice-presidente da Fifa, presidente da Concacaf e da Associação de Futebol das Ilhas Cayman (Cifa, na sigla em inglês) e membro do comitê executivo da União de Futebol do Caribe (CFU, na sigla em inglês).
4) Eugenio Figueredo: vice-presidente da Fifa, presidente da Associação Uruguaia de Futebol (AUF) e ex-presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol).
5) Costas Takkas: ex-secretário-geral da Cifa e atual suplente da Concacaf.
6) Julio Rocha: integrante da Fifa, presidente da Federação Nicaraguense de Futebol (Fenifut) e ex-presidente da União de Futebol da América Central (Uncaf, na sigla em inglês).
7) Rafael Esquivel: presidente da Federação Venezuelana de Futebol (FVF) e primeiro vice-presidente da Conmebol.
Eles são acusados pela Justiça de Nova Iorque, nos Estados Unidos (EUA), de supostos desvios, lavagem de dinheiro, pagamento de propinas, fraudes eletrônicas e evasões fiscais no valor de US$ 150 milhões – o equivalente a mais de R$ 300 milhões – em contratos e direitos de campeonatos, televisivos e de marketing, entre eles a cessão das transmissões da Copa América até o ano de 2023.
As investigações estão ocorrendo nos Estados Unidos, porque supostos atos de corrupção foram cometidos lá, envolvendo operações bancárias fraudulentas. A lei local permite a Justiça a pedir a extradição de qualquer estrangeiro que tenha cometido crime em seu território e/ou que esteja ligado a cidadãos e empresas.
Outros dirigentes também são investigados. São eles:
8) Nicolás Leoz: ex-presidente da Conmebol e membro do Comitê Executivo da Fifa.
9) Alejandro Burzaco: diretor da empresa de marketing esportivo na Argentina Torneos y Competencias S.A.
10) Aaron Davidson: presidente da Traffic Sports USA Inc., em Miami, na Flórida. A empresa pertence ao brasileiro José Hawilla, do grupo Traffic, com sede no Brasil, e Traffic Sports Internacional, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas.
11) Hugo Jinkins: diretor na empresa de marketing esportivo Group S.A., com sede na Argentina.
12) Mariano Jinkis: também diretor na Group S.A., na Argentina.
13) José Margulies: diretor na empresa de transmissões de jogos Valente e Somerton Corp. Ltda.
14) Jack Warner: membro do Comitê executivo da Fifa e assessor especial da Federação de Futebol de Trinidad e Tobago (TTFF, na sigla em inglês).
Vale frisar que alguns réus no processo já admitiram participação como: Charles Blazer, ex-secretário da Concacaf e ex-representante dos Estados Unidos no Comitê Executivo da Fifa; e o brasileiro José Hawilla, do grupo Traffic.
Em novembro de 2013, Blazer se declarou culpado de lavagem de dinheiro, extorsão, sonegação de impostos, e perdeu mais de US$ 1,9 milhão na época de sua delação. E concordou pagar outro montante como multa após o fim da sentença. Ele pode pegar penas que somam a 15 anos.
Hawilla pagou US$ 25 milhões de um total de US$ 151 milhões, em dezembro de 2014, num acordo de delação com a Justiça norte-americana, perante as acusações de obstrução da justiça, lavagem de dinheiro, extorsão e fraude eletrônica. Em maio de 2015, a Traffic Sports Internacional e a Traffic Sports USA Inc. se declararam culpadas de fraude bancária.
Em julho de 2013, um dos filhos de Jack Warner (da TTFF), Daryll Warner – membro da Fifa – se declarou culpado de fraude eletrônica e na estruturação de operações financeiras. A pena pode chegar a 10 anos.
Em outubro de 2013, outro filho de Jack Warner, Daryan Warner, concordou em pagar uma indenização de US$ 1,1 milhão durante delação ante as acusações de lavagem de dinheiro, fraude eletrônica e na estruturação de operações financeiras. Ele poderá pegar a mesma pena de 10 anos do irmão acima citado.
Os demais réus poderão pegar até 20 anos de cana pelos crimes já mencionados. Já os réus corporativos como os do grupo Traffic poderão ter de pagar uma multa de US$ 500 mil e a pena de um ano em liberdade condicional.
