Quinta-feira, 09 de outubro de 2014 Nota do Psol fala em votar ‘livremente’, mas de cara veta à militância o apoio a Aécio Neves. C...
Quinta-feira, 09 de outubro de 2014
Nota do Psol fala em votar ‘livremente’, mas de cara veta à militância o apoio a Aécio Neves.
Coerência e política são duas coisas que nem sempre combinam. Da mesma forma que socialismo e liberdade. Ambos funcionam muito bem na teoria e até alegam andar de mãos dadas, mas na prática o buraco é bem mais embaixo. Prova disso é a pseudoneutralidade do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) no segundo turno das eleições deste ano, numa nota que morde e assopra. Segue o texto na íntegra:
“POSIÇÃO DO PSOL NO SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES DE 2014
SEGUIR LUTANDO PARA MUDAR O BRASIL
Dilma não nos representa. Nenhum voto em Aécio.
O PSOL cresceu nas eleições de 2014. Dobramos nossa votação em relação a 2010, num cenário ainda mais difícil. Agradecemos a cada um dos 1.612.186 eleitores que destinaram seu voto ao fortalecimento das bandeiras que defendemos durante a campanha eleitoral. Conseguimos dobrar a representação parlamentar do PSOL, que alcançou cinco deputados federais e doze deputados estaduais. Essas bancadas farão a diferença nos seus estados e no Congresso Nacional na luta por mais direitos. Nosso projeto sai fortalecido das urnas, conquistando o quarto lugar em uma eleição marcada pela desigualdade da cobertura da imprensa, dos erros das pesquisas, do impacto do poder econômico e do desequilíbrio no tempo de televisão. Nada disso teria sido possível sem a militância do PSOL, que fez a diferença e conquistou, com muita dedicação, esse expressivo resultado.
Cumprimos o nosso papel, apresentando a melhor candidata e a melhor proposta para o Brasil. Luciana Genro constituiu-se como a principal referência da esquerda coerente e este é um enorme patrimônio de todo o PSOL. O programa que defendemos é o programa necessário para que se avance em direção a um Brasil justo e igualitário, livre da exploração e de todos os tipos de opressão. Esta foi nossa principal missão política nestas eleições, e avaliamos que a cumprimos bem.
Um segundo turno, quando não nos sentimos representados nele, é muitas vezes mais do veto que do voto. Entendemos que Aécio Neves, o seu PSDB e aliados são os representantes mais diretos dos interesses da classe dominante e do imperialismo na América Latina. O jeito tucano de governar, baseado na defesa das elites econômicas e nas privatizações, com a corrupção daí decorrente, significa um verdadeiro retrocesso. A criminalização das mobilizações populares e dos pobres empreendida pelos governos tucanos, em especial o de Alckmin, nos coloca em oposição frontal ao projeto do PSDB e aliados de direita. Assim, recomendamos que os eleitores do PSOL não votem em Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais. Não é cabível qualquer apoio de nossos filiados à sua candidatura.
A provável capitulação de Marina Silva à candidatura tucana demonstra a sua incapacidade de representar legitimamente o desejo de mudanças expresso nas ruas e comprova que a “nova política” não pode ser um atributo daqueles que aderem tão rapidamente ao retrocesso.
É preciso também afirmar que, diante do que foi o seu governo e sua campanha eleitoral, Dilma está distante do desejo de mudanças que tomou as ruas no ano passado. Seu governo atuou contra as bandeiras mais destacadas de nossa campanha, como a taxação das grandes fortunas, a revolução tributária que taxe os mais os ricos e menos os trabalhadores, a auditoria da dívida pública, contra a terceirização e a precarização das relações de trabalho, fim do fator previdenciário, a criminalização da homofobia e a defesa do casamento civil igualitário, uma nova política de segurança pública que acabe com a “guerra às drogas” e defenda os direitos humanos, a democratização radical dos meios de comunicação, o controle público sobre nossas riquezas naturais, os direitos das mulheres, a reforma urbana, a reforma agrária e a urgentíssima reforma política, que tire a degeneração do poder do dinheiro nas eleições, reiterado neste pleito, mais uma vez. Por tudo isso, se Dilma vencer o segundo turno, o PSOL seguirá como oposição de esquerda e lutando pelas bandeiras que sempre defendemos, inclusive durante a campanha eleitoral.
