Terça-feira, 24 de março de 2015 Novela da Rede Globo é alvo de suposta homofobia; pastor Marco Feliciano convoca evangélicos a boicota...
Terça-feira, 24 de março de 2015
Novela da Rede Globo é alvo de suposta homofobia; pastor Marco Feliciano convoca evangélicos a boicotar a Natura
A novela 'Babilônia', da TV Globo, começou há pouco mais de uma semana. Para ser exato, em 16 de março. Já no primeiro capítulo, polemizou com o beijo lésbico entre duas velhas, as personagens Estela e Teresa, vividas pelas atrizes Natália Timberg e Fernanda Montenegro, respectivamente. Desde então, o enredo tem provocado a indignação de segmentos religiosos e é alvo de suposta homofobia. O mais recente caso é o do pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), que convocou a 'militância' do politicamente correto a boicotar a empresa de cosméticos Natura, por seu patrocínio à atração global:
“A empresa NATURA, conhecida marca popular, é a maior patrocinadora da novela BABILÔNIA, que logo em seu primeiro capítulo esbofeteia a família brasileira com uma subliminar mensagem anti-cristã (sic). Conclamo aos que defendam valores morais a BOICOTAR esta empresa, não comprando e nem vendendo seus produtos até que ela retire seu patrocínio.
'... porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz' Lucas 16:8b
Nosso silêncio às vezes custa nossos valores, veja o que o movimento gay faz quando alguém se opõe à sua doutrinação:
São Paulo - Grupos de direitos humanos e ativistas gays estão convocando um boicote à marca de alimentos italiana Barilla, maior fabricante de macarrão do mundo. A iniciativa é uma reação à declarações recentes do presidente da companhia, Guido Barrila, que afirmou em entrevista jamais permitir um casal gay nos comerciais de seus produtos.
ROMA (Reuters) - O cantor britânico Elton John criticou duramente os estilistas italianos Domenico Dolce e Stefano Gabbana, no domingo, e pediu um boicote à sua marca depois que a dupla louvou as famílias 'tradicionais'.
SALVADOR (A TARDE) Os homossexuais pretendem boicotar produtos de empresas que têm se recusado a patrocinar as paradas gays realizadas no Brasil. Foi o que anunciou nesta quarta (24), dirigentes do Grupo Gay da Bahia (GGB), a mais antiga entidade do gênero em atuação no Brasil, diante da dificuldade de arrecadar recursos para a 10ª Parada Gay da Bahia que será realizada em 11 de setembro em Salvador”, postou nas redes sociais o parlamentar.
Para o pastor Silas Malafaia, da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo (Avec), a Globo 'é a maior patrocinadora da imoralidade e do homossexualismo no Brasil. Uma vergonha!'. Em artigo publicado no site 'Verdade Gospel', diz que o 'Brasil está confundido liberdade com libertinagem'. “Toda sociedade que não tem limites se autodestrói”, sustentou.
Nas redes sociais, Malafaia continua a atacar a programação televisiva:
Imagens: Twitter / Reprodução
A reação da sociedade a novela Babilônia,não é " caça às bruxas" e sim contra a imoralidade pregada em uma hora onde adolescentes têm acesso
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) 22 março 2015
É a reação da sociedade a destruição de valores que tem norteado a família.Familias fortes, nação forte,famílias detonadas,nação sem rumo.
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) 22 março 2015
Recentemente, o deputado federal João Campos (PSDB-GO), líder da Frente Parlamentar Evangélica (FPE), disse que a novela ataca 'diretamente a família natural', e emitiu nota de repúdio.
Enquanto que o senador Magno Malta (PR-ES) a classificou de uma 'apologia ao mal' e uma 'ameaça com cara de diversão'. “Produzida para destruir famílias”, continuou o político capixaba. No último domingo (22/3), ele informou que pediria ao Ministério da Justiça que a novela fosse reclassificada para o público acima dos 16 anos.
“Não quero tirar do ar. Nem tirar as personagens. Só acho que eles pesaram a mão. Hoje, segunda-feira, enviarei ofício para o ministro da Justiça para reclassificar para 16 anos. Eu não quero minhas filhas vendo duas senhoras homossexuais se beijando. São cenas muito pesadas para aquele horário”, comentou o senador.
