UniverCidade: nota zero em comportamento

Sábado, 01 de março de 2014 Informação atualizada em 02/03/2014, às 12h40 Grupo gestor descumpre prazo de entrega de documentos e o prorro...

Sábado, 01 de março de 2014

Informação atualizada em 02/03/2014, às 12h40

Grupo gestor descumpre prazo de entrega de documentos e o prorroga até o dia 10/3; na Gama Filho, só 'Deus sabe quando' terá início.

Imagem: OPINÓLOGO / Diego Francisco

Nem nas manifestações contra a crise
da IES havia tanta gente assim

Se fosse possível atribuir uma nota por mau comportamento a uma instituição de ensino superior (IES), o Centro Universitário da Cidade (UniverCidade), no Rio de Janeiro, seria um forte candidato, com zero, é claro. Além de não ter conseguido cumprir com grande parte da entrega da documentação de alunos e ex-alunos até essa sexta-feira (28/2) – prazo determinado pela Justiça fluminense –, continua prejudicando a vida acadêmica dos poucos que receberam o histórico, sem generalizar. Esse é o caso de estudantes do curso de Direito, que foram reprovados por falta na disciplina Núcleo de Prática Jurídica (NPJ), porque suas horas de atividades não foram lançadas no sistema. A situação também se estende a discentes de alguns outros cursos, que se juntaram e formularam uma queixa na Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPE-RJ) e numa delegacia de Polícia próxima. Colocaram em prática o que aprenderam em sala de aula.

Entrega dos documentos

Imagem: OPINÓLOGO / Diego Francisco

O cansaço venceu a paciência

Pelo menos mil e 200 pessoas compareceram ao que seria o último dia de entrega no campus Gonçalves Dias (fotos), no Centro, para tentar pegar histórico, ementa e certificado de conclusão de curso. Por volta das 9h30, uma pessoa estava recebendo a senha de número 900. A distribuição foi feita por seus pares, para evitar que alguém tentasse furar fila que dava volta ao quarteirão. O primeiro teria chegado por volta de 1h30 da manhã para esperar pelo atendimento previsto das 9h às 18h, mas que só começou por volta das 11h. Gente que nunca compareceu a uma manifestação que fosse nos últimos dois anos por 'falta' de tempo, conseguiu arranjá-lo para passar a madrugada e a metade da tarde.

Imagem: OPINÓLOGO / Diego Francisco

Fila para assinar histórico

O sucesso do atendimento do último dia se deveu aos mais de 30 estudantes, que ocuparam o prédio na noite anterior (27), que se voluntariaram para ajudar aos cinco ou seis funcionários administrativos na entrega da papelada acadêmica. Sozinhos e com tanto papel, estes não teriam dado conta. Pelo menos dez salas foram ocupadas, em dois andares, e distribuídas por graduações para facilitar a entrega. Foi criada uma espécie de força-tarefa para controlar o acesso ao local – que estava com as portas fechadas para evitar tumulto – e fazer a entrega do material.

Como se não bastasse o estresse da rua, pelo fato de alguns discentes se recusarem a entrar na fila como todo mundo e pegar senha, só havia um ou dois funcionários para carimbar e assinar o histórico. Um deles com lotação na unidade Praça Onze, outro, no Recreio. Todas essas duas foram extintas há mais de um ano. Depois de enfrentar fila para entrar no edifício e na sala para a retirada do histórico, o aluno tinha que se dirigir a uma terceira, para que tivesse o documento carimbado e assinado.

Os poucos funcionários presentes afirmam que estão trabalhando de forma voluntária. Portanto, não se pode nem exigir tanto deles, já que não recebem salário desde setembro do ano passado. No entanto, há rumores de que supostamente teriam aceitado trabalhar por uma diária de R$ 60, sem passagem de ônibus nem um vale para almoçar.

Entrega prorrogada

Imagem: OPINÓLOGO / Diego Francisco

Madrugou para ser um
dos primeiros

Ao longo do dia, esses empregados ficaram sabendo que o prazo de entrega teria sido prorrogado pelo grupo Galileo Educacional. Haverá expediente nos dias 6, 7 e 10 de março, logo após o carnaval, e na mesma faixa horária. Ao que parece, essa mantenedora teria enviado novo comunicado a determinados veículos da imprensa, informando que os alunos poderiam buscar os documentos nessas datas, e que tal decisão foi tomada para não prejudicá-los. Mais??? Eles estão sendo prejudicados mais do que o suficiente.

Estavam à disposição certificado de conclusão de curso para os formandos do segundo semestre de 2013, ementas de algumas graduações e histórico. Para quem já se graduou entre 2010 e o primeiro semestre do ano passado, ainda é uma incógnita. Não há qualquer informação ou previsão. Na Universidade Gama Filho (UGF) – pertencente ao mesmo grupo empresarial – sequer foi divulgado um cronograma.

Imagem: OPINÓLOGO / Diego Francisco

Aluna recebendo documentos

Alguns discentes voluntários informaram aos demais do lado de fora de que a documentação, supostamente, estaria sendo impressa no campus Piedade, da UGF, e que chegaria um carregamento com mais papelada.

Transferência assistida

Recentemente, o Ministério da Educação (MEC) determinou que as IES vencedoras do consórcio Rio Universitário, da Política de Transferência Assistida (PTA), matriculassem os estudantes da UniverCidade e da Gama Filho – descredenciadas em janeiro último –, mesmo sem o histórico. Pois, elas teriam dados relevantes sobre suas atividades em sala de aula.

