Domingo, 01 de março de 2015 A Cidade Maravilhosa completa 450 anos neste domingo “Rio 40 graus, cidade maravilha, purgatório da be...
Domingo, 01 de março de 2015
A Cidade Maravilhosa completa 450 anos neste domingo
“Rio 40 graus, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos (...)”
Imagem: Free Images / Uso gratuito / Reprodução
Cristo Redentor, de braços abertos... para o turista |
64 autos de resistência – homicídios decorrentes de intervenção policial – foram registrados em janeiro de 2015 contra 50 em relação a janeiro de 2014, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), vinculado à Secretaria de Segurança Pública do governo do estado.
Já o número de roubos de rua teve um aumento de 11% em relação a janeiro do ano passado. Em 2015, foram 8.617 ocorrências contra 7.760 em 2014. Tudo isso em apenas um mês do ano. Imagine em 12, então!!!
774 adolescentes foram apreendidos em supostos atos infracionais em janeiro deste ano. A cifra é 37,7% maior em relação a janeiro de 2014, com 562 apreensões feitas pela polícia.
Apenas em janeiro de 2015, quatro policiais foram mortos em serviço.
Infelizmente, não dá para falar somente do Rio sem levar em conta todo o território fluminense, uma vez que os dados divulgados pela Segurança Pública não especificam os municípios. No entanto, o bom senso leva a crer que boa parte das ocorrências é na capital, que tem seis milhões, 320 mil, 446 habitantes, segundo o Censo de 2010.
“Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil, Cidade Maravilhosa, coração do meu Brasil (...)”
As belezas cariocas não podem servir de distração diante dos inúmeros problemas enfrentados diariamente: engarrafamentos a qualquer hora do dia; arrastões em praias; supostos problemas de abastecimento de água em determinados bairros; hospitais caindo aos pedaços e/ou com falta de médicos e medicamentos; greves com mais de um mês nas redes municipal e estadual de educação, o que compromete a qualidade do ensino e afeta aos estudantes da última série do Ensino Médio que pretendem fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem); a má qualidade dos transportes públicos e o descaso de autoridades competentes quanto a frequentes acidentes, principalmente os de trem; ademais dos problemas clichês que são tão clichês quanto suas queixas.
“O Rio de Janeiro continua lindo, o Rio de Janeiro continua sendo (…); alô, alô, Realengo, aquele abraço (...)”
O Rio de Janeiro não é só a Zona Sul e o Centro, como lembrou a canção. É formado também pela Zona Norte, Zona Oeste e por favelas – como a do Sumaré e o Morro do Chacrinha, no Rio Comprido – ignoradas no Google Mapas, do Google, a pedido da Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (RioTur), em 2009, noticiou o 'Estadão'.
“Rio, cidade-desespero; a vida é boa, mas só vive quem não tem medo (…); arrastão na praia não tem problema algum; chacina de menores é aqui 021; Polícia, cocaína, Comando Vermelho; Sarajevo é brincadeira, aqui é Rio de Janeiro (…); segurança é subjetiva (…); beleza convive lado a lado com um dia de miséria (...)”
Existem dois Rios de Janeiro num só lugar: um acolhedor a turistas que chegam para o Réveillon, o carnaval e ao público LGBT – em 2010, por exemplo, recebeu o título de cidade gay mais sexy do planeta –, outro que dá medo sair de casa. O cidadão sai para trabalhar sem a certeza se retornará.
Nas últimas duas semanas, pelo menos 11 pessoas foram vítimas de tiro no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, apesar da presença da Força de Pacificação, que completará um ano no próximo dia 30 de março. O conjunto de favelas aguarda a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Esta não é bem uma garantia de que a área 'pacificada' esteja mais segura. Note-se os constantes confrontos na Rocinha e no Complexo do Alemão, por exemplo.
As cerimônias afrobrasileiras praticadas durante o Réveillon, e que servem de cartazes do país no exterior, não são toleradas dentro de casa como se pensa. No mês passado, por exemplo, uma aluna de um colégio na Praça Seca, praticante do Candomblé, teria sido vítima de suposta intolerância religiosa por parte de sua professora, publicou o jornal 'O Dia'.
Em determinadas favelas, integrantes do Candomblé e da Umbanda são expulsos de suas casas por traficantes – a escória da sociedade – 'pseudoevangélicos', conforme reportagem de 'O Globo'. O estado do Rio Janeiro é o segundo maior em casos de intolerância religiosa, atrás apenas de São Paulo, de acordo com a Secretaria de Direitos Humanos, órgão ligado à Presidência da República.
“(…) Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara; este samba é só porque Rio, eu gosto de você (…)”
Que o carioca gosta do Rio, não há a menor dúvida. O turista também o aprecia. Só falta o Rio gostar mais de si mesmo e parar de virar as costas para sua própria gente.
Durante a alta temporada, por exemplo, o ingresso de trenzinho para o Cristo Redentor custa R$ 62. Na baixa temporada, R$ 51. O preço do bondinho para o Pão de Açúcar também é de R$ 62. Não condiz com a realidade financeira de grande parte dos cariocas. Pode-se dizer que esses monumentos são do Rio, mas não para os cariocas. Só pra constar: há gratuidade e/ou descontos para crianças, e meia-entrada para estudantes e idosos. Considera-se alta temporada todos os dias dos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e julho, e os fins de semana e feriados prolongados dos demais meses. A baixa temporada vai de março a junho e de agosto a novembro, e nos demais meses, de segunda a sexta-feira.
Embora a Cidade Maravilhosa tenha se tornado uma espécie de capital mundial do carnaval, nem só de samba vivem os cariocas. Nos demais meses, quando o ano parece realmente começar, e a distração acaba, são os problemas, alguns deles explicitados acima, que 'sambam' na cara da população.
Neste domingo (1/3), o Rio completa 450 anos. Apesar de a data ser de alegria, de exaltação e de culto à beleza, não pode ser de demagogia. Que seus aniversariantes tenham maturidade e senso crítico para encarar de frente os problemas que os afligem, e que sejam mais exigentes. Existe um Rio muito além dessas letras de músicas.
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