O humorista Danilo Gentili, do SBT, criticou a postura ultraconservadora em relação à 'Babilônia':
Imagens: Twitter / Reprodução
Novela mostra roubo, adulterio, assassinato... e vcs assistem. Duas véias se beijam e "aiii nossa gente que absurdo, choquei". Que idiotas.
— Danilo Gentili (@DaniloGentili) 23 março 2015
Eu fico chocado é com quem se choca com novela. Toda novela é igual. É a trigésima vez que tem pela primeira vez um beijo gay em uma novela.
— Danilo Gentili (@DaniloGentili) 23 março 2015
O Brasil indo para o caraleooooo e a frente evangelica preocupadinha com beijo gay de duas véias na novela. Porra...
N
O
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— Danilo Gentili (@DaniloGentili) 23 março 2015
Breve análise
Gentili tem razão, quando aponta uma inversão de valores pelo fato de que certos políticos estão mais preocupados com uma novela do que com a corrupção crescente no país. Talvez o maior choque de uma parte do público tenha sido o fato de duas idosas terem se beijado, não a cena em si. Ainda mais sendo duas atrizes de longa data.
A tática de boicotar 'Babilônia' – que teve queda de audiência na primeira semana, de 33 pontos para 26, noticiou o jornal 'O Dia' – parece similar à de 'Salve Jorge' por lideranças evangélicas.
Muitos telespectadores parecem desconhecer o uso do controle remoto, inventado no meado da década de 50, mas que só se popularizou a partir dos anos 80, ao menos aqui no Brasil, com a ascensão da televisão a cores. Se não gosta da programação, é muito simples: basta desligar seu aparelho ou mudar de canal. Ainda existe uma terceira alternativa: assine uma TV a cabo. Ninguém é obrigado a assistir algo que não quer ou não gosta. Não é a emissora quem impõe sua programação ao público, mas, sim, este que se impõe a ditadura do canal único. É preciso deixar claro que isso não é um apoio ao boicote, mas uma sugestão de não assistir à programação sem fazer alarmismo.
Apesar de os canais de TV serem concessões públicas, a emissora é privada e suas atrações precisam ser mistas para atingir públicos de vários credos, raças, sexualidade, níveis social e cultural, faixas etárias, entre outros.
O suposto patrimonialismo e presunção do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) ficam evidentes, ao criticar e determinar como uma empresa privada deve ou não gastar o seu próprio dinheiro. Não é uma simples agressão à Natura, mas a milhares de postos de trabalho direto e indiretos, em caso de uma eventual queda nas vendas.
Já o pastor Silas Malafaia parece ainda viver num mundo onde religião e política se misturavam. Seu ativismo politicamente religioso, ou religiosamente político, às vezes excede o senso comum. Isso pode ser observado quando tentou, por exemplo, interferir diretamente nas duas últimas corridas presidenciais, de 2010 e 2014.
Vale lembrar que é de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO) o engavetado Projeto de Decreto Legislativo (PDC) nº 234/2011, que visava anular alguns trechos da Resolução nº 001/99 do Conselho Federal de Psicologia (CFP), para permitir a 'cura gay'. A entidade proíbe qualquer tipo de tratamento de cura da homossexualidade por seus associados, tendo como base parecer da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em 2007, por exemplo, o senador Magno Malta (PR-ES) chegou a ser indiciado pela Polícia Federal por suposta participação na Máfia das Sanguessugas, cuja finalidade era desviar verbas de compra de ambulâncias para o caixa de políticos, segundo o portal 'G1'. No ano anterior, o parlamentar tinha sido inocentado no Conselho de Ética do Senado por falta de provas. Em 2009, o senador foi acusado de, supostamente, colocar por meio de atos secretos um espião no conselho que o investigava.
Enquanto a TV Globo promove uma luta contra a homofobia, lideranças religiosas buscaram nela um modo oportunista de se promoverem diante de seu público-alvo. Só que com isso, os mesmos também acabam criando publicidade à novela perante os telespectadores não evangélicos.
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