O MEC informou que solicitaria ao grupo Galileo Educacional a entrega do acervo acadêmico de todos os alunos e ex-alunos às instituições vencedoras. São elas: as universidades Estácio de Sá (Unesa) e Veiga de Almeida (UVA) e a Faculdade de Tecnologia do Senac RJ (Fatec).

Quanto mais demoram a receber a documentação, mais se tornam 'reféns' para que sejam induzidos a aceitarem a transferência assistida, tendo em vista que as demais concorrentes que não participaram da PTA não esperarão por tanto tempo até que os estudantes a consigam. Ninguém é obrigado a aderi-la. E caso, a rejeite, o MEC deixa de ter qualquer tipo de responsabilidade sobre o aproveitamento de disciplinas, manutenção de bolsas, valores de mensalidade etc.

Sem nenhuma explicação plausível, os portais da UniverCidade e da UGF estão fora do ar há mais de uma semana. Se estivessem em funcionamento, os discentes poderiam imprimir uma cópia – não oficial – com toda a grade curricular e levar para outra IES.

Ocupação do campus Gonçalves Dias

Imagem: OPINÓLOGO / Diego Francisco

Marcas de vandalismo na parede

A ocupação do campus Gonçalves Dias pelos estudantes da UniverCidade durou cerca de 23 horas e contou com a presença da União Nacional dos Estudantes (UNE). A mesma se iniciou por volta das 19h da última quinta-feira (27) e encerrada às 18h do dia seguinte (28). Houve uma suposta tentativa de infiltração ao movimento por parte de baderneiros com a pichação em paredes (foto 6). Algumas destas chegaram a ser limpas pelos alunos, que protestaram contra esse vandalismo.

MEC homologa transferência de Medicina para a Estácio

Em portaria publicada no Diário Oficial da União (DOU), dessa sexta-feira (28), o MEC confirmou que a Estácio está herdando os mais de dois mil alunos do curso de Medicina da Gama Filho. O órgão já havia antecipado que a instituição tinha sido selecionada previamente, porém faltavam algumas visitas às instalações para concluir o processo. Como se sabe, essa IES venceu praticamente sem concorrentes, porque uma delas era de Campos, a 300 km da capital, a outra, de Valença, a 150 km. Do ponto de vista lógico, ninguém sairia do Rio para estudar tão longe.

A matrícula para os alunos de Medicina está prevista para ocorrer entre os dias 10 e 31 deste mês. E as aulas, em 24 do mesmo mês. No entanto, é preciso esperar que a Estácio divulgue o cronograma, já que os discentes serão divididos em grupos para a inscrição, segundo o Centro Acadêmico de Medicina da UGF (Camed).

Já os alunos dos demais cursos da UGF e da UniverCidade, que se matricularem até o dia 14 deste mês, poderão iniciar as aulas neste primeiro semestre de 2014. A partir dessa data, somente no segundo. O prazo para manifestar interesse na PTA é até o dia 24 de agosto próximo.

Contratação de empregados

A Unesa teria se comprometido a contratar 150 professores do curso de Medicina da UGF mais 15 funcionários administrativos em cumprimento do edital número 3/2014 da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres), que é vinculada ao MEC. Já o consórcio pretende contratar juntos 50 docentes da UniverCidade mais 50 da Gama Filho, conforme sugerido dos editais 1/2014 e 2/2014, respectivamente.

No último dia 25 de fevereiro, o presidente do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região (Sinpro-Rio), Wanderley Quêdo, se reuniu com representantes do consórcio Rio Universitário para discutir a contratação de docentes da UniverCidade e UGF. Pois, o aumento do número de vagas em vestibulares está condicionado a novas contratações, conforme estabelecido pelo MEC.

Federalização

 Imagem: OPINÓLOGO / Diego Francisco

Uma das salas de entrega

E assim vai por 'água abaixo' o sonho dos estudantes das duas IES descredenciadas de serem federalizadas. Para o MEC, não haveria amparo constitucional para a contratação de 2.600 funcionários (1.600 docentes mais mil técnico-administrativos) sem concurso público.

“Não existe qualquer amparo constitucional e legal para a contratação dos cerca de 1.600 professores e aproximadamente mil técnicos-administrativos das instituições sem concurso público. Não reconhecemos base jurídica para que cerca de12 mil estudantes da Gama Filho e Univercidade possam ingressar em qualquer universidade pública desconsiderando o processo seletivo em curso, o Sisu, que teve mais de 2,5 milhões de inscritos no Brasil, sendo 479.496 nas universidades públicas do Rio de Janeiro. Considerando ainda que em todas as instituições públicas do Rio de Janeiro foram oferecidas 16.740 vagas. O MEC, em conjunto com a Procuradoria Federal de Direito de do Cidadão, está encaminhando a transferência assistida por meio de edital público, com acompanhamento dos estudantes, pais e comunidade acadêmica. Seis propostas foram acolhidas. Para que com esse trabalho responsável e com respaldo jurídico, na retomada do ano letivo, os estudantes tenham sua situação acadêmica normalizada. Cabe destacar ainda que até o momento, nenhuma proposta foi apresentada na Seres”, manifestou.

A ideia de federalização obteve o apoio de IES federais do Rio de Janeiro, cujo objetivo era transformar o Centro Federal de Educação Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ) em uma universidade, com o aproveitamento do campus Piedade, da Gama Filho.

Imposto de Renda

Caso o grupo Galileo Educacional não entregue em tempo os informes de rendimento dos docentes, para que possam declarar o imposto de renda, o Sinpro-Rio pretende entrar com uma ação judicial.

Na última quarta-feira (26), OPINÓLOGO havia entrado em contato com a Receita Federal para saber como esses profissionais poderiam proceder nesse caso. Mas, até o momento, o órgão não teve a gentileza de retornar.