“O Fantástico Mundo de Eike”

Em entrevista ao portal “Glamurama”, o empresário Eike Batista teria dito que as notícias ruins sobre o Brasil afetam o turismo. Imagem: Di...

Em entrevista ao portal “Glamurama”, o empresário Eike Batista teria dito que as notícias ruins sobre o Brasil afetam o turismo.

Imagem: Divulgação

A vida pode ser bela, quando se inventa
uma realidade ou não se a conhece.

“É dever do jornalista: divulgar os fatos e as informações de interesse público”. Bom, pelo menos é o que diz o inciso II, do Artigo 6°, do reformado Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros pela Federação da categoria (Fenaj), em 2007. E em virtude disso, fica a seguinte pergunta: que tipo de informação pode ser considerada de interesse público?: Política? Esporte? Turismo? Cultura? Vida de celebridades? Saúde? Educação? Temas cotidianos? Ao que parece, a resposta é muito simples e está na cara: tudo isso e muito mais, e que possa oferecer um interesse regional, nacional e/ou até mesmo global. Já que o papel social da imprensa “livre” é o de informar os acontecimentos, independente de que sejam positivos ou negativos e/ou sobre quem quer que seja, desse modo, atuando com uma aparente imparcialidade e transparência.

Considerando que um meio de comunicação sério – TV, rádio, impresso e internet – é formado por jornalistas, subentende-se que tal atribuição também se estende ao trabalho exercido. “Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”. É o que assegura o Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, das Nações Unidas (ONU), de 1948. A partir disso aqui, segue outra pergunta: o que Você gostaria de assistir na TV?: Filmes? Novelas? Seriados? Programas de entretenimento? Noticiários? Focando especificamente nesta última atração, que tipo de fatos Você gostaria que fossem mostrados?

É bem provável que muitos leitores digam que não gostam de assistir a violência cotidiana exibida nas telas, por causa dos filhos e porque certas cenas são chocantes. No entanto, não informá-la seria um desserviço, ou simplesmente uma omissão de uma realidade que, muitas vezes, ocorre perto de sua vizinhança, e que Você, por confiar na credibilidade da imprensa, espera que seja dita. Pois, é uma prestação de contas com a sociedade que busca a “verdade” acima de tudo.

Uma entrevista do empresário Eike Batista, publicada pelo site “Glamurama”, nesta terça-feira (4/9), sobre seu suposto desejo de um dia comprar o SBT, de Sílvio Santos, chamou atenção por causa dos seguintes detalhes: “Gosto dos programas sobre saúde, documentários e educação”, disse o milionário, que complementou, quando lhe foi perguntado sobre a audiência: “A vida pra mim é cor de rosa. É assim que tem que ser. Los Angeles é uma cidade muito perigosa, mas só lembramos do glamour e do tapete vermelho quando falamos sobre ela. Conheço a turma lá fora e sei que as notícias que dão sobre o Brasil, por exemplo, afastam os turistas. Isso não é bom para o desenvolvimento do país”, completou.

A vida de Eike Batista pode ser “cor de rosas”. Pois, com a grana que tem fica bem mais fácil!!! Contudo, não é a da maioria dos brasileiros que precisa acordar muito cedo para trabalhar e tem que lidar diariamente com descasos em segurança, saúde, educação, péssimos sistemas de transporte e tantos outros problemas. Não narrar a dura e crua realidade brasileira – apenas para não afetar o turismo –, focando somente em boas notícias, seria o mesmo que omitir os fatos. Com isso, uma emissora deixaria, supostamente, de servir aos interesses da população para atender aos dos políticos, que em período eleitoral – especialmente os que concorrem à reeleição –, por exemplo, tentam exibir um mundo “maravilhoso”, quando difere do que se presencia no dia a dia. Além do mais, seria um comprometimento à democracia. A divulgação de fatos ruins é um instrumento de cobrança para exigir que o Poder Público tome as providências necessárias. Portanto, entre assistir ao “Fantástico Mundo de Eike” e às tragédias do momento, vale à pena a última opção, porque ao menos se tem a sensação de que não está sendo “iludido”.