Quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015 Imagem: Guilherme Fernández / Cedida ao OPINÓLOGO Protesto contra violência na Linha Amarela ...
Quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Imagem: Guilherme Fernández / Cedida ao OPINÓLOGO
Protesto contra violência na Linha Amarela |
“Barbárie na Maré
Em nome do papel político dos jornalistas na sociedade e de seu dever ético na defesa dos Direitos Humanos, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro denuncia a barbárie como a lógica que tem pautado a segurança pública estadual. Nesta segunda-feira (23/2), nosso Sindicato participou na Maré, com a presença de três diretores, de um ato pela vida e contra a criminalização da pobreza e o genocídio praticado pelo Estado nas favelas cariocas.
Testemunhamos a violência representada pelo desproporcional aparato policial de repressão ao ato. Repudiamos as tentativas do Estado, de setores conservadores das forças políticas e do oligopólio da mídia de conferir um caráter criminoso à manifestação, uma legítima expressão da revolta e da indignação da juventude e de suas famílias moradoras da Maré. Não compactuamos com atos de violência praticados por uma minoria dos participantes, mas nada justifica reprimir pedradas com armas letais. Ainda não é possível medir as consequências da barbárie.
Policiais militares, com uso de armas pesadas, cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo, gás de pimenta e de um helicóptero, não bastasse a presença ameaçadora dos tanques e das armas do Exército, que ocupa a favela há cerca de um ano. Ficamos encurralados por esse aparato e sob a ameaça iminente de um abrir fogo justamente no momento em que o ato seguia pelo acesso às vias expressas conhecidas como Linhas Vermelha e Amarela.
A violência militar dispersou os manifestantes por volta das 22h, mas até cerca de meia-noite ouviu-se tiros e ataques a bombas nas vias à margem da favela, que foi invadida por policiais de diferentes unidades, entre as quais o Batalhão de Choque o de Operações Especiais (Bope). Casas, becos e vielas se tornaram alvo de ataques a bombas da PM em seis favelas da Maré (Timbau, Baixa do Sapateiro, Conjunto Esperança, Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Vila do Pinheiro e Vila do João).
A violência testemunhada e enfrentada por nossa direção não foi um fato isolado. Infelizmente, trata-se de rotina para a população da Maré, onde há confirmada a notícia de pelo menos um morto e dez feridos a balas em menos de um mês. Neste sábado (21/2), durante um tiroteio, cinco pessoas foram baleadas dentro de uma Kombi. Essa também não é uma realidade exclusiva da Maré, mas de todas as favelas do Rio de Janeiro, onde a militarização da segurança pública elege como inimigos e elimina sumariamente os jovens, negros e pobres. Reivindicamos do governo estadual que realize imediatamente uma mudança de rumos na política de segurança pública. Precisamos de uma segurança pública em defesa da vida, que não seja racista e que não discrimine a população por seu endereço.
Diretoria do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro”.
Pelo menos duas pessoas morreram e outras três resultaram feridas (duas de raspão) durante confronto entre as forças de segurança e supostos marginais, segundo o jornal 'O Globo'. Não há informações se seriam moradores e/ou traficantes. Ao final da marcha, depois das 22h, houve troca de tiros. Moradores informaram ao OPINÓLOGO que bombas de efeito moral e spray de pimenta foram lançados.
Note-se que o protesto em si foi pacífico e legítimo. Em determinado momento, os organizadores pediram aos manifestantes que se sentassem ao chão, na Linha Amarela, para evitar tumulto e a polícia tentasse dispersá-los. Apesar do engarrafamento, o caos começou ao término do evento.
Não é questão de defender ou acusar ninguém. A polícia por si só, como autoridade garantidora da lei e da ordem, já carrega os status de vilã e repressora. No entanto, omitir a culpabilidade de vândalos é um tremendo absurdo. Pois, cidadão de bem não vai a um evento armado. Um carro foi incendiado na ocasião. Tentaram fazer o mesmo a uma cabine policial localizada perto de uma passarela que liga o Morro do Timbau a Vila Pinheiros.
Infelizmente, a barbárie registrada só contribui para aumentar o estigma que o morador de comunidade carrega. O medo e a insegurança são tantos que, tentar pegar um táxi para a região é garantia de constrangimento. Mesmo com a presença da Força de Pacificação, muitos motoristas se recusam a fazê-lo.
A ONG Rede de Desenvolvimento da Maré adiantou mais cedo que a ocupação militar no conjunto de favelas é abordada no relatório anual de direitos humanos da Anistia Internacional. Detalhes ainda não foram divulgados. Este repórter aguarda a difusão do mesmo, que está acontecendo numa cerimônia na Universidade Cândido Mendes (Ucam), no Centro do Rio, para então analisá-lo.
Ao que parece, uma operação policial estaria ocorrendo neste momento no Complexo da Maré. Moradores relataram a presença de dois helicópteros sobrevoando a região, além de tiros.
Outra reportagem de 'O Globo' informou que a região terá cinco Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). São 16 comunidades e mais de 130 mil habitantes. Atualmente, está em processo de pacificação.
O aparente clima de segurança – com a presença de militares – foi necessário para garantir a tranquilidade de turistas que vieram para a Copa do Mundo de 2014. E continuará sendo, pelo menos até 2016, quando acontecerão os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. O conjunto de comunidades está situado entre as três vias expressas que ligam o Centro ao Aeroporto Internacional Tom Jobim: Avenida Brasil e linhas Amarela e Vermelha.
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