Superbactérias encontradas em praia do Rio são as primeiras a chegar para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016

Segunda-feira, 22 de dezembro de 2014 Riscos Pode-se dizer que as superbactérias resistentes a antibióticos, produtoras da enzima K...

Segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Riscos

Pode-se dizer que as superbactérias resistentes a antibióticos, produtoras da enzima KPC, são as primeiras a chegar para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, na 'Cidade Maravilhosa'. Elas foram encontradas recentemente por cientistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) no rio Carioca, cujas águas foram coletadas em três pontos da Zona Sul do Rio: no Largo do Boticário, no bairro do Cosme Velho; no Aterro do Flamengo, antes da estação de tratamento do rio; e na foz do rio Carioca, que deságua na praia do Flamengo.

A praia supracitada é frequentada por banhistas e fica perto da Marina da Glória, onde serão realizadas competições como vela e windsurf para os jogos de 2016. Esse tipo de bactéria é comumente detectada em ambientes hospitalares.

“Mergulhar num rio onde há bactérias produtoras de KPC é como mergulhar em qualquer rio poluído. Existe o risco de contrair doenças, que não são mais graves do que as causadas por outros micro-organismos. O problema é que, no caso de uma eventual infecção, é possível que o tratamento exija uma abordagem de internação hospitalar”, explicou a pesquisadora do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC, Ana Paula D'Alincourt Carvalho Asseff.

Ainda, segundo a cientista, as doenças causadas por esses micro-organismos são similares às provocadas por bactérias comuns. Contudo, os antibióticos precisam ser mais potentes, uma vez que os médicos teriam de recorrer a drogas em desuso como a polimixina, por serem tóxicas ao organismo.

Outro risco apresentado pelos cientistas é o risco de as bactérias transferirem genes de resistência a outras encontradas no meio ambiente. “Os genes que estão associados à resistência aos antibióticos podem estar localizados em elementos móveis dentro das bactérias, que podem ser multiplicados e transferidos para outros micro-organismos. Fazendo uma analogia, é como se as bactérias trocassem figurinhas de mecanismos de resistência. Assim, a água pode se tornar uma biblioteca destes genes”, complementou o estudante de mestrado em Biologia Celular e Molecular do IOC Carlos Felipe Machado de Araújo.

“É possível que as bactérias tenham sido encontradas na chegada do rio à praia do Flamengo porque conseguiram sobreviver ao tratamento realizado ou porque não houve tratamento da água naquele determinado momento”, argumentou Carlos Felipe Araújo.

As superbactérias encontradas no rio Carioca são classificadas como enterobactérias, que pertencem a uma família que reúne micro-organismos encontrados com certa frequência no intestino e, transitoriamente, sobre peles e mucosas. Em determinadas pessoas, poderiam provocar pneumonia e infecções gastrointestinais e urinárias.

“Até o momento, não houve registro de contaminação entre frequentadores dos ambientes estudados. Ainda assim, os resultados da pesquisa foram enviados para as autoridades competentes, que podem avaliar as medidas a serem adotadas”, lembrou a pesquisadora Ana Paula Asseff.

Superbactérias não são resistentes à água salgada e à luz do sol, diz Inea

Em nota, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), órgão vinculado ao governo fluminense, informou que as bactérias produtoras do KPC não representam risco aos banhistas. “É importante que as pessoas acompanhem e sigam a recomendação do Inea em relação às praias e evitem as que estão impróprias. A bactéria KPC é agressiva em hospitais, mas não resiste à água salgada e à luz do sol”, enfatizou a presidente do órgão, Isaura Frega.

“Ela não é perigosa para a saúde das pessoas com sistema imunológico íntegro”, sustentou a bioquímica e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Renata Cristina Picão. Desde 2013, o Instituto e a instituição de ensino superior monitoram essas superbactérias.

O Inea disse que faz um 'rigoroso monitoramento das condições de balneabilidade das praias' com a divulgação de boletins duas vezes por semana sobre as praias da Zona Oeste à Zona Sul da cidade. A praia do Flamengo foi considerada imprópria em 70% dos alertas feitos em 2014.

A descoberta em território tupiniquim

Em 2010, o Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC chegou a publicar um artigo científico, o qual relatava a presença de bactérias produtoras de KPC no esgoto hospitalar carioca, mesmo após o tratamento. Há um ano, por exemplo, a UFRJ havia comunicado a detecção dessas superbactérias nas praias vizinhas do Flamengo e de Botafogo durante uma edição Congresso Brasileiro de Microbiologia.

A primeira detecção das bactérias KPC foi em 2006, nos Estados. Desde então, tendo se espalhado para hospitais de todo o mundo. Mas, até hoje nunca houve casos de infecções registradas fora do ambiente hospitalar, reforçou o Instituto Oswaldo Cruz.

“Nos anos 1980, surgiram nos hospitais bactérias produtoras de enzimas chamadas ESBLs, que as tornavam resistentes a diversos antibióticos. Após se disseminar em unidades de saúde, micro-organismos carreando este mecanismo de resistência chegaram à população em geral, causando infecções comunitárias, e hoje são encontrados até mesmo em animais silvestres. Para combater as bactérias produtoras de ESBL, tivemos que usar antibióticos da classe dos carbapenemas. Então, surgiram as bactérias produtoras de KPC, que são resistentes a estas drogas. O receio é que essa forma de resistência também saia dos hospitais para a comunidade”, comentou a pesquisadora do IOC Ana Paula Asseff.

Os eventos esportivos começam no dia 5 de agosto de 2016.