A partir destas considerações, o PSOL orienta seus militantes a tomarem livremente sua decisão dentro dos marcos desta Resolução, conscientes do significado sobre o voto no segundo turno, dia 26 de outubro, e agradece mais uma vez a todos o(a)s seus/suas eleitore(a)s e apoiadore(a)s pela confiança recebida nestas eleições.
PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE – PSOL
São Paulo, 8 de outubro de 2014”.
Logo no início da nota diz que ‘Dilma não nos representa. Nenhum voto em Aécio’. E no final recomenda à militância a votar ‘livremente’. Todavia, quando sugere nenhum voto a Aécio (PSDB), já anula toda a neutralidade que tenta aparentar e traz à tona o velho jogo da polarização entre esquerda e direita. Embora afirme que Dilma Rousseff (PT) esteja distante do tal desejo de mudanças das ruas, não faz qualquer tipo de imposição em relação a ela.
Antes de continuar, é preciso esclarecer aqui, que não é objetivo aqui ficar defendendo PT, PSDB, PSOL, PSB ou qualquer partido ou candidato que seja.
Ademais, critica a candidata derrotada Marina Silva (PSB) por dar um possível apoio a Aécio Neves, ao considerar um ‘retrocesso’ e alegar sua suposta incapacidade de entender o tal desejo das ruas. Vale-se da premissa que os anseios da população foram manifestados nas urnas no último domingo (5/10), que lhe disseram ‘não’. Cerca de 22 de milhões de pessoas votaram nela, isto é, o equivalente a 21,32% dos votos válidos. Não é novidade para ninguém, que a ex-senadora deixou o Partido dos Trabalhadores (PT) por supostas divergências e descontentamento. O discurso conotativo do PSOL é o de apelar para uma suposta coerência, de que por Marina ser de esquerda, poderia, por exemplo, também dizer ‘não’ ao tucano, mesmo ficando em cima do muro para não criar obstáculos à reeleição de Dilma Rousseff. Marina teria sido mais incoerente se declarasse apoio a quem tanto criticou nos debates somente para manter-se fiel à sua ideologia.
E se Marina estivesse apoiando a atual mandatária??? O discurso de direita seria que ela ‘nunca enganou ninguém’, de que era uma petista disfarçada que não conseguiu se desligar de verdade desse passado.
O fato de Dilma Rousseff não ter sido reeleita no primeiro turno é uma resposta ao PT. Aliás, ninguém ter chegado próximo aos 50% dos votos válidos é um claro sinal de insatisfação da população com a atual política e politicagem. A candidata petista teve cerca de 43,3 milhões de votos, ou seja, 41,59% dos votos válidos, enquanto o senador mineiro, 34,9 milhões de votos, isto é, 33,5% dos votos válidos. Inclusive, a votação que a candidata psolista Luciana Genro teve para a Presidência da República é uma expressão das ruas, apenas 1,6 milhão de votos ou 1,55% dos votos válidos.
Verdade seja dita: o eleitor está tendo que escolher o menos pior, quer seja a nível nacional ou a nível estadual, por falta de melhores opções. O que se nota é uma tentativa de generalização do eleitor e de apropriação do universo das ruas como sendo a totalidade do eleitorado para um país com quase 200 milhões de habitantes, quando no máximo 1% disso saiu do sofá e não bancou um 'couch potato'.
A nota-conselho também criticou a atuação do governo de Geraldo Alckmin por supostamente criminalizar as manifestações. Apesar de não fazer nenhuma menção explícita, para bom entendedor, um pingo é letra. Refere-se à atuação da Polícia Militar, durante a onda de protestos que tomou conta do país em junho do ano passado, para conter os atos de vandalismos que tentam-se ignorar, da mesma forma que ignoram as ditaduras cubana e venezuelana ou os crimes contra cristãos cometidos por governos islâmicos, por exemplo. A democracia está nos olhos de quem vê, e ‘pimenta no olho dos outros é refresco’, já diz o ditado.
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