Pesa ainda sobre Eugenio Figueredo a acusação de fraude para a obtenção da cidadania norte-americana. A sentença seria de 10 anos. Por demais acusações, outros cinco anos em cana poderiam ser acrescidos.
“A acusação alega que a corrupção é desenfreada, sistêmica e profundamente enraizada tanto no exterior como aqui nos Estados Unidos, que se estende por pelo menos duas gerações de autoridades do futebol que abusaram seus cargos de confiança para adquirir milhões de dólares em subornos e propinas. E isso tem prejudicado profundamente uma multidão de vítimas, a partir das ligas juvenis e os países em desenvolvimento, que devem se beneficiar da receita gerada pelos direitos comerciais que estas organizações mantêm, para os torcedores em casa e em todo o mundo (...) A ação de hoje deixa claro que o Departamento de Justiça tem a intenção de acabar com tais práticas corruptas, para acabar com a má conduta, e trazer malfeitores à Justiça”, declarou a secretária de Justiça dos EUA, Loretta E. Linch.
“Depois de décadas de corrupção descarada, o futebol internacional organizado precisa de um novo começo, uma nova chance para suas instituições de governo para fornecer supervisão honesto e apoio de um esporte que é amado em todo o mundo, cada vez mais, aqui nos estados-membros. Deixe-me ser claro: esta acusação não é o capítulo final de nossa investigação”, apontou o promotor do Distrito Leste de Nova Iorque, Kelly T. Currie.
O interessante de tais processos estarem ocorrendo em solo estadunidense é que os réus não têm a mínima chance de tentar melar as investigações nem desacreditá-las e/ou a quem os investiga, como acontece aqui no Brasil em certos casos, como a operação Lava-Jato e o Mensalão, por exemplo.
Entidades desportivas se manifestam
As detenções ocorreram às vésperas da eleição para a presidência da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa), cujo atual presidente Joseph Blatter concorrerá pela quinta vez consecutiva. Mais cedo, ele emitiu um comunicado a respeito do escândalo de suposta corrupção na entidade, no qual afirmou ser um 'momento difícil para o futebol'.
“É um momento difícil para o futebol, para os torcedores e para a Fifa como organização. Compreendemos a decepção que muitos expressaram, e sei que os acontecimentos de hoje vão afetar a forma como muita gente nos vê.
Por mais lamentáveis que sejam esses acontecimentos, é preciso deixar claro que recebemos com satisfação as ações e as investigações empreendidas pelas autoridades estadunidenses e suíças; e acreditamos que ajudarão a reforçar as medidas que a Fifa já tomou para erradicar do futebol todo ato delitivo.
(…) De fato, a ação empreendida hoje pelo Ministério Público da Confederação Helvética se colocou em marcha quando apresentamos um pedido às autoridades suíças no final do ano passado (…)”, disse o dirigente da Fifa.
Pela manhã, a CBF informou que esperaria a conclusão das investigações para tomar providências. Já à noite, comunicou o afastamento temporário do Marin, atual vice-presidente da entidade, ademais da reanálise dos contratos firmados com seus parceiros comerciais.
Já a Fedefutbol, na Costa Rica, espera que Eduardo Li possa provar sua inocência, e disse não estar envolvida no escândalo. Dispôs-se a colaborar com as autoridades locais ante uma possível investigação.
A Federação Venezuelana de Futebol (FVF) suspendeu por 90 dias Rafael Esquivel da presidência, por orientação da Fifa. Ele também é o primeiro vice-presidente da Conmebol.
A Liga Europeia de Futebol (Uefa, na sigla em inglês) pediu que as eleições na Fifa fossem adiadas, e que o tal congresso da entidade na Suíça poderia se tornar uma 'farsa' diante do escândalo. “Os eventos de hoje – no caso ontem – são um desastre para a Fifa e mancham a imagem do futebol como um todo (…); estes eventos mostram, mais uma vez, que a corrupção está profundamente enraizada na cultura da Fifa (…)”, lamentou.
A Confederação Asiática de Futebol (AFC, na sigla em inglês) se opôs ao adiamento das eleições na Fifa.
A Justiça americana já sinalizou, sem adiantar muito, que a escolha da sede da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, será investigada, assim como a de 2018, na Rússia, a de 2022, no Catar, e a de 2010, na África do Sul, como também as eleições para a Fifa em 2011.
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